JUDICIÁRIO LENTO E JUÍZES SEM COMPROMETIMENTO.
Os
tribunais brasileiros, segundo alegações de juízes e serventuários, estão
constantemente sobrecarregados de serviços e abarrotados de processos. No entanto,
passam-se os anos e nada melhora do ponto de vista do atendimento ao
jurisdicionado, sempre permanecendo aquela velha justificativa estatal do
excesso de demandas e judicializações desmedidas.
Os
juízes, salvo raras exceções, contribuem para a lentidão do Judiciário, uma vez
que não se dispõem ao diálogo franco e transparente com os advogados, de forma
que seja encontrada uma solução de convergência e esta levada, conjuntamente,
aos Poderes Executivo e Legislativo, principalmente para deliberarem quanto ao número
insuficiente de magistrados e servidores e para moderna estruturação
tecnológica.
A
lentidão do Judiciário afeta a imagem do advogado. O cliente não se conforma
com o trâmite excessivamente moroso do processo. Essa situação angustiante
acaba por colocar o cliente e o advogado no mesmo plano de insegurança. A
ansiedade do cliente é transferida para o advogado e este não tem como transferi-la
para o juiz, porque ele se isola em seu gabinete e muitas vezes nem recebe o
advogado para despachos regulares e necessários à lide.
Em
se percebendo o judiciário cada vez mais lento, as cobranças vão para juízes e
serventuários, que, por sua vez, tratam a demora como coisa normal e rotineira.
Ou seja, juízes e serventuários acabam se contaminando com a inércia originária
do tribunal e deixam pelo caminho o comprometimento com o trabalho.
Situações
diversas de descasos e de dificuldades rondam a vida profissional do advogado,
como por exemplo:
1)
Desrespeito a trâmite prioritário em diversas secretarias ou varas - são muitos
os casos em que a Justiça não respeita a prioridade de idosos e de pessoas com
doenças graves ou com necessidades especiais. São vários os casos em que, mesmo
informando ao servidor e até ao juiz, o problema é ignorado.
2)
Demora excessiva para juntada de petições - há casos em que alguns cartórios
(secretarias) levam meses para juntar uma petição aos autos, ou seja, fazer com
que ela seja anexada ao processo para que o juiz aprecie e despache.
3)
Demora na apreciação de pedidos de antecipação de tutela, que, em muitos casos,
ficam ao talante dos juízes decidir o que eles consideram urgente para resolver
naquele exato momento. Alguns só recebem advogados para tratar de assuntos que
eles entendem merecer a sua atenção. Ora, a lei dá aos juízes a faculdade de
concederem ou não a tutela, mas não o de escolherem casos em que o advogado
deve ou não ser recebido para despachar.
4)
Erros em execução de atos processuais - é comum as secretarias não expedirem
mandado de citação a tempo de ser cumprido, nos moldes da lei, ou de forma a
fazer com que a outra parte possa ter tempo para responder ou comparecer à
audiência. Essas falhas fazem com que a audiência seja inútil, posto que a
parte não foi nem sequer citada tempestivamente.
5)
Demora na expedição de mandados e de alvarás, prejudicando o interessado e postergando
a aquisição do direito.
Como
visto logo acima, esses são apenas alguns erros comuns do Judiciário, e o advogado,
ao se deparar com alguns deles, pode e deve procurar o juiz para resolver a
questão, ou, quando se tratar de mero expediente, tentar resolver com o
serventuário no balcão ou com o diretor da secretaria. Entretanto, vale
observar que os advogados ficam vinculados às palavras destes, que prometem e
garantem a apreciação, mas podem não fazê-lo. Verdade seja dita: alguns cumprem
o que prometem, enquanto outros simplesmente ignoram ou “esquecem”.
E
por essas e outras é que o cliente, que tem no advogado o meio de comunicação
com a Justiça, passa a culpá-lo por todos os erros do Estado, sem levar em
consideração os esforços do operador do direito. O cliente fica com uma opinião
ruim a respeito da competência do advogado, esquecendo-se que a morosidade, a
lentidão e a falta de comprometimento são do Judiciário e de sua estrutura ultrapassada,
sem juízes e servidores suficientes para o trabalho da necessária e
indispensável prestação jurisdicional.
Em
Belo Horizonte, recentemente, as varas cíveis foram transferidas de um fórum para
outro. Criaram um monstrengo chamado “Fórum da Raja”. A situação passou de ruim
a pior. O novo fórum é de péssimo acesso, não conta com infraestrutura adequada
nos seus arredores e cada vez mais irrita os profissionais da advocacia, que
têm de se submeter a horas e horas de filas para pegar o elevador, nos balcões
das secretarias, em pedidos para despachos com juízes, nas devoluções de
processos e em todos os lugares possíveis e imagináveis do prédio. Sobre
esse assunto, que tem incomodado e irritado muito os advogados mineiros, cumpre
destacar o artigo que pode ser lido no Blog Direito de Opinião em: http://wilsonferreiracampos.blogspot.com/2018/08/forum-da-raja.html
Ainda sobre o tema
complexo das respectivas responsabilidades e competências dos tribunais e dos
juízes e serventuários, vale evidenciar que o advogado tem tanto interesse em
resolver o problema quanto o cliente, apesar dos caminhos tortuosos impostos
pelo Poder Judiciário brasileiro. Senão pelo que receberá a título de
honorários, mas pelo seu nome e credibilidade. Portanto, não existe razão para
que o advogado queira prejudicar o cliente.
