O DIREITO DE SE INDIGNAR, ANTES QUE LHE CALEM A VOZ!

Em uma democracia não se pode afastar o discernimento critico e, muito menos, calar a voz do povo. 

Subliminarmente, a indignação - que era apenas coisa do povão - agora suplanta as esferas sociais e chega às elites, também incrédulas com a desfaçatez e a mediocridade das políticas governamentais em seu corporativismo e na defesa de interesses próprios.

Cresce a repulsa do cidadão que, ainda letárgico, entre um sono e outro, acorda, sai às ruas, toma as avenidas e se aloja nas praças, em sua forma cívica de livre manifestação. No entanto, passados alguns poucos dias, tudo volta a ser como antes e o esquecimento toma conta, apaga as mentes e não traz os benefícios sociais requeridos.

As leis são desrespeitadas e o exemplo parte das autoridades que chegaram ao poder sem o menor talento para servir ao povo, mas que são protagonistas na arte de se locupletarem e de garantirem benesses aos amigos do rei, salvo raríssimas exceções.

Entre pasma e boquiaberta, a sociedade jamais imaginou que os supostos líderes milagrosos seriam de barro e que, de tão frágeis, se romperiam em partes, deixando o povo no lamento de que teria saúde, paz, segurança, educação e alegria de viver. Ledo engano. Os dias serenos seriam trocados por impunidade, impunibilidade, roubalheira, violência, cobiça, ódio e rancor.

As hostes dos governos municipal, estadual ou federal não se explicam. Apenas tergiversam e esperam no frescor de seus gabinetes os louros, os rendimentos e o beija-mão dos bajuladores. A rotina do luxo não lhes permite trabalhar com austeridade. Eles nem se importam, porque o povo ainda ressona em berço esplêndido. 

Causa engulhos assistir a tudo isso, contrariamente aos desejos da sociedade, que se posta na expectativa de um futuro melhor, decente, ético e digno da pessoa humana. Derrotar essa parcela de gente despossuída de sentimento cívico é uma questão de honra para a população, que deve repudiar com veemência os métodos e práticas utilizados pelos ladrões de sonhos, corruptos ativos e passivos, ímprobos da administração pública, praticantes do peculato, da concussão e da prevaricação.

Os sentimentos de ética e cidadania precisam tomar forma, se avolumar e firmar no combate aos inimigos do povo, colocando um ponto final na angústia que acomete a sociedade, não deixando que os fanfarrões silenciem a coletividade. Caso contrário, sentiremos na pele a força das palavras do poeta que narra a submissão e a tragédia: Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”. (Eduardo Alves da Costa, em "No Caminho com Maiakóvski").    

Enfim, deixaremos que arrasem com nossos sonhos, destruam nossas famílias e calem a nossa voz?

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 19/01/2014, pág. 17).

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