ACORDA, BRASIL DOS IMPOSTOS. ACORDA!

Sem rodeios, o fato é que o governo federal está perdido no emaranhado de conflitos políticos, econômicos e sociais. Essa perdição foi procurada a quatro mãos e o descontrole das finanças públicas é o resultado da ausência de seriedade na condução das questões de relevância para a sociedade.

O Governo Federal errou no tempero - no tempo e na medida - e se deixou levar pelos bilhetes tirados pelo periquitinho verde do realejo da sorte. A mensagem não revelou avanços, mas retrocessos. Aumento das despesas, elevação dos juros, reajuste de tarifas, déficit primário e outros acessórios implicadores diretos, além das isenções tributárias vitalícias de setores privilegiados, a priori, anteciparão o aumento de tributos para disfarçar rombos iminentes.

Apesar da significativa adesão dos contribuintes ao Refis 2014, que encheu os cofres públicos de dinheiro, e dos recordes de arrecadação da Receita Federal, divulgados mensalmente, o descontrole da máquina administrativa é contínuo, face a uma estrutura paquidérmica, onde o governo gasta muito e mal os recursos arrancados da população.

Enquanto o governo federal tergiversa e negligencia no combate à inflação, à corrupção, aos desperdícios e à ineficiência de 39 ministérios, que batem cabeça e esbanjam dinheiro público, simplesmente o dólar dispara, a economia desacelera, os consumidores diminuem as despesas e renegociam as dívidas. Ou seja, o povo aperta o cinto, e o governo, incompetente na arte da administração, estuda o aumento de impostos, porque é mais fácil obrigar o povo a engolir sapos tributários do que descer do palanque das mentiras, se desapegar das mordomias do poder ou se esmerar na gestão do país.

A elevação da carga tributária é o primeiro disparo da arma dos governantes incompetentes. Daí as terríveis probabilidades dos aumentos de impostos, com reflexo imediato nos produtos, bens e serviços, uma vez que o governo que não sabe cortar despesas é o mesmo que não sabe organizar e muito menos planejar.

O governante míope não se importa com as mazelas da sociedade, não enxerga nada além do seu próprio umbigo e da extensão dos seus braços, que aconchegam os apadrinhados comensais, ainda que seja às custas do suor e do sofrimento do povo. Esse tipo de governante, cioso com a preguiça contumaz e pouco afeito ao trabalho duro, não passa de um simples curioso com poder fugaz. O outro, o estadista, escasso no mercado, esse sim, privilegia as tarefas árduas do bem servir ao povo, da organização e da produção, do planejamento e da execução, da normalidade e da administração severa da nação.

Lamentavelmente, não menos pior é o futuro próximo, com perspectivas de conchavos políticos e troca de favores na arrumação dos interesses próprios e com a gastança do dinheiro público. Para suportar tudo isso, cogita-se, aqui e ali, nos gabinetes e nos corredores do poder republicano, a majoração dos tributos federais, estaduais e municipais, além do aumento dos combustíveis, da energia elétrica e demais tarifaços que compõem as receitas diretas e indiretas do governo federal.  

Em suma, engolir sapos, literalmente, é isso: pagar impostos e não receber a contrapartida dos serviços públicos adequados; aceitar novos aumentos de impostos e não exigir o fim da corrupção e dos desmandos; suportar mais impostos e não protestar contra a roubalheira, a ineficiência, os mensalões, a improbidade e a posse fraudulenta da nação.  

Cabe a pergunta: cadê as manifestações, os gritos, as indignações, as cobranças, o povo nas ruas? Cadê a cidadania, as multidões, os protestos?

Acorda, Brasil dos impostos. Acorda! 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sexta-feira, 14/11/2014, pág. 7).

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