O ADVOGADO E A INTEGRAÇÃO SOCIAL PELO POVO.

Não mais é bastante o percuciente e rotineiro papel do advogado na sociedade. Ser indispensável à administração da justiça e defensor do estado democrático de direito deixaram de representar as únicas referências sociais do advogado. Os tempos modernos estão a exigir mais deste profissional incansável e muitas das vezes pouco reconhecido. O advogado precisa ir mais além, quiçá inserido de fato na vida comum de seu povo.

A distância entre os problemas sociais diários de uma cidade e o advogado precisa ser encurtada. A indiferença neste trato é inadmissível. O advogado não pode mais apenas observar sob a ótica jurídica as dificuldades e as aberrações impostas ao povo. A integração social pelo povo é uma obrigação do operador do direito. 

O discurso da OAB urge sair dos gabinetes e ir para as ruas, somar fileiras com o povo na sua defesa e na sua proteção, ao mesmo tempo em que representa e defende o advogado. O povo mais próximo do advogado é sinônimo de mais reconhecimento a um trabalho penoso sobre o qual debate diariamente o profissional da advocacia. A OAB na defesa da sociedade é certeza de maior respeito à figura do advogado e da sua importância para a garantia dos direitos buscados no judiciário ou onde quer que estejam.

O vilipêndio ao advogado não mais é admissível. Chega. A imagem do advogado precisa ser resgatada urgentemente. Compete à OAB esta função de trazer à tona o respeito à advocacia. O trabalho começa pelo pacto com o povo, a serviço da sociedade e fazendo por merecer na defesa das questões sociais. 

O povo está sozinho, por exemplo, nesta demanda com o poder público, onde os administradores empurram goela abaixo das comunidades as mais absurdas decisões de intervenção na cidade; começando pela verticalização irracional, degradação do meio ambiente, venda de rua e desrespeito com as áreas de diretrizes especiais; passando pela derrubada de árvores e palmeiras imperiais, ameaça à preservação das poucas matas ainda existentes e destruição das nascentes; terminando pela inaceitável forma de querer desenvolvimento a qualquer custo, mudanças de leis que retiram garantias da sociedade e falta de diálogo com as comunidades locais.

A OAB precisa vestir a camisa do povo e intervir a favor da sociedade, numa clara demonstração de que se importa de fato com os direitos humanos, com a justiça social e que pugna pela boa aplicação das leis. A OAB merece sair das sombras e se colocar à luz, na clareza solar de seu fundamental papel social de defesa do povo, doa a quem doer. Urge sair da retórica e partir para a ação.

O advogado e a OAB, parceiros na atividade profissional, íntegros na função constitucional e inseridos no dia a dia das comunidades, nesta tríade social, pela ordem, hão de receber como retribuição o reconhecimento do povo, resgatando o verdadeiro papel do advogado no seio da moderna sociedade.

Muitos que clamam por maior integração da OAB, mesmo nos assuntos mais comuns da vida urbana diária, por certo se encontrarão mais protegidos quando a entidade e seus filiados se colocarem de corpo e alma na defesa precípua dos direitos humanos, ambientais, difusos e coletivos. Assim, sob o patrocínio do direito e da justiça, a OAB e advogados verão crescer a habitualidade do tratamento respeitoso do povo. O reconhecimento virá a galope.

Não tema o advogado contrariar poder público, juízes, desembargadores ou ministros. Não tema o advogado o povo. Exerça o advogado a sua independência em face dos poderes e dos poderosos, no papel de fidelidade à defesa, como sacerdote supremo da justiça. 

A grande bandeira do advogado é a luta pela dignidade da pessoa humana, que faz da advocacia, não mera profissão, mas uma escolha de vida. Quando os oprimidos pedem pela presença mais ativa da OAB, impreterivelmente chamam pelo advogado, instrumento na salvaguarda do contraditório. A valorização do advogado virá.

Numa época em que os valores e os referenciais éticos se perdem, o advogado, conhecedor do mundo jurídico, tem o dever de mostrar aos leigos o caminho reto da lei. Essa é mais uma forma objetiva de operar a igualdade, coibindo o abuso de poder e buscando o aperfeiçoamento do indivíduo. 

A integração do advogado e da OAB pedida pelo povo é no sentido de poder discernir e influir de forma mais eficiente e eficaz na persecução da democracia e da justiça social. Mas tem que ser agora, sem mais delongas. O povo pede urgência. A sociedade clama. E só assim, cumpridas estas funções sociais, o reconhecimento, a valorização e maior respeito ao advogado virão.

Wilson Campos (Advogado).   

(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 16/09/2012, domingo, pág. 31).

            

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