DE QUATRO EM QUATRO ANOS, CUIDADO, MUITO CUIDADO.

No decorrer de quatro anos as mazelas sociais acontecem, e o indivíduo não aparece para socorrer as pessoas. Em nenhum momento ele se constrange com as negligências do poder público. Mas depois de quatro anos ele reaparece, ressurge das cinzas e, com sorriso largo, dá tapinhas nas costas dos cidadãos. Claro, estou falando do político bissexto. 

Pobre da gente sofrida do meu Brasil, que, apesar de suas boas intenções, se vê constantemente enganada por esses garimpeiros de votos. Pobre da nação cujas políticas públicas dependam desse tipo de oportunistas e demagogos. Pobre do povo brasileiro, que tem de suportar políticos bissextos, que só aparecem de quatro em quatro anos. 

Acontece, “nobre” candidato, que os tempos são outros, o povo está de olhos e ouvidos bem atentos, suficientes para perceber sua atitude de prometer e não cumprir, de se eleger e não honrar o voto recebido, de mentir e não sentir vergonha alheia. Ademais, o eleitor não aceita mais ser tratado feito gado, e não mais caminha de cabeça baixa, e não mais vive na antessala da desinformação. A internet abriu caminhos para a busca de cidadania e novos horizontes.

Se o político bissexto é como um pastor que abandona seu rebanho - incompetente, irresponsável e improbo -, cabe ao eleitor não admitir que tal indivíduo alcance seu infausto intento de galgar cargos e funções à custa do seu voto. E ainda que o país tenha uma jovem democracia, consolidando aos poucos um referencial político, isso não quer dizer que serão aceitos candidatos que somente apareçam de quatro em quatro anos; que somente carreguem crianças no colo para agradar os pais de quatro em quatro anos; que somente prometam trabalhar por educação, saúde e segurança de quatro em quatro anos; e que, passadas as eleições, desapareçam, eleitos ou não. 

Portanto, caríssimos eleitores, a missão e o papel do político devem ser de representante da sociedade, de combativo defensor das causas comunitárias, de alguém disposto a lutar permanentemente pelas demandas sociais, sejam individuais ou coletivas, e que saiba colocar o interesse público acima dos seus próprios interesses. 

E fica o recado das letras fortes da música do cantor e compositor Eduardo Costa: Só querem nos roubar e nos fazer de palhaços. Depois que estão eleitos, vão morar em seus palácios. São carros importados, aviões e áreas nobres. Somente a fé em Deus é o que ainda resta para os pobres. Cuidado, muito cuidado. Cuidado, que eles passam só de quatro em quatro anos. E o resto desse tempo eles ficam planejando. A festa, o pão e o circo, o feriado e o carnaval. Depois o povo morre em corredor de hospital. Cuidado, muito cuidado. Vendeu. Vendeu o voto e a alma pro diabo. E agora não adianta ficar bravo. É Deus por nós e cada um por si. Pode parar com o choro e mi-mi-mi. Vendeu. Trocou os hospitais pelos estádios. E agora estádios viram hospitais. Você trocou Jesus por Barrabás. Sem mais”.  

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG). 

(Artigo publicado pelo jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 11 de novembro de 2021, pág. 21).

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Comentários

  1. Meire Vânia S. O. Alves11 de novembro de 2021 às 10:40

    Isso é verdade pura e os caras só aparecem de 4 em 4 anos e depois somem do mapa. Não perguntam nem se você está viva ou morta e nem se interessam pelo seu bairro ou pelos seus direitos de pessoa humana. Como disse o advogado dr. Wilson Campos o - político bissexto - é um cara de pau que precisa ser xingado e expulso da porta da sua casa ou do seu bairro quando aparecer para pedir voto e depois sumir como sempre fazem todos. Deus me livre dessa gente. Agradecida doutor. Meire Vânia S. de O. Alves.

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  2. Muito bom o artigo Dr.Wilson e como sempre positivo e ético na definição das coisas que envolvem os bras8leiros e no caso das eleições a coisa é muito séria e precisa ser melhor avaliada e conhecida por todos nós. Não podemos votar nos garimpeiros de votos nem nos demagogos e oportunistas como disse muito bem o dr. Wilson. Devemos escolher melhor para depois não reclamar., Abrs. Sérgio Collem.

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  3. O Brasil só vai melhorar quando o povo votar direito e sem pedir nada de favor. Político é tudo igual e farinha do mesmo saco e só pensa no partido e nele mesmo. O eleitor só é lembrado na campanha eleitoral e depois que se dane. Votar certo é votar sem interesse pessoal e pensando no coletivo. Parabéns Dr. Wilson Campos - CIDADANIA OAB - por mais este excelente artigo. Sempre atual e cheio de brasilidade. At. João César.

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