AGENTE POLÍTICO "NONSENSE".

A revista Veja em sua edição especial "veja BH", de 11/01/2014, dirigida à cidade de Belo Horizonte, publicou uma extensa matéria de valoroso cunho social, onde retrata os bons serviços prestados pelos dirigentes de associações de bairro que lutam para resolver os inúmeros problemas da cidade, incluindo alterações de projetos que afetam os moradores.

Segundo a revista esses dirigentes são determinados, persistentes e estão na linha de frente das discussões com o poder público; executam tarefas ingratas que se assemelham, em escala muito maior, à de um síndico; realizam um trabalho que normalmente ninguém quer e exige um bocado de determinação, principalmente para cobrar respostas; têm disposição para participar de inúmeras reuniões com moradores e autoridades, audiências públicas e passeatas, entre outros compromissos.

Em que pese a excelência da matéria, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento do trabalho social elogiável e cívico das associações de bairro, a revista relata em apertada síntese que  "na prefeitura, há quem veja um uso mal-intencionado, com fins eleitoreiros" a atuação das entidades. Ora, diante de tamanha dedicação por parte das associações, em prol da cidade, diuturnamente, falar de interesses eleitoreiros de dirigentes é, no mínimo, querer a prefeitura se perpetuar no erro e na ignorância, quer seja desrespeitando e desmerecendo o labor de interesse difuso e coletivo ou enveredando de vez por caminhos tortuosos que somente ela conhece.

Em outro ponto a revista frisa que "segundo o secretário municipal adjunto de Planejamento Urbano, Marcelo Faulhaber, os moradores não podem se achar proprietários dos bairros. "Os bairros são da cidade", argumenta. "Todo mundo quer que Belo Horizonte tenha mais centros esportivos, hospitais, casas de shows...desde que não seja no seu bairro". Ora, aqui vai muito mal o senhor secretário, mais uma vez, haja vista a sua já conhecida índole beligerante no trato com as comunidades.

Esse é o mesmo secretário que, costumeiramente, chama os cidadãos de BH de reclamões e profere outros impropérios contra aqueles que discordam de sua conduta e, embora seja um agente político no exercício do munus público, se comporta de forma avessa aos interesses comuns da coletividade.

Interessante observar que o secretário adjunto, talvez por não ser mineiro, insiste nos pronunciamentos lacunosos e cheios de desconhecimento de causa, quase sempre ofensivos no sentir dos cidadãos. Os bairros, senhor secretário, são da cidade, com certeza, mas a cidade é do povo. Quem paga os tributos e demais despesas do município é o contribuinte, é o cidadão, é o povo. Os moradores querem sim centros esportivos e hospitais nos seus bairros, contrariamente ao que afirma o secretário, mas onde estão essas obras? Os centros esportivos e praças estão sistematicamente relegados ao fim da lista administrativa. O único hospital público atualmente em construção no município se arrasta há vários anos sem conclusão no bairro Barreiro. A obra está parada. Ademais, senhor secretário, o progresso é muito bem-vindo, desde que seja com ordem e respeito, qualidade de vida e sustentabilidade e, por uma questão de direito e de justiça, mediante discussão ampla com a sociedade.

Considerando ainda que o secretário seja dito como reincidente em bravatas e dedo em riste contra participante em audiência pública, como ocorrido no Compur, órgão colegiado que desfere derrotas à sociedade com seus votos nada transparentes e distantes da paridade necessária, convém-lhe um pouco mais de educação à mineira, escutando mais e falando menos. Aliás, quem também paga o seu salário, senhor Marcelo Faulhaber, é o contribuinte, o morador, o povo dessa cidade. E lembre-se: para que haja progresso, faz-se necessária a ordem, e para que haja ordem, faz-se necessário o respeito ao povo. 

Data maxima venia, secretário, caso o senhor não goste da população dessa cidade, sinta-se à vontade, saia à francesa, pois a porta da rua é a serventia da casa, mesmo porque, no seu caso, antipovo e sempre arredio às comunidades, o serviço público não lhe cabe.

Isto posto, cumpre elogiar a matéria da revista, pela iniciativa da edição cidadã e pelo louvável mérito das associações de bairros, restando, no entanto, a lamentar, apenas as declarações destacadas do representante do Executivo municipal, pouco afeito à democracia que se deseja ampla, geral e irrestrita.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).


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