NÃO! O REI NÃO ESTÁ NU!

 

Peço venia para discordar, em parte, da narrativa da lenda. No caso do Brasil atual, o rei não está nu. Aqui, nas extensas terras tupiniquins, o rei quer ser dono de tudo – das terras, das águas, do ar, da política, da liberdade e até da verdade que lhe falta. Aqui, o rei anda bem vestido, esnoba luxo e soberba, diz saber de tudo e estar acima de todos. Aqui, o rei se acha mais que um ser iluminado, um “intelectual” que não admite ser contrariado, mas que detesta livros e discrimina o letrado.

A ignorância do rei brasileiro é conhecida nacional e internacionalmente. Sua natureza tirânica surpreende até seus auxiliares. Ele e seus seguidores da bandeira vermelha não suportam a democracia, não aceitam o pluripartidarismo e não admitem a diversidade. O rei está nu de decência, retidão e ética. O rei não está nu de ostentação, autoritarismo e ódio.

A capa que cobre o corpo do rei é invisível para o povo. Apenas ele e seu séquito conseguem enxergar a roupa que ele veste. E ele, impopular e arrogante como sempre, desfila em ambientes fechados, não pode sair às ruas, e por vergonha de si mesmo e da sua roupa costurada com fios de ouro, apenas se ressente quando alguém se atreve a dizer que ele é invisível porque está longe do povo, longe das praças e longe da democracia.   

No Brasil, quem diz que o rei está nu engana-se, porque o rei não está nu. Suas roupas são de grife, ternos bem cortados, sapatos de verniz, gravatas italianas, camisas de algodão egípcio e relógio Piaget de R$ 84 mil. O rei dorme em cama de R$ 42 mil e descansa em sofá de R$ 65 mil. Porém, o rei tupiniquim não gosta de trabalhar e muito menos de administrar o seu reino, e prefere viajar. Mas viaja como ninguém e visita muitos reinos de primeiro mundo, frequenta lugares caríssimos, gasta o que não pode e o resultado é a ridicularização por parte de lideranças mundiais.

Sinceramente, o rei brasileiro parece estar em êxtase e acredita viver uma espécie de monarquia sem coroa, mas com mordomias semelhantes. A ostentação começa pelo número de palácios na capital do reino. Alguns exemplos poderiam ser os nababescos e suntuosos Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada e Palácio do Jaburu. São três luxuosos palácios para tão pequeno governante. E como visto, o rei não está nu, mas o povo está, porque não é nada fácil bancar a pompa palaciana, que destoa dos casebres do restante do reino de “Vossa Majestade”.

Não! O rei não está nu! Ele é bonzinho com seus pares da política partidária recheada de ideologia. Ele distribui verbas para os 513 deputados e os 81 senadores, que usam e abusam das emendas parlamentares bilionárias. Aliás, os nobres parlamentares, com raríssimas exceções, não sentem vergonha das barganhas, dos subsídios e das mordomias à custa do suor do povo e do imposto pago pelo contribuinte. Os “excelentíssimos” parlamentares têm 14º e 15º salários; verba de gabinete; verba indenizatória; auxílio-moradia; cota postal; cota telefônica; passagens aéreas; impressos para promoção pessoal; assinaturas de revistas e jornais; e carro com motorista. Ou seja, a casta do reino não está nua. Não!

Sem deixar escapar as “produtivas e eficientes” instituições do reino, vale observar que todas ao seu redor desfrutam das benesses, do dinheiro, dos jetons, dos privilégios e dos gastos excessivos que oneram e muito os cofres públicos. A gastança é geral. A arrecadação do reino não cobre as despesas dos palácios e das instituições. A saída do rei é mandar aumentar os impostos e taxar sem dó nem piedade a classe média, o trabalhador, a empresa, o contribuinte.

Dessa forma, o rei não pode estar nu, literalmente, uma vez que está coberto de luxo e ainda goza de foro privilegiado. Quem está nu é o povo, que não tem saúde, não tem educação, não tem segurança e em breve não terá mais uma aposentadoria minimamente digna para sobreviver quando a velhice chegar.

Os bajuladores do rei brotam de todos os lados e estão em todos os lugares – na imprensa, no Parlamento, nos partidos políticos, nas empresas dos amigos, nos negócios sem licitação e principalmente onde há relações de poder, centralizado ou hierarquizado, com a costumeira paparicação que causa engulhos nos comuns, mas que revela a subserviência dos apadrinhados e protegidos.

A cultura do paternalismo do rei está assentada nas áreas da elite política e da casta seletiva, que pouco se importam com os 12 milhões de analfabetos. Ah! O rei não gosta de livros nem de letrados. A cultura para ele é a de ganhos fáceis, de enriquecimento sem causa, de gestão fraudulenta e de uso frequente do nepotismo, em larga escala e cada vez mais vinculada ao besteirol de súditos, parentes e familiares. Por essas e outras é que o rei não está nu.

No Brasil, apenas os parvos, os tolos e os estúpidos são conduzidos a acreditar que o rei está nu, ainda que diante da imensa riqueza que ele esbanja aqui e acolá. Ele usa de bravatas e mentiras o tempo todo, todo o tempo, quando lhe é conveniente. O rei tupiniquim gastou a bagatela de R$ 3,3 bilhões em 2023 com hospedagens e passeios mundo afora. O valor é o maior registrado desde 2014 (corrigido pela inflação, porque em reino tupiniquim tem inflação). De forma que esse rei brasileiro não está nu. Não! Não está!

Em um reino tupiniquim, típico de republiqueta fraudulenta, onde poucos têm muito e muitos têm pouco, a distorção social é cruel, de tal forma, que chega a doer. A miserabilidade que bate à porta de milhões de pessoas, jamais chegará perto da cúpula que desfruta das bondades do rei. E coitado daquele que disser o contrário, pois a chibata dos impostos está nos braços fortes dos aniquiladores de pobres e famintos, de trabalhadores e da classe média, de bons empresários e de precavidos investidores. E infeliz daquele que contrariar o rei e seus comandados, seja por comida, por saúde ou por educação. Ao rei apenas interessa a encolha dos crimes, a coleta de impostos e a submissão do povo.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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