O CENTRO ADMINISTRATIVO
Contribuintes estariam de acordo?
Os cidadãos belo-horizontinos, quando procuram por determinado serviço público, não esperam necessariamente encontrar um prédio de luxo, de 18 andares, construído ao custo de R$500 milhões. Esperam, com certeza, encontrar um serviço de qualidade, com atendimento rápido, cortês e dentro do disposto no artigo 37 da Constituição, que assegura os princípios indispensáveis da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência.
O
momento atual vivido no país, de grave crise econômica e política, dispensa
maiores comentários ao empreendimento que pretendem construir para a nova sede
do Executivo municipal, previsto para os terrenos onde hoje funciona o
estacionamento do terminal rodoviário da capital. Esse gesto de gastança
institucionalizada, desproporcional e desnecessário no sentir da população,
nada mais é do que tratar com escárnio os índices alarmantes de desemprego, a
depressão da economia, a retração da confiança do empresariado e a escassez de
investimentos.
A
hora não é de atos impensados, mas de equilíbrio e racionalidade. O dinheiro
está curto e há prioridades da sociedade a serem atendidas, antes de aventuras
megalomaníacas que tragam endividamento para os munícipes, que, de fato, são
quem acaba pagando a conta salgada de obras pretensiosas. Além disso, o local
escolhido é sensível, de trânsito intenso e recomenda estudos criteriosos, uma
vez que as operações urbanas estimulam a descentralização, e não o contrário.
No
mínimo, uma ampla consulta pública precisa ser realizada com a população, de
forma que os moradores da cidade possam opinar, mesmo porque, segundo o inciso
II, do artigo 3º da Lei Orgânica do Município “são objetivos prioritários do município, além daqueles previstos no artigo 166 da Constituição do Estado,
assegurar o exercício, pelo cidadão, dos mecanismos de controle da legalidade e
da legitimidade dos atos do poder público e da eficácia dos serviços públicos”.
Vale
enfatizar que obras do porte da Cidade Administrativa, construída pelo governo estadual,
e agora do Centro Administrativo, a ser construído pela prefeitura, antes de projetadas
e iniciadas, deveriam ser discutidas de maneira democrática com os servidores
públicos e, principalmente, com os contribuintes. A mudança da localização da
sede do governo municipal é muito mais do que uma mera alteração no local de
trabalho e afeta a vida não só desses servidores, mas também de grande parte da
sociedade.
Em
suma, embora reconhecendo que a construção do Centro Administrativo resultará
em economia de aluguéis para o município, ainda assim a administração não pode
tomar para si a decisão que vai implicar despesas vultosas, quando a
realidade atual requer pisar no freio e privilegiar as questões sociais mais
urgentes da população – emprego, transporte, saúde, moradia, educação e segurança.
Esses são os desafios emergenciais do poder público.
Wilson
Campos (Advogado)
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 3 de agosto de 2016, pág. 17).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 3 de agosto de 2016, pág. 17).
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