ADVOCACIA SOLIDÁRIA.

Há poucos dias encontrei nos corredores do Fórum, um amigo e colega advogado, que após elogiar o blog Direito de Opinião de minha autoria, pediu-me que escrevesse a respeito da pouca solidariedade dos advogados mais experientes com os advogados recém formados.

Pensei por algum tempo sobre o que ele me dissera e concluí que deveras procedia sua reclamação, ainda mais se vista pelo lado da busca imediata de aprendizado daquele que sai da Faculdade e mergulha nas águas revoltas dos trâmites processuais do nosso judiciário.

Acredito que haveria de ser mais cordial a relação entre os advogados com larga experiência e os advogados que estão iniciando a carreira jurídica, pelo simples fato de que aqueles também aprenderam com alguém e estes merecem conhecer o caminho legal da prática forense.

É bem verdade que tradicionalmente o advogado brasileiro não exerce muito a filantropia, haja vista os mutirões de solidariedade formados por alguns tribunais e até pela OAB, sem muito resultado positivo. Com isto, padece de humanidade muitas causas de muitos cidadãos pobres no sentido elástico das palavras, que não podem arcar com os ônus da demanda judicial. E, se a defensoria pública não dá conta de atender a todos os necessitados, muitos ficam à beira do caminho, sem direito e sem justiça que os valha.

Muitos são os advogados que do alto de seus conhecimentos específicos têm o prazer de ensinar as peculiaridades do processo e da rotina judiciária aos advogados que os procuram. Por outro lado, muitos são aqueles que se acham importantes e desmerecem a pesquisa de conhecimento dos advogados calouros.

Com a devida venia, os advogados experientes e excelentemente tarimbados não têm nada a perder quando se propõem a um ato de solidariedade e orientam os colegas novatos nos procedimentos legais dos atos processuais - da matéria teórica aos arrazoados mais bem elaborados, do rigor técnico das peças à profundidade da fundamentação e assim sucessivamente.

É lamentável que alguns profissionais não saibam entender o valor, o sentido, o significado das palavras de quem muito sabe para aqueles que querem aprender.

A prática judiciária é muito dinâmica, exigindo sempre muita atenção e conhecimento. A atenção deve ser exercitada diligentemente pelos advogados novatos e o conhecimento deve ser batalhado nas doutrinas, nos códigos, nas leis, nas jurisprudências e principalmente nas lições dos advogados com mais experiência na profissão, desde que solícitos e educados.

Ao meu amigo e colega advogado que estava verdadeiramente chateado com a pouca solidariedade de alguns advogados veteranos, recomendo-lhe conversar com maior assiduidade com advogados novatos também, pois estes aprendem com outros e os outros aprenderam com muitos outros, que aprenderam com tantos outros e assim por diante.

Saiba o meu nobre amigo e colega advogado, recém formado, que a vida é assim, cheia de percalços, mas nenhum impossível de ser transposto. Insista na briga pelo seu espaço e com certeza este já está reservado para você. Conte comigo, dentro do pouco que sei, mas que a todo instante procuro somar mais e este plus eu divido com quem queira aprender comigo.

Então, caro amigo e colega advogado, não desista só porque alguns barraram por segundos o seu caminho.

E quer saber? : avance na realização de seu sonho profissional, porque os seus conhecimentos virão e depende de você a amplitude dos mesmos.

Mas não se esqueça de que amanhã será a você que outros operadores do direito virão na procura do conhecimento e, espero, o caro amigo e colega advogado saiba neste instante ensinar, orientar e mostrar a forma correta de como encaminhar uma questão jurídica.

Uma das maiores autoridades na seara do Direito brasileiro, em todos os tempos, falando sobre a profissão do advogado, Rui Barbosa assim se posicionou: "A profissão de advogado tem, aos nossos olhos, uma dignidade quase sacerdotal. Toda vez que a exercemos com a nossa consciência, consideramos desempenhada a nossa responsabilidade. Empreitada é a dos que contratam vários forenses. Nós nunca endossamos saques sobre a consciência dos tribunais, nunca abrimos banca de vender peles de ursos antes de mortos. Damos aos nossos clientes o nosso juízo com o nosso conselho, a nossa convicção com o nosso zelo; e, depois, quanto ao prognóstico e à responsabilidade temos a nossa condição por igual à do médico honesto, que não conta vitórias antecipadas como os curandeiros, nem se há por desonrado, quando não debela casos fatais [...] não é no bom ou mau êxito dos pleitos que está o critério da honestidade dos litígios, ou o do merecimento dos patronos. No quase meio século que já mede a nossa carreira forense, temos tido, muitas vezes, a honra de perder abraçado com as causas mais justas, mais santas, mais gloriosas, para, anos depois recebermos o consolo dos nossos revezes, vendo laurear os princípios, com que tempos antes havíamos sido esmagados."

Isto posto, nada mais a comentar, mas apenas e sinceramente desejar ao nosso amigo e colega advogado recém formado que pratique a lição deixada pelo genial pensador político, intelectual, constitucionalista e advogado brilhante Rui Barbosa.

Nos encontramos por aí, nos tribunais, nas secretarias, nas audiências, nos escritórios, nas bancas e no eterno cumprimento do dever.

Boa Sorte!






Comentários

  1. Natacha Bernardes disse:
    Linda mensagem Wilson..

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  2. Seu texto nos remete ao entendimento de como ocorrem as relações na sociedade em que vivemos:cultura X educação. Em todas as áreas os profissionais se enfrentam, duelam! Enfatizo que a educação, mola propulsora de uma nação,desenvolveu-nos como pessoas competidoras, potencialmente rivais e individualistas. A ideia fundamental nesse momento de mudança de paradigma é que somos um grupo! E quando estamos com os colegas que compartilham o mesmo objetivo de trabalho, nos sentimos mais seguros e ganhamos força!

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  3. Parabéns pelos pensamentos deste texto. Muito bom.
    Meus cumprimentos e um abraço. Cotiguara Alves

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