É preciso que fique bem
claro, que o advogado só possui ingerência sobre os atos que lhe competem. O
máximo a ser feito, além dos procedimentos regulares do devido processo legal,
são as reclamações nas secretarias das varas, nas Ouvidorias, nas Corregedorias
e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o que não significa que será rápido o
atendimento nesse sentido. In casu, existe
grande distância entre a teoria e a prática. Qualquer ato fora disso poderá
desencadear agressões parte a parte, o que, além de retirar a razão, também
poderá trazer problemas éticos e criminais ao advogado, que, pelo calor do
entrevero, poderá retribuir com representações legais junto à OAB e ao CNJ, com
respectivos desagravo e inquérito, em proteção às prerrogativas da profissão.
É forçoso admitir que
prevalece o teor do título do presente artigo, pois há, de fato, nessa história toda, grande culpa do Poder Judiciário,
que arrecada elevados valores com custas processuais e taxas judiciárias, mas
prefere construir ou alugar edifícios luxuosos, gastar com carros e motoristas,
cafés, lanches, auxílios disso e daquilo, e tantos outros luxos e penduricalhos,
em vez de contratar novos serventuários e juízes pelas vias do concurso
público, com imediata posse dos aprovados. Os tribunais, segundo consta,
possuem autonomia financeira e orçamentária, ou seja, não dependem de “demanda
judicial” pelas verbas do orçamento, já que este é definido por lei.
Justiça digna é
justiça entregue a quem precisa. O cidadão precisa de uma justiça sem
morosidade, sem lentidão e com comprometimento dos juízes.
Justiça real e
verdadeira é aquela que julga com celeridade e imparcialidade, exercida por juízes
comprometidos com os direitos constitucionais da cidadania.
Poder Judiciário
respeitado é aquele que privilegia o jurisdicionado, entregando-lhe direitos e
garantias, dentro do perfeito Estado democrático de direito.
Poder Judiciário eficiente
é aquele que não tarda na entrega da justiça àqueles que batem à sua porta.
Juízes comprometidos
são aqueles que cumprem suas obrigações sem demora ou protelação,
independentemente do número de horas trabalhadas, pois para isso foram
assentados nas funções de servidores públicos que são.
Ademais, a Justiça
não tem na pessoa do advogado aquele que é responsável pelos erros, pelos atrasos,
pela falta de comprometimento ou pela lentidão. O responsável direto por tudo
isso é o Poder Judiciário, que conduz pessimamente a organização da justiça e
acostuma mal os juízes acometidos de juizite, que pensam que são deuses, quando
não passam de seres humanos comuns.
Lamentavelmente,
ainda contamos nos dias atuais e não sabemos por quanto tempo mais, com um
judiciário lento e com muitos juízes sem comprometimento.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
O pior de tudo é ter de aceitar mau humor e desaforo de juiz que mal sabe fazer um despacho ou uma decisão com argumento e fundamentação corretos. Nós nos sentimos dentro desse artigo do nobre colega Dr. Wilson Campos, porque já vivemos situações parecidas. A OAB precisa falar menos e agir mais em defesa dos advogados e contra esses juízes que se acham donos da verdade. Mudanças precisam ser feitas - Justiça mais rápida e juízes comprometidos com a prestação jurisdicional. URGENTE. Juliano e Cássia - advogados. PARABÉNS DR. WILSON PELO ARTIGO MAIS DO QUE BEM-VINDO PARA A ADVOCACIA MINEIRA E BRASILEIRA.
ResponderExcluirEstão acabando com a Justiça do Trabalho, aos poucos. O prédio que antes era ocupado por audiências de trabalhadores hoje vive quase às moscas, porque a reforma trabalhista e as decisões dos juízes estão afastando o trabalhador de procurar o seu direito. Da mesma forma deve estar acontecendo com o TJMG, que mudou o endereço do fórum em BH para afastar o cidadão e desanimar os advogados. Uma vergonha esse Judiciário empresarial, empurrado pelas mãos do Legislativo que está lotado de empresários e lobistas de empresários. Os 3 Poderes estão no caminho da derrocada, tamanha a vergonha alheia que provocam. Parabéns Dr. Wilson pelo excelente artigo, como sempre em prol da advocacia mineira e brasileira. Parabéns!. Adriano Jr.
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