ELEIÇÕES DIRETAS JÁ! RELEMBRE!



Em singular momento de caos político gerado por culpa dos próprios “nobres parlamentares” e das demais autoridades executivas, que são flagradas no cometimento de atos ilícitos, presentes ou passados, nada melhor do que relembrar a importância da democracia, do voto e da cidadania. O povo merece respeito e é parte inerente desses três valores.

A cívica campanha das "Diretas Já!", nos idos de 1983 e 1984 enchia ruas, praças e avenidas num turbilhão de pessoas empunhando faixas e cartazes, com adesivos colados nas camisas e nos vidros dos carros. Todos querendo de uma ou outra forma participar. Todos (maioria esmagadora) pediam Diretas Já!. E eu estava lá, cumprindo com meu dever de cidadão, de forma ordeira e enérgica, pedindo um país melhor para os brasileiros.

Lideranças de vários partidos e segmentos sociais, do quilate de Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Pedro Simon, Mário Covas, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Dante de Oliveira e tantos outros, faziam-se acompanhar por pessoas que lotavam os grandes centros e as principais capitais do país, formando uma coletividade sedenta por liberdade e democracia.

Lembro-me muito bem das inúmeras vezes que saí com camiseta, adesivo e faixa das “Diretas Já!”, saindo da rua Espírito Santo, frente a sede do Sindicato de Engenheiros, percorrendo até a Avenida Afonso Pena, continuando até a praça da Rodoviária e ali ficava na companhia de uma multidão que gritava a todo pulmão "queremos Diretas Já!", emanada pela fé de que alguma mudança boa viria.

A voz que entoava o Hino Nacional nos microfones do palanque era de Fafá de Belém, uma paraense que fazia vibrar os corações brasileiros ao som da maior composição musical brasileira. A apresentação ficava por conta do radialista Osmar Santos, que usava a fala vibrante e a comunicação profissional como ferramentas de integração popular.

As lideranças sindicais saiam às ruas de braços dados com o povo e caminhavam por dezenas de quarteirões clamando por direitos e garantias que só viriam a partir da Constituição Federal de 1988.

O sonho foi realizado em 1989 e, sob duras penas, vimos as realizações posteriores de muitas eleições diretas, o povo votando, a democracia sendo instalada e a cidadania tentando se achegar. Isso, depois das passeatas e campanhas voluntárias de cidadãos empenhados na implantação da nova República.

O Brasil mudou. Se para melhor ou pior, vai depender da forma como você encara esse país que, após anos e anos, ainda continua com problemas sérios na sua conduta moral, posto que os políticos têm muito a aprender e o povo muito a ensinar.

O país continua tendo deficiências de todos os tipos e em todos os setores. Precisamos enumerar? Comecemos então por educação (do pré à universidade); saúde (prevenção, medicação, hospitais); saneamento básico (água, esgoto, lixo); moradia (estruturada, longe de áreas de risco); trabalho (formal e com qualificação); segurança (dia e noite com proteção à vida); transporte (rápido, pontual, limpo, seguro); estradas (pavimentadas, sinalizadas e sem buracos); liberdade de expressão (direito de expor ideias); cidadania (direitos garantidos e deveres cumpridos); humanidade (justiça social). Paremos por aqui. Temos tudo isso? Nem de longe. Então, mãos à obra povo brasileiro!

O Brasil está perdendo a sua identidade patriota. O povo brasileiro perdeu a companhia das entidades sindicais que deixaram as reivindicações justas e celebradas em assembleias democráticas, para empoleirarem-se em gabinetes estatais à custa do erário público e do suor do trabalhador.

Muitos políticos que conclamavam a participação popular esqueceram-se de suas próprias palavras e vivem de conchavos outrora tão combatidos. O poder corrompeu muitos políticos. Os interesses sociais foram passados para trás. A corrupção tomou lugar. A sede insaciável por cargos e posições altamente remuneradas jogaram por terra as pretensões puramente populares.

O antes combativo líder sindical tornou-se mais um político de politicagens, que faz alianças temerárias para estar sempre no poder. A política tornou-se um assunto que dá arrepios à sociedade civilizada. A corrupção a olhos vistos não incomoda os governantes, mas destrói o país e arrebenta com a confiança da população. O país perdeu grandes nomes da política ética e ganhou muitos da politicagem rasteira e vergonhosa.

Muita coisa mudou para pior. Não era essa a vontade popular.

Muita coisa mudou para melhor. Esse era o sonho.

Valeu a pena? Cada um que participou, como eu, que responda para si.

Responda por si, para si ou para quem quiser ouvir.

O que valeu foi buscar um país mais igual.

Busque sempre o justo. Saia do lugar comum e pense um futuro melhor.

Não deixemos que esses vendilhões da pátria dominem nossas ideias e nossos ideais.

A democracia, a moral e a ética são difíceis mesmo. Mas, não impossíveis.

Não abandonemos nossa causa de um BRASIL com letras maiúsculas.

Democracia, Moral e Ética. Essas palavras ainda fazem e farão parte do nosso sonho. Sempre!

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).



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