O SILENTE SOFRIMENTO DOS MINEIROS.

A carreta que impôs o silêncio aos inocentes e retirou a vida de três pessoas não agiu sozinha, nem apenas pela irresponsabilidade de seu motorista ou de seu proprietário, mas também pela frieza do poder público inoperante.

O trágico acidente que se deu na Avenida Nossa Senhora do Carmo, arrasou canteiros e grades e pior, tirou vidas e deixou feridos. A quarta-feira do dia 06/06/2012 foi de pavor. A zona sul da capital se fechou na tristeza de mais um acontecimento que poderia ter sido evitado se as autoridades públicas envidassem esforços na proteção da sociedade.  

Deixaram por negligência que retirassem das famílias a presença de entes queridos. Agora, a dor, o soluço e as lágrimas não param. A emoção das vozes embargadas é tamanha que o grito de revolta ainda não sai. E os responsáveis pela tragédia pensam que tudo rapidamente será esquecido. Mas a dor não passa e o amor tirado violentamente jamais é apagado, como querem ou pensam alguns, ser isto possível. Não é... Creia!

Tragédias outras já ocorreram nesta via, não deste porte assustador, mas da mesma forma cega aos olhos das autoridades frias e impassíveis com suas falhas incorrigíveis. Os erros se repetem e as desculpas amorais não queimam a face dos detentores do poder público.

Importa sim a quem cabe a culpa, a responsabilidade ou a outra, a irresponsabilidade. Seja da Prefeitura, da BHTrans ou de qualquer outro órgão público municipal, estadual ou federal, custeados, todos, pelo dinheiro suado do contribuinte. Inclusive, daqueles que lamentavelmente se foram.

Os inocentes que partiram, deixaram muitas saudades no peito arrebentado pela dor daqueles que ficaram e, não se pode calar uma sociedade inteira, que da posição em cócoras precisa levantar, do comodismo sair e da indiferença se afastar, na superação do silente sofrimento dos mineiros, mas também na exigência da apuração de responsabilidades.

A omissão e a incúria do poder público são reflexos da ausência de governo, do estereótipo empírico de que "os cães ladram e a caravana passa". Péssima interpretação dos que pensam desta forma, se achando donos do poder, quando apenas estão, por breve momento, na posse dele.

A sociedade vai cobrar esta dívida, que infelizmente não devolverá a vida, mas por certo confortará os corações dos que aqui ficaram para ainda muito chorar o silêncio  e a perda dos inocentes.

As famílias enlutadas não foram procuradas pelo alcaide, que se encontra perdido nas lucubrações políticas de como conciliar a escolha do vice à maioria necessária para (tomara que não) governar por mais quatro anos a cidade verticalizada de seus sonhos. 

A ideia fixa de não se misturar ao povo é um sofisma atávico, muito próprio daqueles que não sabem conviver com a democracia que pregam, posto que nunca a exercitem.

Os descasos somados à propensa inércia do poder público gelam o sangue do eleitor, que por direito cívico vai cobrar nas urnas o tratamento desrespeitoso. Isso é o que se espera de uma sociedade organizada, que além de muito pagar tributos, saiba cobrar pela contrapartida da qualidade dos serviços públicos que privilegiem a vida. E o bem jurídico mais importante do Direito é a VIDA.

A dor não será superada e esse é um direito íntimo. Enquanto persistir a busca pela preponderância da dignidade humana, haverá esperanças para a efetiva aplicação dos direitos assegurados na Constituição. O direito à vida é pressuposto indispensável para aquisição e exercício de todos os demais direitos. 

A vida humana encontra amparo na lei antes mesmo do homem nascer. Indiscutivelmente, o mais relevante e a base dos outros direitos individuais é o direito à vida. O Direito é direito mesmo, efetivamente. Não é concessão, favor ou bondade de quem detém o poder. E como a dor da perda é insuperável, se reforçam os sentimentos de indignação de uma cidade, de um estado e de um país, que pede e chama sempre por ela... JUSTIÇA.

Wilson Campos (Advogado).

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