A DOR E A GLÓRIA DO ESFORÇO OLÍMPICO SOLITÁRIO.

 

Silenciosamente, os atletas brasileiros deixaram um recado às instituições e ao governo, notadamente quando disputaram com força e fibra os jogos da Olimpíada de Tóquio 2021 e demonstraram claramente que, apesar dos investimentos e incentivos desiguais, a dor e a glória do esforço solitário se somariam à vontade de vencer.

São 21, os medalhistas brasileiros em Tóquio - 7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes.

Os vencedores, dignos de aplausos e reverências são:

Ouros: 1. Ana Marcela Cunha - Maratona aquática; 2. Ítalo Ferreira – Surfe; 3. Martine Grael e Kahena Kunze - Vela 49er FX; 4. Rebeca Andrade - Ginástica artística: salto; 5. Isaquias Queiroz – canoagem; 6. Hebert Conceição - boxe peso médio; 7. Seleção masculina de futebol.

Pratas: 8. Kelvin Hoefler - Skate street; 9. Pedro Barros - Skate park; 10. Rayssa Leal - Skate street; 11. Rebeca Andrade - Ginástica artística: individual geral; 12. Bia Ferreira - boxe peso leve; 13. Seleção feminina de vôlei.

Bronzes: 14. Abner Teixeira - Boxe até 91kg; 15. Alison dos Santos - 400m com barreira; 16. Bruno Fratus - Natação 50m livre; 17. Daniel Cargnin - Judô até 66kg; 18. Fernando Scheffer - Natação 200m livre; 19. Luisa Stefani e Laura Pigossi - Tênis (dupla); 20. Mayra Aguiar - Judô até 78kg; 21. Thiago Braz - Salto com vara.

Apesar da pandemia de Covid-19, que afeta o mundo inteiro, a esplendorosa festa da Olimpíada de Tóquio, no Japão, versão 2021, foi realizada com primor e deu orgulho a muitas nações, que brilharam com suas competições de diferentes modalidades esportivas. Os Jogos Olímpicos, que são realizados a cada quatro anos, contam com a participação de atletas de todos os continentes do mundo. A festa é uma reunião de competidores consagrados e de outros nem tanto, mas todos imbuídos da máxima vontade de vencer.

As Olimpíadas 2021, que deveriam ter sido disputadas na metade de 2020, aconteceram entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021. A chama olímpica foi apagada depois de 17 dias de disputas nas arenas de Tóquio, marcando o fim dos Jogos.

Para o Comitê Olímpico Internacional (COI) e para o Comitê Organizador dos Jogos, ter conseguido realizar as Olimpíadas em tempos de pandemia do coronavírus foi um desafio superado. Uma barreira que todos esperam que não se repita a caminho dos Jogos de Paris, em 2024.

Em razão da terrível pandemia, o Japão teve de reduzir os custos das cerimônias de abertura e encerramento. Ainda assim, a festa de domingo (8) foi marcada por um show de luzes na formação dos aros olímpicos, simbolizando a energia de todos os torcedores que não puderam estar nas arquibancadas.

Como é de costume na Cerimônia de Encerramento, todas as bandeiras dos países entraram juntas no Estádio Olímpico. A ginasta campeã olímpica Rebeca Andrade foi a porta-bandeira do Brasil. Por causa da pandemia do coronavírus, 63 das 206 delegações não enviaram representantes, e suas bandeiras foram carregadas por voluntários. A cerimônia de encerramento acabou com uma chamada para as Paralimpíadas de Tóquio. A abertura dos Jogos Paralímpicos está programada para o dia 24 de agosto.

A cerimônia de encerramento da Olimpíada de Tóquio mostrou que, além de disciplina e organização, o povo japonês sabe fazer festa e também conta com um lado descontraído e divertido. O público reduzido não tirou o brilho do encerramento de uma edição que vai ficar na história por tudo que representou. 

Os elogios ao Japão foram quase unânimes, por ter conseguido, além de unir os povos, confirmar os Jogos em meio a uma pandemia que colocou sua realização em risco, exigindo cuidados, protocolos e muitas obrigações sanitárias, mais do que necessárias. 

Parte da imprensa nacional e internacional destaca: “Clipes com a presença de pessoas fundamentais para a realização dos Jogos também mostraram que o evento vai muito além dos atletas, técnicos, resultados e medalhas. Elementos japoneses também foram reforçados para ratificar a cultura do país-sede, que fez um grande esforço para não deixar a realização escapar por entre os dedos”. 

Como dito logo acima, o Brasil foi representado, na cerimônia de encerramento, por Rebeca Andrade como porta-bandeira, um prêmio pelo ouro e prata conquistados na ginástica, além do boxeador Hebert Conceição, que conseguiu o ouro na sua categoria.

