INIMIGO PÚBLICO Nº 1. A PORTA DA RUA É A SERVENTIA DA CASA.

O despreparo de um agente público concorre ainda mais para o desgaste entre o povo e a prefeitura. A arrogância em demasia leva ao castigo. O desrespeito às tradições mineiras coloca um carioca no seu devido lugar. A população de Belo Horizonte não aceita os pedidos de desculpas. A recorrência em atos falhos não merece perdão. O cumprimento da lei é uma exigência para todos. O autoritarismo é coisa do passado. A cidade precisa de cidadãos e não de senhores de engenho. 

O inimigo público n° 1 da cidade, por incrível que pareça, não fala o mineirês, quiçá o carioquês que, com todo o respeito, não nos serve desta vez. Não que sejamos bairristas, mas, palavra de honra, somos o que somos porque defendemos a liberdade, ainda que tardia. O mineiro é simpático, carismático, hospitaleiro e bonachão, mas não gosta de repressão e da liberdade não abre mão.

O episódio deplorável, de comportamento inadequado de um servidor público na contramão da história, a tornar gélido o sangue dos herdeiros da inconfidência mineira, não merece outra nota que não seja zero. E a cidade que vai perdendo a sua identidade, aos poucos e à força, por imposição de administrações impopulares, não perdeu tudo, pois acabou ganhando o inimigo público nº 1 - o secretário adjunto que desdenha de todos e se acha a última cereja do bolo que se come de joelhos. Mas, mal sabe ele que nós, mineiros legítimos, gostamos mesmo é de broa e de bolo de fubá.

Não bastasse a petulância demonstrada no exercício de um cargo público, remunerado com o dinheiro do povo, se descontrola o senhor secretário adjunto Marcelo Faulhaber que, com bravatas e dedo em riste, num gesto obsceno, arremete-se contra uma jovem que participava de uma reunião em prédio público, também mantido e custeado pelos contribuintes deste município. A imprensa fotografou, divulgou, informou e não se omitiu. 

Ficou evidente e de clareza solar que ao povo não é dado participar, discutir, divergir ou simplesmente se expressar. Querem o povo cego, surdo e mudo. Mas, querer não é poder. Não nesse caso. A sociedade caminha para uma independência tão absoluta no campo das ideias, depois de muita luta, que sequer cogita o seu futuro que não seja pela via da transparência, da ética e da participação na gestão democrática da cidade, do Estado e do País. O caminho nesse sentido é longo, mas não impraticável.

Caso o servil secretário não faça bom uso do acontecido, cujo desfecho foi uma ocorrência policial, com alegações de parte a parte e assegurado o contraditório, as próximas reuniões poderão ser mais conturbadas, posto que a população não cederá nos seus direitos e não arredará pé das suas tradições libertárias que começaram na inconfidência mineira e só terminarão com a conquista definitiva da cidadania.

O Executivo municipal vem dando um péssimo exemplo quando contesta leis, normas e diretrizes que contrariam a sua vontade. Os agentes públicos, seguidores dessa liderança frágil, vão sempre encontrar a resistência da sociedade que não compactua com a ilegalidade nem com o tratamento diferenciado.

O autoritarismo praticado pela administração municipal leva à reação do povo, na mesma proporção. Os tempos são outros e a realidade está mudando, embora ainda permaneça viva a mensagem do poeta Eduardo Alves da Costa: "Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada".

A lição que deve ficar para o inimigo público nº 1 da cidade é a de que o diálogo é um instrumento indispensável na vida de todos. É o saber escutar para depois falar. É o tratamento igual dispensado ao povo, aos empresários, aos políticos, ao poder econômico e a quem quer que seja. É a isonomia praticada em linha reta, sem curvas ou descaminhos. Caso contrário, de nada servindo o lamentável espetáculo proporcionado pelo secretário adjunto, a recomendação é a de que a porta da rua é a serventia da casa. 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 
   

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