OSSO DURO DE ROER.

O ministro Paulo Guedes tem demonstrado ser menos ácido do que julgam seus detratores. Até o momento, os debates no Congresso e nas entidades empresariais deram-lhe credibilidade, tamanha a confiança que ele deposita no seu programa de gestão econômica, que não deixa de ser o calcanhar de aquiles do governo.

As competências e atribuições do ministério e suas respectivas secretarias especiais não são poucas. O Decreto 9.745/2019 não deixa mentir. A tarefa é trabalhar com assertividade e cumprir a ordem do dia. A herança deixada pelos dois últimos governos requer trabalho dobrado e muito jogo de cintura, porquanto a tarefa seja um osso duro de roer.

Pior do que administrar um país em crise é ter de escutar ilações dos eternos incompreendidos, que poderiam ter realizado, mas não tiveram estofo para tanto; é presenciar a farra das passagens no Senado à custa do contribuinte, sem que parlamentares e servidores sejam punidos e obrigados a devolver; é assistir a idas e vindas de membros do Congresso ao gabinete do presidente, à procura do personalíssimo “toma lá dá cá”, como se as reformas não fossem necessárias e o sacrifício não fosse obrigação de todos.

Apesar das manifestações do presidente nas redes sociais e do rígido temperamento do ministro, o Brasil caminha para a solução de problemas que não foram enfrentados por predecessores. A “marolinha” se tornou um tsunami, e o mérito do atual comandante do barco pode vir da experiência e da coragem da tripulação. Mas daí a pensar que o sacrifício deve ser só do cidadão comum é uma rotunda tolice, haja vista serem metaindividuais os interesses, acompanhados do binômio crescimento e desenvolvimento, não sendo permitido esquecer a emblemática relação de consumo, que movimenta a economia e reduz o desemprego.

Em 2010 lembro ter escrito artigo em que dizia: “Em curto prazo estamos tranquilos. Em médio e longo prazo as coisas vão azedar. Não é pessimismo. É evidente que queremos um país vencedor. É óbvio que desejamos prosperar mais que todos os países de Primeiro Mundo (se é que isso é possível). No entanto, negamo-nos a tapar o sol com a peneira. O Brasil enfrentará dificuldades para controlar o seu enorme gasto público, arremessado às alturas com a folha de pagamento inchada pelos gordos salários. O Brasil vai andar na corda bamba quando verificar que sua voraz máquina de arrecadar está sufocando os setores produtivos com uma carga tributária insuportável, enquanto as despesas públicas proliferam, descontroladamente”.

A bolha estatal explodiu, e o governo terá de roer o osso, porque fazer reformas e cortar gasto nem sempre é boa política, muito menos de boa vizinhança. Mas alguém vai ter que fazer, em prol do povo e do país.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de segunda-feira, 2 de setembro de 2019, pág. 19). 

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