DESPERDÍCIO DE DINHEIRO PÚBLICO.


Tudo depende de bons exemplos. Imaginem os políticos municipais, estaduais e federais se deslocando de ônibus, de bicicleta ou de metrô da residência para o trabalho; pagando moradia, alimentação e viagens do seu próprio bolso; utilizando hospitais públicos; educando seus filhos em escolas públicas; dirigindo os seus próprios carros e cumprindo carga horária de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas (!?). Imaginem como esse país seria diferente, diante desses exemplos efetivados, com outras perspectivas e olhares aqui e lá fora. Imaginem!

Ao mesmo tempo dos exemplos referidos, por óbvio que a ação seria em cascata, envolvendo todas as diretorias executivas de empresas, autarquias e órgãos públicos. Cortes gerais e sem distinção, também nesses setores, em todas as esferas, em todos os municípios, estados e União. Sem exceção!

Nota-se que o exemplo de diminuição de gastos públicos e a solução para o problema de caixa do governo dependem dos setores político e institucional. A gastança, que precisa ser freada a qualquer custo, não tem relação com o cidadão comum. Esse mal que arrebenta com o país passa pelas excessivas despesas que os políticos só fazem crescer. Despesas pessoais, de gabinetes, de escritórios regionais, de mordomias inexplicáveis e de desperdício do dinheiro público.

Aliás, a bem da verdade, resta evidente que não está longe da capacidade do homem ou da mulher, brasileiros natos, mesmo sem conhecimentos elementares de economia, entender que a sangria precisa ser estancada imediatamente. Ora, a recessão requer atitudes drásticas e as contas públicas exigem equilíbrio severo e sem muita demora.

A gestão do novo governo está à prova. O voto de confiança dado à equipe que assume essa nova administração, embora interinamente, tem prazo de validade. Os novos ministros têm pouco tempo para dizer a que vieram. O toma cá adotado por Michel Temer torna tudo mais difícil, aliás, como antes, fazendo vergonhosamente transparecer que a troca de favores continua, mesmo com o país no buraco.

Tentar cobrir o rombo com o esforço do trabalhador não é admissível. É preciso acabar com o desperdício de dinheiro público. Gastar apenas parte do que arrecada e aplicar o saldo nas demandas sociais. Ademais, uma coisa é certa: tirar da cartola mais uma criatura monstrenga de tributação, como a aludida CPMF, ou retirar garantias trabalhistas e previdenciárias, não aquietam o mercado e, ao contrário, acabam por fustigar o levante social contra uma política de governo que só ferra com a população. Daí o risco de o povo voltar às ruas e dessa vez pedindo por novas eleições gerais.

O ajuste fiscal, a redução dos juros, a criação de empregos e a normalização da grave crise econômica e política não podem ser debitados ao trabalhador e às classes mais pobres, uma vez que o grande culpado pelo que está acontecendo no país é o próprio governo, que está mais para desgoverno, seja antes ou agora com a ameaça de novo tributo e inovações na aposentadoria. Fazer cortesia com o chapéu alheio, não! Administrar o país com o cofre cheio de dinheiro é fácil. Agora, o que se quer ver é administrar sem muito dinheiro e sem o sacrifício do povo. Isto sim é gestão.

Pode parecer impraticável ou até mesmo absurdo para muitos, mas a solução do controle de gastos públicos remete a cortes profundos nos salários dos membros do Executivo, Legislativo e Judiciário. Por que não? Se é para ter sacrifício que comece pelo exemplo dos poderes constituídos. E esses cortes devem atingir todos os gastos, incluindo despesas com carros, moradias, viagens, cotas, cargos de confiança e quaisquer outras que fujam da realidade salarial do povo brasileiro. Chega de mordomias com o suor do cidadão!

Tomadas essas iniciativas e colocadas em prática, o controle de gastos e o ajuste fiscal viriam como bônus, numa percuciente reforma automática de rumos políticos e econômicos. Os setores empresariais voltariam a acreditar na seriedade política e retomariam o crescimento e a produção de riquezas, enquanto o trabalhador se sentiria mais cidadão, mais igual e não tão diferente dos seus nobres representantes.

Observe-se que não se falou em reduzir salários de servidores públicos comuns, mas em cortar salários e benesses extravagantes de dirigentes de estatais e de políticos dos três poderes. Com isso, o setor produtivo nacional e a força trabalhadora seriam tomados de inspiração para continuar bancando essa carga tributária escorchante, que não tem a contrapartida de um adequado serviço público de qualidade. Mas essa seria a próxima etapa da evolução de um governo que se pretende para o país, sério e justo, posto que não se possa pagar caro por um serviço público que não é entregue.

Utopia? Sonho? Devaneio? Cabe ao povo decidir, enquanto aprende, verdadeiramente, votar!

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

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