LEIS EXISTEM. FALTA VONTADE POLÍTICA.

Uma nação inteira vivendo aos sobressaltos não representa a essência da democracia pretendida. A intranquilidade não mais é coisa de momento. O descrédito generalizado toma conta das ruas e o cidadão sofre, recluso, limitado no seu direito de ir e vir.

Falta vontade política para solucionar inúmeros problemas de gravidade máxima neste país. Leis existem, mas de fato o que resta, apesar da lamúria geral, jogadas pelos cantos, são a inércia do povo, a pouca ou nenhuma vontade política de fazer acontecer e a cultura da irresponsabilidade.

O povo, soberano, parece desconhecer os seus deveres, porquanto não saiba ao certo os seus direitos. E desse lapso de memória personalíssimo se locupletam os aproveitadores, distanciando cada vez mais o cidadão da sua real importância no curso da história. E a vida desse povo vai se tornando segregada, insipiente, mecânica, sem os frescores da liberdade ainda que tardia.

Enquanto alguns dormem o sono dos inocentes, não dos justos, outros cochilam sob o manto da ignorância. A indiferença grassa por todos os lados e não os incomoda, posto que impregnada no corpo e na alma destes seres tangidos como ovelhas de engorda.

O ser humano não é isto. O ser humano é a  vida pujante de uma nação, em constante crescimento, necessariamente de forma sustentável. E as rédeas devem ser tomadas por este povo, na condução sem muitos solavancos desta nação que se almeja livre e equivalente nos seus valores sociais.

Falta vontade política para garantir igualdade para todos. As diferenças abissais que sempre causaram enormes dissenções sociais precisam acabar. A falta de prevalência exemplar da educação e da moral no seio da família, sobretudo entre os menos favorecidos, agrava essa situação e recrudesce os corações.

As causas da grave crise social que vivenciamos por aqui têm raízes múltiplas e dentre elas a descrença política, os maus exemplos dos representantes do povo, a impunidade, a cultura da irresponsabilidade e os assassinatos culturais que desaguam no crescente volume de criminalidade urbana e que lamentavelmente corroboram a explicação simplista de tanta fúria e violência.

A impotência diante desses fenômenos não está na inexistência de leis. Está na falta de vontade política. Está no reticente afastamento da população do processo de condução dos rumos deste país. Está na omissão dos cidadãos mais esclarecidos, de cabeças pensantes, que alheios aos problemas que circundam a todos, se isolam na mesmice das alegações de terras arrasadas.

Exigir mudanças é uma obrigação nacional, mormente quando se conspiram contra o povo os piores dos regimes totalitários - do segredo, da mentira, da corrupção e da vilania. Mas o Brasil tem jeito. Sim e com certeza, quando a sociedade reconhecer nos seus direitos e deveres o seguimento da vida reta, digna e sem favores assistencialistas de governos oportunistas.

Sem dúvida que a preguiça do povo em lutar por direitos, em menor ou maior grau, faz coro à apatia natural do brasileiro, numa cultura continuada do silêncio diante das questões relevantes e gritantes que assolam a vida conturbada da sociedade. Nem por isso justifica a formação de grupos de hipócritas que se deleitam à custa de uma nação conhecidamente acolhedora.

O povo, anestesiado, embora perceba o que acontece à sua volta, não tem forças para reagir. A sociedade não grita, não cobra e não parte para o confronto. Vivemos uma era eterna do "jeitinho brasileiro de ser", onde levar vantagem não constrange e os custos morais de tudo isso não importam.

Se por um lado, os governantes desconversam e volta e meia retornam à tergiversação, sem nenhuma vontade política para atacar os problemas sociais, por outro lado, a nação se mostra encolhida e despreparada para de pronto enfrentar com eficiência os desafios que se apresentem. 

Leis existem, mas definitivamente falta vontade política aos gestores públicos, em todos os assuntos que digam respeito à preservação dos valores sociais e à dignidade da pessoa humana.

Wilson Campos (Advogado).