6.238 km2 DE DESMATAMENTO. COMEMORAR O QUE?

Mais esdrúxulo do que se publicar é comemorar uma notícia de tamanha aberração.

Comemora-se no Brasil o fato de a Amazônia ter sido desmatada em 6.238 quilômetros quadrados, entre agosto de 2010 e julho de 2011, quando no ano anterior se desmatou 7.000 quilômetros quadrados.

Ora, senhores e senhoras, apenas esta pequena diferença não merece comemoração alguma. Jamais. No entanto, haveria sim o que comemorar se a manchete fosse dada dessa forma: "No Brasil o desmatamento foi zero no ano que passou!".

Que bom seria se abríssemos o jornal e déssemos de cara com a manchete logo acima referida. Mas a realidade que vivemos é outra. Com esta política ambiental praticada pelo míope governo brasileiro é bem provável que tão cedo não leiamos tal manchete nos jornais. Infelizmente.

O desmatamento como o impingido à Amazônia é um crime tão violento quanto o estupro ou o homicídio, considerados hediondos pela magnitude de suas perversidades.

Afinal, o que é o desmatamento? Segundo o professor Édis Milaré é a destruição, corte e abate indiscriminado de matas e florestas, para comercialização de madeira, utilização dos terrenos para agricultura, pecuária, urbanização, qualquer outra atividade econômica ou obra de engenharia. O desmatamento é causa de diversos desequilíbrios, e até desastres ecológicos; altera o clima, a biodiversidade, a paisagem e contribui para o efeito estufa.

O inimigo público número um da Amazônia é o desmatamento. O número dois são as queimadas. As enormes clareiras abertas já evidenciam o grande custo ambiental. Os riscos globais na retumbante especulação do efeito estufa se multiplicam com a grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) liberado pelos incêndios e queimadas florestais. A Amazônia se ressente porque é muito frágil e muito fechada em si mesma. O desmatamento e as queimadas aleijam e asfixiam o ecossistema amazônico. As alterações na Amazônia refletem em todo o Brasil e por certo em todo o planeta terra. Mas, apesar de tudo isso, com todas estas alegações cabe responsavelmente ao povo brasileiro cuidar da vida da Amazônia. Não cabe aos Estados Unidos nem à Alemanha e sequer a outro país que como estes já destruiram as suas florestas e querem agora dar lições de como proceder. Não. Do nosso solo e das nossas matas cuidamos nós. Bem ou mal, cuidamos nós, se o governo míope permitir. Ou se o povo assim o desejar, porque querer é poder. E ao povo cabe o querer e o poder.

Aqui, em Belo Horizonte, bem perto de nós cometem o mesmo crime e querem cometer um outro maior ainda: estão derrubando árvores e palmeiras imperiais às centenas, para passarem com um tal de BRT (Bus Rapid Transit), que promete um transporte coletivo mais rápido. Mas, para tornar o trânsito e tráfego mais rápidos seria necessário o extermínio de tantas árvores? Esta destruição generalizada de árvores e palmeiras imperiais foi autorizada pelas comunidades? E este transporte "rápido" foi importado com base a consulta aos membros da sociedade? 

Não existem respostas rápidas para estes assuntos ou as autoridades simplesmente não querem dá-las. O que existem são obras faraônicas levadas a toque de caixa, sob o pálido pretexto de realização de uma copa do mundo de futebol. Ora bolas! Todo este estrago ambiental para alguns dias de jogos de futebol?

Mais perguntas que não querem calar. E eles, calados.

O crime maior aludido fica por conta da ameaça sofrida pela MATA DO PLANALTO, localizada no bairro Planalto, nesta cidade de Belo Horizonte (outrora candidamente chamada de Cidade Jardim). A Mata do Planalto é uma extensa área verde com 300 mil metros quadrados de vegetação nativa, área de preservação permanente, nascentes de águas cristalinas, estabilidade geológica, biodiversidade, fauna e flora exuberantes, permeabilidade e proteção do solo e bem-estar das populações humanas. E esta Mata do Planalto, classificada pelo Ministério Público de Minas Gerais como sendo do Bioma Mata Atlântica e considerada uma floresta em estágio médio de regeneração natural, constituída em um ambiente de refúgio para a fauna e de prestação de outros serviços ambientais, se encontra demagogicamente ameaçada de extinção para atender às pretensões insensíveis e insensatas de grupos empresariais que exploram o setor de construção e que trocam o valor do meio ambiente pelo valor do vil metal dos empreendimentos imobiliários.

Aqui bem perto, também e ainda, suprimiram diversas árvores em perfeitas condições naturais, com folhagens verdes e troncos acima de 40 cms. de diâmetro, para sabem fazer o que? O Poder Público Municipal construir uma pista de cooper. E veja-se que para se construir uma pista de caminhada foi necessário sacrificar várias árvores. Mas, uma pergunta que também não quer calar: Não seria possível construir a pista de cooper ao longo e no entorno das árvores, com um pouco mais de engenharia, criatividade e respeito ambiental? 

Pode parecer simplório e até desconexo, mas a comparação do desmatamento da Amazônia com nossos problemas domésticos em nossa capital é proposital. Basta-lhe pensar um pouco, sem preguiça e a conclusão é insofismável: é impossível vermos e abarcarmos a questão ambiental em todas as suas dimensões, mas os problemas urgentes de soluções se encontram nos maiores e nos menores universos e as mudanças podem decorrer de pequenas intervenções. E à sociedade cabe intervir. Agora, antes que seja tarde.

Wilson Campos (Advogado).

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