QUANDO MENOS É MAIS.

                  "O Plano Diretor de Belo Horizonte".



A desordem urbana de Belo Horizonte estava perdendo apenas para a verticalização irracional, que tinha caminho livre para transformar em realidade a cidade de concreto idealizada pela especulação imobiliária, que opera por meio de práticas de desapego aos valores intrínsecos da cidadania.

O novo Plano Diretor, aprovado na Câmara Municipal no último dia 6 por 35 votos a favor e cinco contra, com certeza não vai resolver todos os problemas da cidade e muito menos equacionar de vez a ocupação ou estabelecer diretrizes irrepreensíveis para o desenvolvimento urbano. No entanto, em que pese ainda não existir um efetivo planejamento urbanístico que agrade a maioria, salta aos olhos da população os freios e contrapesos à produção desordenada de obras autorizadas por pessoas sem a mínima sensibilidade para o que seja desenvolvimento com sustentabilidade, valendo observar, também, que os empreendimentos previstos para os terrenos constituídos de áreas verdes, se efetivados, vão transformar a cidade num polo potencial de calor e poluição, haja vista a desnecessidade do ato estúpido de mutilação das últimas áreas verdes existentes.

Ultrapassada a fase das polêmicas e das controvérsias entre os setores técnico, popular, empresarial e público, é chegada a hora do entendimento em prol da cidade, de forma que as discussões passem por uma tratativa civilizada, que importe em debates proveitosos para os moradores, não se admitindo mais, sob hipótese alguma, remendos na legislação municipal que possam favorecer direta ou indiretamente a desigualdade social que tanto se tenta combater neste país. O desenvolvimento sustentável, a preservação das áreas verdes, o equilíbrio dos ecossistemas, a manutenção dos direitos e garantias, e o atendimento das demandas sociais, são, indiscutivelmente, quesitos pontuais a serem respeitados nas demandas por expansão urbana. 

Nas entrelinhas, o Plano Diretor explica a expressão “menos é mais”, onde as mudanças chegam para todos, denotando um estilo de vida que prega que se tenha apenas o essencial, sem excessos. Uma cidade cheia de prédios altos e luxuosos na Região Centro-Sul não significa sofisticação da sociedade, se nos arredores e na periferia o esgoto corre a céu aberto e os investimentos público e privado nunca aparecem. As edificações amplas e imensas, adornadas com móveis caros e requintados, apenas farão sentido se nelas viverem e conviverem pessoas felizes, e o menos é mais quando e onde o objetivo é valorizar o ser e torná-lo mais importante do que o ter.

Aqueles que pensam que perderam com as alterações do Plano Diretor, saiam da zona de conforto e fiscalizem a administração pública, cobrem os investimentos e procurem novidades no nicho do seu interesse, buscando o equilíbrio e vivendo o caminho do meio, de bem com a sociedade e se valendo de uma vida urbana sustentável e autêntica, com responsabilidade e lealdade aos belo-horizontinos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 16 de junho de 2019, pág. 17).

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Comentários

  1. Genisse A. S. Oliveira de Araújo.19 de junho de 2019 às 16:14

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  2. Genisse A. S. Oliveira de Araújo.19 de junho de 2019 às 16:17

    Exatamente. É hora de reinventar formas de construção, onde o menos é mais. Não é pelo tamanho do edifício que se mede o progresso da cidade, mas pela humanidade e sustentabilidade dessas construções e harmonia das pessoas que os habitam. Gostei muito do enfoque do artigo e como empresária reavaliarei melhor minha visão de negócios, pois concordo que em muitos casos o menos é mais. Meus sinceros parabéns ao Dr. Wilson Campos pelo texto e pelos artigos que sempre escreve com muito acerto e cidadania. Genisse A.S.O. de Araújo.

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  3. De fato já estão passadas essas briguinhas em torno desse Plano Diretor. A cidade precisa andar pra frente, com empresários e com os moradores, juntos, sob uma legislação urbana que possibilite maior sintonia na qualidade de vida das pessoas. Outra coisa é que os moradores é que compram os apartamentos que as empresas constroem. Portanto, é hora de conciliar esses interesses, pois nem tão ao mar nem tanto a terra. O que se espera é que o dinheiro arrecadado com essa outorga seja de fato aplicado em obras úteis na cidade, incluindo moradias para os mais necessitados, da periferia. E que os empresários se juntem aos moradores e fiscalizem a prefeitura no cumprimento da lei votada e do dinheiro arrecadado com essa outorga onerosa que tanto deu o que falar. Meu Deus! Aproveito para dar parabéns ao Dr. Wilson Campos pelo brilhante artigo, como sempre justo e imparcial. Milton F. Sodré.

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