ALIENAÇÃO E PREGUIÇA.

A obra mais importante de Platão, “A República”, escrita entre 380 e 370 a.C., segundo os historiadores, narra em o Mito da Caverna ou Alegoria da Caverna, o diálogo de Sócrates com seu amigo Glauco sobre um grupo de homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, imobilizados por correntes e obrigados a olhar apenas para a parede à sua frente. Ali, acorrentados e acostumados apenas com as sombras e as superstições, contemplavam o que achavam ser o mundo, a partir apenas das imagens refletidas no fundo da caverna por uma escassa luz que havia atrás deles.

Os prisioneiros enxergavam um único cenário formado por sombras de homens, animais e objetos refletidas na parede da caverna. Como só podiam enxergar essas imagens distorcidas, concluíam que eram verdadeiras, e deixavam-se dominar pela ignorância. No entanto, certo dia, um dos prisioneiros se libertou e se dirigiu para o lado de fora da caverna. Ao sair, a claridade intensa o deixou momentaneamente cego, mas aos poucos seus olhos foram se acostumando à luz solar e ele se vislumbrou com outro mundo, que tinha natureza, cores e imagens diferentes de tudo que conhecia. Surpreso e maravilhado com o conhecimento, ele voltou para dentro da caverna para narrar os fatos novos aos seus amigos ainda acorrentados, com o intuito de também libertá-los, mas eles não acreditaram nele e julgaram-no louco, e permaneceram na “zona de conforto”, ou seja, na mesmice de seu mundinho irreal.

Na pior das hipóteses, naquela caverna surgiram a alienação espontânea e a preguiça intelectual. Os indivíduos, alheios a si mesmos e a outrem, tornaram-se escravos da própria inércia. E, por conseguinte, não procuraram a verdade nem o saber, e não idealizaram nenhum plano coletivo de liberdade.

Trazendo o Mito da Caverna para os tempos atuais, pode-se dizer, com certeza, que o ser humano tem regredido muito, a ponto de estar, cada vez mais, vivendo como um prisioneiro da caverna, apesar da quantidade enorme de informação e conhecimento disponibilizados pelas tecnologias modernas, em um mundo extremamente globalizado.

Hoje, as pessoas têm receio da verdade nua e crua e preferem a cômoda neutralidade. A preguiça de pensar tornou-se um elemento comum no seio da sociedade. Os jovens não usam o intelecto por inteiro, não sabem se expressar nem desenvolver textos minimamente complexos, preferindo a pobreza linguística das redes sociais, quase sempre permeadas por fake news. Ademais, o certo é que, de fato, a preguiça intelectual tem sido a mais forte característica desse século. 

O que mais se vê na sociedade atual são desprezo e preguiça por leitura, pesquisa, questionamento, crítica fundamentada e opinião isenta, preferindo o indivíduo a inércia ou a lentidão de raciocínio, e permitindo que as verdades sejam negadas e as mentiras se sobressaiam, como se todos estivessem presos numa caverna à meia luz. Ou seja, vive-se na época do predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil e da prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância. É triste ter de admitir isso, mas é o que acontece na atualidade. 

Os livros, a avaliação percuciente dos problemas, o contexto da sociedade organizada e o ser humano questionador deixaram de ser interessantes para os viventes do século XXI, que apenas olham para si como se apenas a própria vida tivesse importância. O egoísmo é a pedra de toque, o valor negativo adotado com volúpia, que atropela a todos, indistintamente, sem conhecimento do passado e sem interesse no futuro. A ignorância é agora cultivada e celebrada, tornando ainda mais inacreditável o valor que dão à vida vulgar.

O julgamento açodado das pessoas tornou-se uma ferramenta perigosa. As redes sociais, propagadoras de bons serviços, mas também mentirosas e nocivas na divulgação de notícias falsas, restam conceituadas como inúteis para o que seja justo e certo, pois, estão enganando um número cada vez maior de usuários, que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações. Aqui, mais uma vez, como visto, constatam-se as preguiças de pensar, pesquisar e investigar.

Assim como os prisioneiros no interior da caverna, a sociedade contemporânea não enxerga a importância da busca pelo conhecimento e do abandono da posição cômoda gerada pelas aparências e pelos costumes. Os apreciadores da “zona de conforto” estão presos nas redes sociais e no turbilhão de informações da internet, na parte que não acrescenta nada a ninguém, e não percebem que estão se entregando, demasiadamente, a uma alienação espontânea e a uma preguiça intelectual, que são o novo caos social. 

A política já não desperta como antes a atenção das pessoas, e a politicagem ocupa cada vez mais espaço no território e retira direitos e garantias fundamentais. Mas as pessoas, de uma maneira geral, não querem ver nem pensar, haja vista que seus olhos estão voltados para as telinhas dos equipamentos irradiadores das redes sociais, que viraram verdadeiras febres e vitrines do ego, que divulgam a falsa ideia de vidas felizes, mas que, na realidade, retratam o predomínio de opiniões rasas, de conhecimentos superficiais, de informações inúteis e de prisões rotineiras e banais que arrastam os indivíduos, cada vez mais, para a caverna da ignorância. 

Em que pese a sombra desenhada no horizonte, ainda há tempo para todos. Mas antes que tudo se perca e nossas vidas se resumam a mentiras e aparências, libertemo-nos e saiamos da caverna. Busquemos o conhecimento. Abandonemos a alienação, a preguiça e a inércia erradamente adotadas. Deixemos a sabedoria e os princípios chegarem perto, e conhecendo deles, comecemos a ouvir e sopesar antes de condenar. E a partir daí saberemos opinar, descobrir, reivindicar, questionar, defender, atacar, arrazoar, ler, escrever e, principalmente, pensar a verdade. A história não perdoa os covardes nem os preguiçosos. 

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental/Presidente da Comissão de defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

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Comentários

  1. O brasileiro tem preguiça de ler. Hoje os jovens ficam no celular e nas redes sociais escrevendo errado e compartilhando besteirol.
    Essa preguiça de ler é triste e representa atraso.
    O Dr Wilson Campos escreveu nesse artigo tudo que precisa ser alertado.
    Parabéns Dr.
    Fraterno abraço
    Bernardo Pontes

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  2. Dr. Wilson Campos, imagina o senhor os petistas de carteirinha que ficam 20 anos no primário e segundo grau e depois mais 20 anos na UFMG ou em outra. Sabe por que? É porque são vagabundos e não gostam de estudar e muito menos de ler. A única coisa que sabem ler é a carta de alienação de Fidel e Chávez de pouco mais de 10 linhas. O líder do PT é semianalfabeto e mais burro que uma porteita - o tal de Lula. O sujeito não sabe falar uma frase completa e assim é com a Dilma e com outros petistas que não gostam de trabalhar nem de estudar e muito menos de ler. E essa cambada de burros querem governar o país. Sabe quando? Nunca mais; Nunca mais. Se Deus quiser nunca mais governarão nada no Brasil. A única coisa que poderão governar esses burros é uma carroça cheia de lixo. Me perdoem os carroceiros porque tem carroceiros aí dez vezes mais homem e melhor que essa PeTralhada esquerdopata. Bora trabalhar e ler mais para ser diferente desse bando de comunistas. Perdão Dr. Wilson, mas estou estressada com essa gentinha de m... Grande e respeitoso abraço para o senhor e parabéns pelos artigos nos jornais O TEMPO e ESTADO DE MINAS e pelo blog também e tudo excelente. Com admiração. Ass:Flávia Mendonça;.

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