VERTICALIZAÇÃO IRRACIONAL A QUALQUER PREÇO.
Os
cidadãos belo-horizontinos continuam frustrados com a administração municipal,
diante da insistência imprudente de se trocar o verde da natureza pelo cinza do
concreto armado, irracionalmente e sem qualquer planejamento adequado, priorizando
as condições impostas da verticalização em detrimento do desenvolvimento
sustentável.
Esperava-se
por parte do prefeito, dos secretários municipais e da câmara de vereadores, um
mínimo de coerência na adequação de espaços urbanos, transporte
público, escolas, hospitais, segurança, áreas de lazer e meio ambiente
equilibrado. Nada disso tem sido a tônica do discurso de gabinete, o que
tornam cada vez mais descrentes as comunidades esperançosas por atitudes
sociais eficientes.
O
desenvolvimento pretendido pelos administradores e técnicos da prefeitura não
parte da premissa urgente de preservação ambiental combinada com a sadia
qualidade de vida; não cogita da ampliação de infraestrutura local associada à apressada
verticalização; não enfatiza a harmonia exigível entre adensamento e
mobilidade urbana; não responsabiliza o potencial empreendedor se percuciente o
impacto ambiental e não se compromete na manutenção das garantias já
conquistadas pelos moradores.
Os
planos diretores, segundo leciona a cartilha da prefeitura, não têm o
poder de resolver todos os problemas regionais. Ora, evidente, ainda mais
quando idealizam para a cidade um amontoado de bairros verticalizados, densos,
congestionados e sufocados pelas poluições sonora,
visual, atmosférica, da água e do solo - todas, degradantes da
qualidade ambiental, prejudiciais à saúde humana, adversas ao bem-estar da
população e inadmissíveis do ponto de vista jurídico.
Melhor
seria um plano diretor e uma política urbana com visões humanísticas, voltados
para a proteção do meio ambiente e para melhores condições de vida. No entanto,
o que se vislumbra para um futuro bem próximo, lamentavelmente, diante destas
irresponsabilidades cometidas é uma capital árida, poluída, sem beleza natural,
sem perspectiva ambiental, voltada apenas para a especulação imobiliária.
Numa
atitude conciliatória, se admitiria que para cada cinco arranha-céus a
prefeitura construísse ao menos um hospital, uma praça, uma escola, um posto
policial, uma unidade de saúde e definisse como ferramenta mais condizente
com a sua realidade a demarcação intocável a partir daí, de áreas de diretrizes
especiais e de zonas de proteção ambiental, acompanhadas de proteção
permanente e defesa intransigente das matas e fragmentos ambientais restantes
na cidade. Tudo isso, somado ao diálogo que surgiria naturalmente entre as
comunidades locais e o poder público municipal, que não apenas iria ouvir, mas
escutar o povo nas suas demandas mais urgentes.
E
por que não a implantação também de um metrô de qualidade, com ar condicionado,
bancos confortáveis, espaços limpos e que levasse os cidadãos a todos os
bairros, que atendesse a cidade inteira, que deixasse os turistas próximos das
atrações, que tivesse estações amplas, que facilitasse a vida do trabalhador e
que tornasse o seu dia-a-dia mais digno?
Esses
são alguns itens capazes de realizar um plano diretor, uma política
urbana e uma lei de uso e ocupação do solo com possibilidades de agradar à
sociedade, transparentes e abertos a sugestões da população.
Em
Belo Horizonte, as ameaças ao meio ambiente têm sido constantes, numa prática
abusiva de corte de árvores, destruição de áreas verdes, retirada de garantias de
áreas especiais e excesso de demagogia e despreparo no trato da coisa pública.
A
negligência da administração municipal que faz vistas grossas às investidas do
setor imobiliário, sob a alegação simplória de que se trata de negócio entre
particulares, permite a invasão das motosserras, dos tratores e do concreto
armado, transformando áreas verdes em prédios residenciais e comerciais, num
total desrespeito à preservação do meio ambiente. O saldo destas práticas
abusivas é negativo, posto que o ser humano pague um preço muito alto por estes
atos impensados e irresponsáveis.
O
desenvolvimento é bom e necessário, mas que o seja para todos de forma
sustentável, humanizado e ético em todos os sentidos. A matança indiscriminada
do habitat verde é desumana e desnecessária.
Pedem
por socorro as áreas verdes que ainda restam em nossa cidade, dentre elas as
mais ameaçadas como a Mata do Planalto, a Mata do Jardim América, a região do
Isidoro e outras que abrigam um cinturão verde de árvores protegidas por leis
ambientais.
Revela-se
inexplicável a inoperância do poder público frente a tantos absurdos seguidos,
assim como inexplicáveis o comodismo e a submissão do povo desta cidade que
jamais voltará a ser chamada de cidade jardim, infelizmente, para desespero
destas e de gerações vindouras.
Afinal,
difícil entender que onde se pratica uma das maiores cargas tributárias do
mundo, as administrações públicas não queiram trabalhar em função de quem paga
a conta - o contribuinte - este cidadão cumpridor de seus deveres e que tem o
direito ao retorno de uma melhor prestação de serviço público, embora a outra
parte esteja negligente na sua obrigação de fazer e cada vez mais distante da
defesa do verdadeiro interesse público.
Wilson
Campos (Advogado/Assessor Jurídico do Movimento das Associações de Moradores de
Belo Horizonte/Pós-Graduado em Direito Tributário e Trabalhista/Membro da
Comissão de Dir. Trib. da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do Jornal HOJE EM DIA, edição de 09/02/1013, sábado, pág. 23).
Comentários
Postar um comentário