TERGIVERSAR NÃO RESOLVE.
As discussões acerca da eliminação de alíquota de 2% do ISSQN, de modo a favorecer os empresários do transporte público em Belo Horizonte, além de inadmissíveis por parte da sociedade, se revelam despropositadas para uma simples redução do preço das passagens de ônibus, mesmo porque, segundo alguns economistas, isto significaria uma perda de arrecadação em torno de R$25 milhões por ano, resultando em diminuição de serviços básicos como saúde e educação.
Estas "ponderações" do poder público municipal não são e não serão aceitas pela população, uma vez que jogam por terra justamente as demandas mais severas das manifestações das ruas, quando, sequer, a administração municipal se dá ao trabalho de apresentar as margens de lucros das empresas concessionárias do serviço. Daí a necessidade de auditoria nos balanços, planilhas, demonstrativos de receitas e despesas do setor.
Em um momento absolutamente impróprio para
tergiversações, a Prefeitura de Belo Horizonte e a Câmara Municipal se
atropelam em busca de explicações para a existência ou não das planilhas que
levam à definição dos reais preços das tarifas do transporte coletivo na
capital. Acontece, que esta não é a hora de decisões lentas ou de tergiversar a
respeito de questões sociais urgentes.
A exemplo de muitas administrações municipais país
afora, pressionadas pelas vozes enérgicas das ruas, onde o povo é o
protagonista de manifestações cívicas intensas, a atitude da PBH deveria ser no
sentido de atender as reivindicações justas da sociedade que protesta. Sem
protelações.
As múltiplas motivações que levaram milhares de
pessoas às vias públicas, vão muito além das passagens de ônibus, posto que
mergulham fundo na insatisfação popular contra a corrupção, contra o gasto
bilionário com reformas de estádios de futebol, contra o desperdício de
dinheiro público, contra a improbidade administrativa e contra todos os
absurdos impingidos aos cidadãos ao longo de anos de degradação política.
A sociedade enxerga nos protestos uma forma
legítima da liberdade de expressão dos cidadãos, apoia as manifestações e dá
seu aval aos apelos sociais justos, mas afasta com a mesma intensidade os
procedimentos violentos da polícia contra os manifestantes e os atos de
vandalismos cometidos por poucos.
Quando a coletividade não é escutada nos seus mais
lídimos direitos, é natural que se manifeste, que peça por reparações sociais,
que reivindique por melhorias de qualidade de vida e que exija por respeito à
cidadania. Os interesses difusos e coletivos devem ser avaliados e os
requerimentos da sociedade deferidos na proporção da valia e da necessidade, o
que se revela emergencial no presente momento.
Por obediência à Constituição, que se mantenha
intocável o direito da população protestar pacificamente, e que, por outro
lado, os governantes exerçam suas funções institucionais com equilíbrio,
atendendo de imediato as justas reivindicações da população, inclusive,
garantindo a todos o direito à livre manifestação.
A expectativa dos brasileiros por soluções
imediatas de muitos problemas permanece ativa. A resposta do governo não pode
tardar, sob pena de o povo voltar às ruas, em massa, e desta vez com muito
menos paciência. A seriedade e o respeito devem ser o preâmbulo de todas as
iniciativas governamentais. O tempo é curto e as providências devem ser
rápidas. A Constituição é bastante para que se compreenda o que o povo quer.
Basta vontade e ação.
Portanto, que não haja afronta ao Estado
Democrático de Direito, que a ordem jurídica se mantenha intacta, que a
democracia saia fortalecida e que a harmonia social seja alcançada, a bem da
preservação dos direitos e das garantias dos cidadãos. O povo foi muito claro e
direto no seu clamor e, desta mesma forma, deve ser a atitude do governo -
clara, direta e transparente.
Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de
Defesa da Cidadania e dos Interesses Difusos e Coletivos da Sociedade, da
OAB/MG).
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