MOTIM MILITAR
O
movimento da Polícia Militar do Espirito Santo, que ameaça se espalhar pelo
país, além do estrago institucional causou prejuízos imensuráveis à população,
aos comerciantes, aos bancos e aos empresários de vários setores. Segundo
definições da mídia não se trata de greve, mas de um motim.
Nesse
sentido, apesar de alguns chamarem de greve, movimento, conspiração, revolta,
outros denominam de motim a atitude adotada pelos militares do Espirito Santo.
Motim é um crime
previsto no artigo 149 do Código Penal Militar, assim disposto: Motim - Art. 149. Reunirem-se
militares ou assemelhados: I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou
negando-se a cumpri-la; II - recusando obediência a superior, quando estejam
agindo sem ordem ou praticando violência; III - assentindo em recusa conjunta
de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior; IV -
ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou
dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura
militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte,
para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior
ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar: Pena - reclusão, de quatro
a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças.
O entendimento majoritário da doutrina é de que a
Constituição proíbe os militares de exercerem o direito de greve. Daí a típica
motivação do denominado motim, com a hierarquia sendo rompida e a ordem
esmagada pelo distanciamento do militar da defesa da sociedade.
A se lamentar, além de todo o ocorrido, o fato de que o
motim, como visto na TV e divulgado amplamente pela imprensa nacional, deixa a
população desprotegida, desamparada e irremediavelmente refém da bandidagem
sempre à espreita dos inocentes cidadãos, que se trancam em casa enquanto os
criminosos tomam conta das ruas e cometem os mais ignóbeis atos de vandalismo e
de criminalidade por toda a cidade.
Não há que se discutir aqui a legitimidade das reivindicações
dos militares. Claro que eles precisam ganhar mais. Claro que eles necessitam
de proventos suficientes para uma vida mais tranquila, que compensem o estresse
da vida policial. No entanto, o método utilizado é uma afronta à Constituição e
ao Estado Democrático de Direito, além de deixar a população indefesa, entregue
ao desespero de assistir a tudo isso sem nenhum poder de reação.
Em outros textos eu já manifestei preocupação com a falta de
atenção dos governantes com relação aos salários dos professores e dos policiais.
Ora, não é justo e nem admissível que um político ganhe mais que um professor e
um policial juntos. A soma dos rendimentos desses dois profissionais não chega
nem sequer a um terço do salário pago a um político do sistema bicameral, que
ainda goza de mordomias e extravagâncias em seus luxuosos gabinetes.
Mais que isso, os governos estaduais têm dado péssimos
exemplos com gastos desnecessários nos respectivos mandatos das “excelentíssimas”
autoridades, sejam por festas, eventos, recepções, passeios ou viagens
nacionais e internacionais, sempre compartilhadas com apadrinhados e pessoas
que visam interesses próprios.
Dinheiro tem. Basta que fechem as torneiras dos desvios bilionários praticados por políticos corruptos e empresários corruptores. Dinheiro tem. Basta que cortem parte dos salários milionários dos deputados e senadores. Dinheiro tem. Basta que o povo aprenda a votar e não reeleja os atores da politicagem sórdida de plantão.
Dinheiro tem. Basta que fechem as torneiras dos desvios bilionários praticados por políticos corruptos e empresários corruptores. Dinheiro tem. Basta que cortem parte dos salários milionários dos deputados e senadores. Dinheiro tem. Basta que o povo aprenda a votar e não reeleja os atores da politicagem sórdida de plantão.
Contudo, vale repetir que o motim não se justifica. A
atitude dos militares capixabas traz prejuízos principalmente para o cidadão
comum, que não tem como se defender. A onda de violência afasta os turistas e o
ônus cai no colo do empreendedor. As empresas fecham as portas, de medo dos
saques. Os trabalhadores não saem de casa, de medo dos assaltos e de balas
perdidas. O caos generalizado espalha o medo por todos os lados. Em suma,
sobram prejuízos para todos, restando a “culpa” para os militares que usaram o
motim para lutar por melhores salários e condições de trabalho.
Destarte, em que pese o motivo do motim, a sociedade não
pode pagar por um erro que não é seu. A normalidade há que ser restabelecida, o
mais urgentemente possível, para o bem da população ordeira e trabalhadora,
que, a rigor, na condição de contribuinte, paga a pesada carga tributária do
país e remunera a folha de pagamento dos servidores públicos municipais, estaduais
e federais.
Enfim, a expectativa é que a normalidade seja restabelecida
e que as ameaças não se espalhem para outras unidades da Federação.
Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário,
Trabalhista e Ambiental).
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