DESAFOROS POLÍTICOS.



 
O exercício da função pública requer urbanidade, seriedade, ética, probidade e trabalho em prol da sociedade. Nada pior do que ver todos os dias as manchetes dos jornais e as chamadas dos telejornais destacando a sujeira de um e outro político, que, vergonhosamente, joga a função do agente público ou político na lata do lixo. Na vida pública deveria existir uma norma cogente que proibisse o mau exemplo do político, sob pena de cassação imediata do mandato. Essa punição, severamente aplicada, restabeleceria o tão falado decoro parlamentar.

O que mais se vê na mídia, nos últimos anos, são desaforos de políticos do Legislativo e do Executivo atirados na cara da população, como se “Suas Excelências” não tivessem que se portar de forma educada diante da sociedade. Essa mesma sociedade que paga os altos salários e os penduricalhos das “nobres” autoridades.

A desesperança popular cresce na medida em que os cidadãos não sabem em quem confiar. Ou melhor, sabem, mas não querem. A vergonha alheia é tamanha que o nosso único remédio é defender a nação desses maus representantes, haja vista a péssima gestão, o horroroso desempenho, a negligência no mandato, os terríveis exemplos, as trágicas opiniões públicas e os inadmissíveis atos e crimes à frente dos Poderes Executivo e Legislativo. O Judiciário também não escapa, posto que tenha pessoas sem caráter, que decidem contra o povo e a favor de seus interesses pessoais e de interesses de setores econômicos poderosos.

Os pedidos de impeachment, de cassação de mandatos e de apuração de crimes contra políticos são uma rotina no Brasil, embora nem sempre aconteçam no tempo certo, porque o Judiciário protege uns e outros, e os processos se arrastam por anos e anos sem uma sentença rígida, que coloque um ponto final na bagunça geral. Por outro lado, a sociedade não se manifesta como deveria. Os cidadãos não usam das suas prerrogativas constitucionais, efetivamente. Os erros administrativos nas esferas estatais não são corrigidos e muito menos punidos severamente. As responsabilidades apuradas não são firmemente cobradas com julgamento, prisão, multas e devolução do dinheiro, sem exceção. O “jeitinho” político brasileiro acaba por atravancar o caminho do Judiciário, que, por sua vez, demora muito na providência eficaz. Ou seja, a lei para uns não é a mesma para outros. O princípio da isonomia é relegado a segundo plano, ainda mais quando os interessados na impunidade são caciques políticos das intocáveis siglas partidárias.

Tudo isso acontece porque aqui é a terra da mesmice e do esquecimento rápido. A mesmice de um país que não tem por prática democrática sair às ruas para exigir direitos reais para o povo e cadeia para os corruptos. O esquecimento de um povo sem memória, que acaba sendo atingido pela tolerância a tudo de errado que acontece no país. E o que se vê são brasileiros que teimam em continuar de cócoras, com os queixos aos joelhos, pensativos, mas sem ação ou reação, enquanto os maus servidores, agentes públicos e políticos e representantes dos Três Poderes continuam impunes, ricos e com sorrisos irônicos nas suas eternas caras de pau. E, além de tudo, mentirosos.

Em tempo, aproveitando esse momento da questão, vale observar que o verbo da moda é mentir. Vejam que, em votações importantes, os políticos dão show de embuste. Com certeza aprenderam a definição de Mário Quintana, que escreveu: “A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”. No caso concreto, “Suas Excelências” inventam tanto que acreditam nas próprias mentiras. Nem coram. Por isso ganharam esse citado apelido - caras de pau. Eles são tantos que exigem o plural.

Destarte, a inércia da população é percebida de norte a sul e de leste a oeste do país. Nesse ínterim, os maus políticos (e são muitos) se entregam aos sabores de uma vida pública  mesquinha, mas muito bem remunerada, uma vez que o povo brasileiro é bonzinho e paga bem os caras de pau para não fazerem absolutamente nada.  

E assim caminha a politicagem brasileira, com troca de favores, desserviço, mordomias e mega salários, como se o país não estivesse chegando ao fundo do poço, com o infortúnio declarado do desemprego que atinge 13 milhões de cidadãos, a extrema e galopante pobreza que chega a 15,2 milhões de pessoas, juros altos, investimentos paralisados, recessão descontrolada, forte crise econômica, grau elevado de incertezas, escândalos financeiros, desestruturação das instituições, incompetência governamental, improbidade administrativa, tráfico de influência, ameaças da direita e da esquerda, total descontrole de gastos públicos, peculato, concussão, prevaricação, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Não bastassem todos esses gravíssimos problemas e ilícitos, os atores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ainda sujeitam os cidadãos ao desconforto de assistirem, vez ou outra, criminosos serem soltos em troca de frágeis “delações premiadas”, como se fossem prêmios para os delitos cometidos. Ou seja, os caras de pau gargalhando na cara do povo brasileiro e projetando desaforos políticos como se fossem pendores de inocência, quando na realidade não passam de maus políticos e criminosos, que levam terror à sociedade brasileira. Salvo raríssimas exceções.

Por derradeiro, os desaforos políticos, sejam de servidores ou de agentes públicos ou políticos do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, merecem respostas nas urnas, nas manifestações de rua, nos gritos das gargantas cívicas e nos termos da lei. Entretanto, não interessa ao povo brasileiro um cenário de escalada da violência, com apedrejamentos, linchamentos virtuais e ameaças, resultados de uma irresponsável polarização política. Interessa ao povo brasileiro um país livre e democrático, com leis severas que punam crimes e criminosos, sem distinção, colocando-os a ferros e exigindo a devolução do dinheiro desviado. E cumpra-se a Constituição da República, republicanamente.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 


 

Comentários

  1. Gilmar J. S. Trindade6 de dezembro de 2018 às 17:16

    Sei como é isso, porque trabalhei com um certo político e via o que ele fazia e falava. Nada interessava ao povo. Tudo interessava a ele e seus apadrinhados. A coisa é uma vergonha. VERGONHA!!! Saí desse lugar porque não aguentava tanta sujeira todo dia. Um toma lá dá cá de causar náuseas. OS DESAFOROS DOS POLÍTICOS NÃO PODEM SER TOLERADOS PELOS BRASILEIROS. CHEGA!!! É jeitinho pra tudo e sempre na mão grande, levando vantagem e o povo que se dane. Uma coisa inacreditável. Vergonha é pouco. O caso é de polícia e cadeia é o lugar onde deveriam estar muitos e muitos políticos que aí estão com mandato ou com cargos e funções públicas e políticas. Uma camarilha que dá nojo. Gilmar Trindade.

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  2. Li, gostei e aprovo tudo que foi dito no artigo brilhante. Parabéns mais uma vez nobre advogado Dr. Wilson Campos. A minha recomendação, se posso fazer, é para o senhor ser candidato a prefeito, governador, etc. O Brasil precisa de pessoas como o senhor. Acredite. Vamos lá e conte comigo e minha turma que não é nada pequena. Vamos Doutor! Meus respeitos. Salvador Paz Andrade.

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