BOLA NAS COSTAS- ARENAS EM VEZ DE HOSPITAIS.

Não resta dúvida de que a Copa é positivamente rentável para a Fifa, mas não para o povo. As promessas de impulso ao turismo internacional, razoável geração de empregos, melhoria do transporte urbano, modernização dos portos e aeroportos e forte arrecadação fiscal ficam reduzidas ao círculo de poucas capitais, quando muito. O restante do país que espere sentado pelo legado econômico, porque este dificilmente virá.

Hodiernamente, o futebol vem despertando nas pessoas certa desconfiança, baseada nas notícias de que o "tapetão" vem assumindo o lugar das decisões que deveriam ser tomadas com imparcialidade, transparência e dentro da estrita legalidade.

A "bola nas costas", por sua vez, causa enorme constrangimento na população quando é revelado que o custo total estimado dos investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo de futebol no Brasil ultrapassa R$25 bilhões. Desse total, apenas 15% são financiados pela iniciativa privada. Imagina quem paga os outros 85%! O governo, é claro! Com o dinheiro do povo!

Povo que não tem hospitais adequados, suficientes e aparelhados e que enfrenta uma maratona de meses de espera para marcar uma consulta médica. Povo que morre nas filas ou que simplesmente é tratado em macas enfileiradas nos corredores insalubres, sujos e propícios a contaminação.

Se o Estado chama para si a responsabilidade da construção de "arenas" multiuso, com aporte de verba pública, é de suma importância que esse ato não represente uma redução do gasto público em outros setores da sociedade, mesmo porque o equilíbrio da racionalidade humana interpreta como imprescindível o dinheiro público aplicado na construção de um moderno hospital em vez de uma "arena" esportiva fomentada à custa do pobre contribuinte brasileiro.

As "arenas" construídas ou reformadas não trarão a contrapartida de forma célere, com isso empurrando a obrigação do pagamento para a população que, possivelmente, na sua maioria, nunca terá oportunidade de sequer adentrar tais "arenas" ou até mesmo assistir a algum dos megaeventos. É o que se pode chamar de privilégio, luxo e favorecimento para uns em detrimento de outros. E assim caminha a sociedade brasileira manipulada por governos populistas.

O endividamento de algumas sedes tornará inviável a realização de outros projetos sociais mais urgentes, tamanho o ônus dos fabulosos investimentos que dificilmente compensarão os sacrifícios da população já excessivamente tributada. Vejamos: Arena Amazônia (Manaus), R$604 milhões; Pantanal (Cuiabá), R$537 milhões; Fonte Nova (Salvador), R$689 milhões; Maracanã (Rio de Janeiro), R$1,6 bilhão; Mineirão (Belo Horizonte), R$695 milhões e Mané Garrincha (Brasília), R$1,56 bilhão. Uma fortuna que poderia ter sido direcionada para a construção de novos hospitais, escolas, estradas, etc.

O Brasil é destaque no futebol, mas desta vez tomou "bola nas costas" e, mesmo que ganhe a competição pela sexta vez, com certeza não terá sido positivo o saldo, porque o legado econômico não estará à altura dos gastos despendidos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).   

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