No todo, o Brasil se saiu muito bem. São 21 medalhas e 12º lugar no ranking mundial. Os atletas brasileiros vestiram a camisa, suaram muito e deram o seu máximo. No entanto, o outro lado da moeda precisa ser desnudado, uma vez que as instituições e o governo não deram e não dão a necessária atenção para aqueles e aquelas que treinam e se matam para conseguir um lugar nos Jogos Olímpicos.

Isso precisa mudar. Em vez de destinar recursos bilionários para campanhas eleitorais, o governo e seu sistema bicameral deveriam olhar para os atletas com outros olhos, e investir pesado nas crianças, nos jovens e nos adultos que se interessam pelas Olimpíadas ou por outras disputas esportivas nacionais e internacionais.

A superação dos atletas brasileiros é perceptível e louvável. A dor e a glória do esforço solitário são as provas absolutas de que o atleta brasileiro se vira quase sozinho, haja vista a desigualdade na hora de distribuir investimentos para o esporte. Isso quer dizer que determinados esportes são mais privilegiados, em detrimento de outros.

Lado outro, existe a alegação do governo de que os investimentos são feitos, embora de forma desigual. Ou seja, algumas entidades esportivas recebem mais que as outras e isso causa um descompasso muito grande, principalmente nas categorias de base. O esporte de alto rendimento recebe mais verbas do que o básico, aquele que está iniciando, se formando e se preparando para alçar voo mais alto. E essa distribuição de renda desproporcional e desequilibrada está errada, e precisa ser corrigida, o mais rápido possível, para que haja isonomia de tratamento nas categorias esportivas que visam competir nas próximas Olimpíadas.  

O esforço solitário de muitos atletas requer atenção do governo brasileiro, de forma que os investimentos sejam mais bem distribuídos e de maneira que as entidades controladoras dos esportes de ponta sejam mais justas com os esportes de base. A formação atlética de um país nasce com uma criança, com um adolescente e com a orientação correta de bons técnicos, mestres e professores.  

Estádios, ginásios, piscinas, pistas, estrutura e infraestrutura para a prática do esporte existem. Veja-se o caso das obras bilionárias realizadas para os Jogos Olímpicos Rio 2016, além de outros monumentos esportivos espalhados pelo Brasil, construídos para a Copa do Mundo de 2014.  

Basta vontade política e social para a solução do problema. Basta interesse das entidades esportivas. Basta melhor distribuição dos investimentos. Bastam disciplina e capacidade técnica para orientar os jovens atletas. E basta começar agora, já, para que em 2024, em Paris, os nossos atletas estejam efetivamente preparados para mais ouros, pratas e bronzes, e colocações melhores no cenário mundial, de preferência entre os cinco países mais bem premiados.

Portanto, antes da crítica exclusiva ao governo, vamos avaliar uma melhor distribuição dos investimentos entre as diversas entidades esportivas. Isonomia no tratamento. Além de investir no atleta, há que se investir em educação e treinamento, com a indispensabilidade de bons professores e treinadores qualificados. O esporte precisa de verba, mas precisa também de distribuição justa dos investimentos públicos entre as entidades esportivas e de bons e capacitados técnicos na orientação da juventude interessada no esporte e no brilho das medalhas dos Jogos Olímpicos. 

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, cível, trabalhista, empresarial e ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).   

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Comentários

  1. O governo federal investiu mais de R$ 750 milhões no esporte olímpico do país, incluindo os programas de apoio Bolsa Atleta e o Bolsa Pódio. Essa notícia está nos jornais e ninguém desmente, então é verdade, e os investimentos são feito, mas tem federação mais forte que pega ainda mais e não diz nada enquanto outras menores ficam a ver navios. Brincadeira isso. Dr. Wilson o seu artigo é nota 10 e alertou para a questão de precisar uma melhor distribuição dos valores dos investimentos entre todos, muito justo e correto. Abração. Pedro L. Filho.

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  2. Livia A. G. Bragança10 de agosto de 2021 às 10:55

    Os investimentos existem mesmo e são pegos pelas federações mais gulosas que não deixam quase nada para os outros atletas de outras modalidades. Os maiores levam vantagens e os menores ficam contando as moedas e os atletas passando dificuldades até para treinar. Precisa o governo repartir melhor o dinheiro e exigir que os atletas e treinadores trabalhem firme para conquistar medalhas nos p´róximos jogos. Com seriedade tudo dá certo e o governo e o povo ajudando e incentivando melhor ainda. Parabéns Dr. Wilson pelo beloart5igo e pelo aviso de que a divisão justa é mais o certo e não o mais ou menos. Parabéns. Att Livia A.G.Bragança.

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  3. Em 2021 em Paris vamos para o topo das medalhas e disputar cara a cara com USA,China, Russia, Japaão, etc. Vamos pra cima deles e nossos atletas estão cada dia melhores. Valeu Dr. Wilson pelo texto e valeu medalhistas brasileiros pelo empenho. Até lá. Carlos H.S.

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