CASA ONDE FALTA O PÃO, TODOS BRIGAM E NINGUÉM TEM RAZÃO.



A temporada de greves nos setores público e privado já recomeçou. As reivindicações dos trabalhadores são, regra geral, por melhores condições de trabalho e de salário, quiçá por reposições das perdas sofridas ao longo de anos sem reajustes.

Os movimentos grevistas não têm característica única. As paralisações vão desde o judiciário até a iniciativa privada, carregando no bojo multifacetado as cobranças dos servidores municipais, estaduais e federais e dos empregados do comércio, da indústria e da prestação de serviço. Não há quem esteja satisfeito com o salário defasado e os preços em alta constante, além dos juros elevados que abastecem as negociações das instituições financeiras, em detrimento das categorias profissionais de bolsos vazios, cada vez mais dependentes da ajuda extra do cartão de crédito, do cheque especial ou dos empréstimos consignados.

O setor empresarial alega que a crise inviabiliza os investimentos, diminui as vendas, compromete as compras e dificulta a concessão de aumentos salariais, mormente diante da carga pesada de impostos escorchantes, que sobrecarrega o ano inteiro o resultado tributário, econômico e financeiro das empresas.

O setor público, quer seja municipal, estadual ou federal, por sua vez, alega que não tem disponibilidade de caixa para honrar satisfatoriamente as folhas de pagamentos dos servidores e, muito menos, majorar os salários, por menores que sejam os índices da correção salarial pretendida.

Em suma, independentemente do setor, as justificativas são quase sempre semelhantes, o que leva o cidadão a crer que "casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão".

A solução da problemática instaurada está na austeridade governamental, com medidas imediatas de contenção de gastos públicos e adequação da receita, sem entregar as matérias primas brasileiras a preço de banana para o mercado exterior. Da mesma forma, a superação do período de vacas-magras se dará por meio de mudanças drásticas no estilo de vida das autoridades públicas, mal acostumadas a sacrificar o povo quando o dinheiro fica escasso para os seus gastos supérfluos de poder efêmero. A redução drástica dos gastos do setor público é o primeiro e indispensável passo.

Embora não reste ainda ameaçada, a segurança jurídica precisa ser preservada, em que pese a ruína de setores com gestões trapalhonas, a exemplo do ocorrido no setor elétrico, na Petrobras, no BNDES e em outras estatais entregues a pessoas que não têm o mínimo pudor em desmantelar o que demorou décadas para ser construído. As ingerências, as intromissões e os desmandos do governo geraram o quadro aterrorizante em que se encontra a atual economia do país. Os erros precisam ser punidos, rigorosamente.

Enfim, o sossego necessário para arrumar a casa está muito aquém do requerido pelo bom senso, uma vez que o pão é pouco e a fome é grande e, como se sabe, em "casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão".

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

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