TRANSPORTE COLETIVO DE BH É CARO, CAÓTICO E INSALUBRE.

 

                “Mas bons exemplos não faltam mundo afora, com metrópoles e governantes que querem e sabem como fazer”.

 

Os responsáveis pelo transporte coletivo de Belo Horizonte estão na contramão dos interesses da coletividade. A greve de ônibus na capital, que havia sido iniciada em 22 de novembro e suspensa em 23 de novembro, foi retomada nesta quinta-feira, 02 de dezembro de 2021.

Aqueles que podem e devem dialogar e resolver tempestivamente o problema, simplesmente se fazem de surdos e mudos e deixam o dito pelo não dito, com isso causando mais um dia de greve dos ônibus, que alterou a rotina dos belo-horizontinos.

Quem precisou pegar o coletivo teve que esperar por horas para conseguir uma lotação e depois de muito sufoco chegar ao trabalho. Mas isso não é tudo, haja vista que os ônibus estão sempre repletos de passageiros. Ou seja, o transporte coletivo de BH é caro, caótico e insalubre. 

O caos da mobilidade urbana promete transtornos e morosidade. Tudo que o cidadão e a cidadã não precisam, depois de tanto sofrimento em razão de uma pandemia ainda inexplicada, que parou o Brasil e o mundo. Com a greve dos ônibus, ao menos 912, dos 2.281 coletivos disponíveis na capital devem parar de circular, segundo dados informados pela BHTrans. Isso significa que cerca de 1,2 milhão de pessoas - média diária de passageiros do município - contarão com apenas 60% da frota total para se deslocar. 

O percentual mínimo de operação do transporte coletivo é definido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT-MG), mas embora o descumprimento da decisão judicial acarrete multa de R$ 50 mil ao Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH), que articula a paralisação, nunca se teve notícia oficial de que essa multa tenha sido paga alguma vez, ainda que como medida pedagógica da desobediência.

O metrô pode até ser uma alternativa para evitar a longa espera nos pontos de ônibus da capital. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos de Belo Horizonte (CBTU/BH) informa que vai reforçar as viagens. Porém, o metrô também é caro, caótico e insalubre, e de metrô não tem nada, pois mais parece um trem sobre trilhos, sempre lotado, barulhento, desconfortável e insuficiente.

Mas, pelo sim, pelo não, melhor contar o “metrô”, que conforme prometido pela CBTU, haverá mais trens disponíveis à população enquanto durar a greve dos ônibus. A companhia pretende substituir os veículos simples (de 4 carros) pelos acoplados (de 8 carros), de acordo com a demanda nas estações. E outra medida anunciada é a manutenção por mais tempo do intervalo de 7 a 10 minutos entre as viagens, normalmente adotado nos horários de pico. 

Quando se diz que o transporte coletivo é paredista, a crítica não é direta aos trabalhadores, mas aos gestores, que não garantem a mobilidade urbana com tranquilidade na cidade nem se preocupam com a remuneração justa dos motoristas e demais elementos da categoria.

Se os rodoviários alegam estar sem aumento há dois anos e reivindicam reajuste de 9%, mais correção dos vencimentos pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), e defendem outras pautas como  retorno do ticket nas férias, pagamento do abono 2019/2020 e fim da limitação do passe livre, cabe ao poder público municipal tomar a frente e negociar exaustivamente até alcançar um consenso entre as partes.

Se a categoria chegou a cruzar os braços em 22 de novembro, mas suspendeu a greve 24 horas depois, após a sinalização de um acordo pelo Sindicato das Empresas de Transporte Público de Belo Horizonte (Setra-BH), cabe aos empresários, poder público municipal e Tribunal do Trabalho avaliar, reavaliar e decidir sobre uma proposta que melhor atenda a categoria. O que não pode e não deve ocorrer é o que deixaram acontecer, uma greve de ônibus com a população ainda abalada e em recuperação dos transtornos imensos da pandemia de Covid-19.

Os lamentos das pessoas que usam o transporte coletivo se dão de várias formas. Vejamos:

“Já estou no ponto há duas horas, e nenhum ônibus para o centro e bairros  passou. Já estou atrasado em quase duas horas, vou ter que pegar um uber senão, pelo jeito, vou ficar no ponto”, disse uma primeira pessoa.

“Depois de duas horas, meu ônibus chegou e nem sei se vai dar para eu entrar, já tem gente na porta, mas vou ter que dar um jeito não posso atrasar mais”, afirmou uma segunda pessoa.

Nas avenidas da capital os ônibus também estão escassos, e quando algum passa a superlotação é certa. E assim, enquanto o poder público e os empresários fazem jogo duro, a população vai amargando mais um dia de cão, com dificuldade enorme para deslocamento e incerteza a que horas poderá voltar para casa no final do expediente.

Sabem o que acontece no transporte coletivo de BH e nos demais estados brasileiros? Ao meu sentir acontece o seguinte:

Os governantes das esferas municipal, estadual e federal estão acomodados, e quando tentam trabalhar, isso se dá de forma precária e tardia. Ora, a cidade é dinâmica, e tem que ser pensada sempre a curto, médio e longo prazos. A mobilidade urbana há décadas vem mostrando deficiência, insuficiência e lentidão na fluidez do tráfego, sendo necessários urgentes investimentos em transporte de massa, como trem e metrô, e aumento de investimentos no planejamento viário urbano, entre outras medidas.

