RIO + 20...ANOS DE EXPECTATIVAS.

A esperança fundada em promessas de proteção ao meio ambiente sustentável é para alguns a última que morre. Todavia, por se tratar de óbvias promessas, sopesadas por mentes políticas, quase sempre pensantes nos interesses individuais de seus países, raramente coletivos, estas se perdem como um grão de arroz lançado em solo improdutivo, árido e pedregoso. E a semente não fecunda. A promessa não se cumpre. A esperança se perde no vento e no tempo. Em contrapartida, as expectativas acalentadas e não consagradas trazem o amargor de uma decepção irremediável.

Em que pese todo o esforço dos inventivos estudantes, brilhantes pesquisadores e iluminados ambientalistas, sérios e por excelência, competentes nas ideias e soluções, prevalecem sempre as mágicas tiradas das cartolas dos líderes políticos que detêm o poder, sempre em nome do progresso que não pode parar. E há muitos que acreditam nesta máxima, custe o que custar.

Os chefes de Estado sempre revisitam os conteúdos anteriores na procura de uma lacuna para inovarem nas questões de sustentabilidade, se esquecendo de que as brechas surgiram pelo fato do não cumprimento de compromisso assumido. Se a reunião internacional de líderes é para a busca de uma solução de sobrevivência menos dolorosa para todos os seres, que o seja no sentido de responsabilidades solidárias e de forma igual para todos.

Os povos quando assistem estas plenárias ambientais, onde os grandes países, poluidores contumazes, priorizam posições políticas em detrimento das soluções ambientais, o pensamento é de pouca crença na boa vontade de todos. O ser humano é assim, meio desconfiado, mas por motivos que saltam aos olhos.

As decepções no trato ambiental variam de povos para povos, onde os estilos de civilização, hábitos e consumos diferem e comprometem a sustentabilidade, com isto causando um círculo vicioso latente na preservação da vida humana. O que se deve buscar coletivamente é a forma de vida sustentável, onde a meta a ser atingida será a harmonia entre as pessoas e a natureza.

A responsabilidade há de ser dividida e não jogada tão somente nos ombros dos chefes de Estado. Os estados e municípios têm de assumir suas respectivas parcelas de responsabilidades, conforme seus peculiares problemas locais. A continuação da aliança global, severa entre todos os países, passa pelos demais entes das federações. A ética de proteção sustentável se aplica tanto na esfera internacional como nas esferas nacional, local e individual. Afinal, todos lucrarão com a vida, pois é esta que está em jogo quando ameaçam a sustentabilidade mundial.  

No entanto, a decepção alhures alegada, que incomoda todos os povos de boa índole, quando os pega de jeito, endurece os seus corações e fecha os seus semblantes, até então sempre cordiais. Mas, justamente por serem humanos, estes seres viventes, quando as promessas se apresentam de novo, em outro plano, vinte anos depois, se enchem de esperanças e torcem - desta vez vai!

Francamente, a Eco 92 não surtiu os efeitos esperados ou quiçá articuladamente prometidos. Ficaram muitas contas a ajustar e a natureza mais uma vez pagou o saldo negativo das sociedades modernas e globalizadas.

A propósito, vinte anos depois  ainda se fala que o desenvolvimento deve se estruturar nas pessoas e em suas comunidades e na conservação da biodiversidade e dos processos naturais que suportam a vida na terra, tais como os que regeneram o solo, purificam o ar e reciclam a água. A redução de gases poluentes, o efeito estufa e os problemas de clima de maneira geral, são temas indispensáveis na pauta decisiva das grandes potências, sem paralelismo, mas objetivamente no cerne da questão.

Existe, certamente, uma diferença abissal entre discutir meio ambiente sustentável e necessidades localizadas das nações, uma vez que os costumes se diferenciam desde o consumo. Os seres humanos, consumistas, contribuem enormemente para a elevação dos níveis de poluição, desperdício de água, devastação florestal e tantos outros males, possíveis de mudança, para tanto, necessária a participação pessoal do ser humano. Ademais, pontual a assertiva de que os recursos naturais são finitos e as demandas infinitas.

É utópico, mas de reparada lembrança: absolutamente impossível corrigir os estragos já encetados pelo homem contra o meio ambiente, haja vista as dificuldades sistêmicas, mas perfeitamente realizável pela sociedade, envidar todos os esforços no sentido de alcançar a sustentabilidade, responsabilizando desde os governos até o cidadão comum, passando pela iniciativa privada, seus respectivos empreendimentos e, de forma ética e civilizada, pelo consequente cumprimento das exigências legais.

Espera-se, de fato, que a Rio + 20 não se transforme, apenas, em mais 20 anos de expectativas.

Wilson Campos (Advogado). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 21/06/2012, quinta-feira, pág. 31).  



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