Há décadas o Brasil tem uma demanda muito grande por infraestrutura urbana, que não vinha recebendo recursos suficientes. O governo de Jair Bolsonaro tem trabalhado forte nas questões de infraestrutura do país, e o ministro Tarcísio Gomes de Freitas tem adotado medidas mais arrojadas, mas ainda incapazes de suprir os muitos anos de ausência de verbas para o setor. Daí as soluções bem-vindas por parte do governo federal, para conseguir o dinheiro, investir e preparar efetivamente os técnicos e os projetos (ambos indispensáveis para a solução do problema).

O mais viável e mais acertado seria o governo federal liderar campanhas em prol da mobilidade urbana com preços justos, com conforto, com segurança e com tranquilidade para a população. Mas para isso é preciso que a esquerda, a oposição e os demais contrários deixem o presidente Bolsonaro trabalhar em paz, e que seus ministros mostrem o mapa e o resultado da gestão bem feita, do desenvolvimento e do crescimento. O Ministério de Infraestrutura tem feito um bom trabalho, que promete excelentes frutos, e o ministro Tarcísio tem sido visto como um dos melhores nos últimos tempos.  

No caso concreto de Belo Horizonte, o caminho há de ser no mesmo sentido, acompanhando o governo federal, sentando e conversando, projetando e executando, uma vez que só assim se consegue sair da mesmice e das agruras de enfrentar greve de transporte público e de conviver com ônibus e metrô sempre lotados.  

Bons exemplos mundo afora precisam ser seguidos. Eis os casos de Singapura, Hong Kong, Paris, Copenhague, Seul, Berlim, Nova Iorque, Amsterdã, Zurique, Londres, que possuem diversidade de modais; sinais de tráfego inteligentes; sistemas MTR (Mass Transit Railway); ônibus de dois andares; tecnologia e gestão automatizada de ônibus e trens; conexão rápida entre áreas de subúrbio e regiões centrais; pistas exclusivas para bicicletas; redes de greenways, que conectam a cidade de ponta a ponta; uso de city pass com descontos; metrôs, ônibus e táxis integrados; incentivo à classe média para uso do transporte público; linhas suplementares de ônibus, tróleis, trens e BRTs; construção de ciclovias largas, com três pistas; linhas expressas que conectam todo o sistema de transporte; entre outros itens que priorizam a mobilidade humana e criam alternativas ambientalmente corretas e econômicas, que contemplam toda a população.

Em assim sendo, resta ao Brasil e aos brasileiros dizerem não ao transporte coletivo caro, caótico e insalubre. E dizerem sim à urgente e necessária melhoria do transporte público e ou coletivo nas cidades, como logo acima citado nos exemplos de metrópoles e governantes que querem e sabem como fazer. A ideia é fazer agora, já, sem mais demora, de forma que a sociedade exija que os governos municipais, estaduais e federal invistam em redes de transportes coletivos maiores e mais eficientes, com bom custo-benefício e que atendam grande quantidade de pessoas. Exemplos não faltam mundo afora.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

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Comentários

  1. Bravíssimo!!! Amei o artigo. Nota 1000!!! Parabéns Doutor Wilson Campos. At: Wal M.

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  2. Melquíades Vitoriano3 de dezembro de 2021 às 12:11

    Eu conheço parte da Europa e não posso nem comparar com o transporte público que temos aqui. A diferença é absurda. Lá tudo funciona e com rapidez. Aqui nada funciona direito e ainda temos as trapalhadas de sempre de políticos e empresários gananciosos. Muda meuBrasil. Muda! Parabéns doutor Wilson Campos pelo excelente Blog e pelos excelentes artigos com ótimos temas e sempre defendendo o Brasil e os brasileiros, e Minas e os mineiros. Excelente. Abraço do Melquíades Vitoriano.

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  3. O nosso transporte público é muito ruim, anda sempre lotado, faz muita paradas e não tem ar condicionado regular para todo o trajeto. Um calor absurdo e o barulho do motor do ônibus e tudo balança e treme. Uma carroça melhorada. E o metrô é a mesma coisa uma vergonha total. Um trem desengonçado que anda sobre trilhos. Coisa do século passado. Só aqui mesmo. PelamordeDeus. Obrigado pelo artigo e texto do blog doutor porque representa o que penso e muita gente pensa e isso precisa melhorar depressa. Valeu. Abr. César Damião.

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  4. Dr. Wilson Campos meu nobre e competente escritor e advogado, peço licença para acrescentar o seguinte: ...transporte coletivo de BH é caro, caótico, insalubre, lotado, lento, inconstante, sem conforto e sem respeito como usuário. Eu uso muito o transporte coletivo porque moro do lado de um ponto de ônibus e o outro BRT me deixa na porta do meu serviço. Isso todos os dias. Mas não é bom e é dureza ir e vir todos os dias chacoalhando e de pé na maioria das vezes. Cansa e estressa muito. Pronto falei e comentei no blog. Parabéns doutor. Abração. José Júlio.

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  5. Eu também uso o transporte público e digo a mesma coisa. Podia ser melhor e com conforto e mais barato. Gostei do artigo como sempre excelente e sempre na defesa da nossa sociedade. Muito bem dr. Wilson Campos, muito bem. Quem sabe um dia teremos aqueles metrôs de filme que a gente vê em NY, Londres, Paris, Tóquio... Hein? Maravilha de metrô. Vamos rezar pra ter aqui um dia emBH. Parabéns dr. Wilson e obrigadaaaa. Att: Marlene Silvério.

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