FORÇA, CHAPE!
O povo brasileiro despertou
na terça-feira (29 de novembro) sob o impacto de uma notícia trágica, que
abalou o esporte e o país inteiro, e que recebeu manifestações de solidariedade
ao redor do mundo.
A tragédia interrompeu
sonhos. O avião que transportava o time da Chapecoense para a sua primeira
participação numa final da Copa Sul-Americana caiu numa área montanhosa, perto
da cidade de Medellín,
na Colômbia.
O prefeito de
Medellín mobilizou a sociedade, que compartilhou a dor com os brasileiros e preparou
uma emocionante homenagem, deslocando-se, torcedores e moradores da cidade, em
direção ao estádio onde a Chapecoense jogaria. A maioria usava roupas brancas e
chorava muito, numa cena que, seguramente, fez tantos outros milhões de pessoas
chorar ao redor do planeta, em homenagem às vítimas.
A delegação da
Chapecoense pretendia seguir do Aeroporto Internacional de São Paulo, em
Guarulhos, para Medellín num voo fretado da Lamia, que opera a partir da
Bolívia. No entanto, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vetou o
fretamento. Informou que o acordo com a Bolívia não prevê voos como o
solicitado pela Chapecoense. A direção do clube, então, mudou os planos. Faria
a viagem em duas etapas.
A equipe seguiu na
tarde de segunda-feira (28) num voo comercial da empresa boliviana BoA até Santa
Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde chegou às 19h12, horário de
Brasília.
Lá trocou de
aeronave. Pegou o avião da Lamia, que já esperava pela delegação em Santa Cruz.
A aeronave era um Avro RJ85, de fabricação britânica. O avião da Lamia decolou
de Santa Cruz de la Sierra em direção a Medellín.
Segundo a imprensa
colombiana, por volta de meia-noite e meia, entre os municípios de La Ceja e La
Unión, o piloto declarou situação de emergência e avisou a torre de controle
que o avião estava com uma pane elétrica. A partir daí o avião perdeu contato
com a torre de controle e caiu numa área conhecida como cerro El Gordo, uma
região montanhosa a cerca de 30 quilômetros do aeroporto. Eram quatro e dez da
manhã, aproximadamente, quando o trágico acidente foi anunciado.
O
acidente aéreo causou a morte de 71 pessoas, incluindo esses brilhantes garotos,
atletas do esporte mais popular de todos os tempos, o futebol. Os seis
sobreviventes tiveram ferimentos graves. O futebol brasileiro está de luto. A
perplexidade toma conta do Brasil e contagia o povo amigo e solidário da
Colômbia. O sentimento de dor das famílias das vítimas une as duas nações, de
uma forma que emociona o mundo, reflete no comportamento das grandes equipes do
futebol mundial e mostra para os céticos, que só o amor é capaz de transformar
as pessoas de uma maneira tão especial.
A
porta do céu se abre para a arte do futebol, para os garotos da Chapecoense,
que, cheios de alegria, em vida, projetaram-se com entusiasmo rumo ao topo da
glória, com a companhia e o amor incondicional de seus torcedores. Mas, quis o
destino que eles fossem brilhar em outro lugar, sem, no entanto, deixar de
merecer a nossa profunda admiração.
A
comoção é nacional. O choro é meu, seu e de todos que sabem amar e respeitar o
próximo. O choro é do ministro José Serra, que se emocionou diante de um
estádio repleto de cidadãos colombianos, solidários às famílias e ao povo
brasileiro. Famílias padecendo imensurável dor. Brasileiros e colombianos
irmanados na tentativa de compreender o incompreensível, tamanha a tragédia que
desfez sonhos em um átimo de segundo.
A
solidariedade colombiana surpreendeu o Brasil e o mundo. A seriedade do
sentimento foi tão grande, que chegou a arrepiar. A fraternidade, as preces, as
flores, as velas acesas e as homenagens do povo colombiano servirão de exemplo
para os amantes do futebol e de todos os esportes nacionais e internacionais. A
grandeza do gesto amenizou o sofrimento e acalmou os corações.
Mal
sabem os colombianos, na integridade de seu mais puro e admirável comportamento,
que os cerca de 200 mil habitantes de Chapecó recusam-se a acreditar no
desaparecimento de um time cuja existência se confundia com a da comunidade
local. Mas saibam os amados colombianos, que a gratidão da torcida da
Chapecoense se confunde nesse instante com o mesmo sentimento de gratidão
eterna de todo o povo brasileiro.
Jogadores,
comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulação, que morreram no trágico
acidente, são chorados copiosamente por seus familiares e pelo nobre povo
colombiano. A tristeza tomou conta de Medellín e de Chapecó, e envolveu as duas
nações, numa demonstração de solidariedade nunca vista e jamais imaginada. O
ser humano tem dessas coisas, surpreende, positivamente, com afeto e compaixão,
quando menos se espera.
Passadas
as comoventes e exemplares homenagens do povo colombiano, que lotou o estádio e
as ruas, não sem antes receber os nossos mais sinceros agradecimentos pela
nobreza do ato, por favor, tragam agora os rapazes para casa. Antes, porém, tranquilizem
os corações das famílias, prestem honra
e respeito e acalmem o sofrimento e a dor, aos poucos, porque o soluço ainda
está na garganta e as lágrimas teimam em escorrer pelo rosto.
Voltem,
garotos, todos vocês que se foram sem despedir, porque não tiveram chance.
Voltem, para Chapecó, para os seus lares, para o Brasil. Recebam aqui a
confissão de amor e fraternidade do povo brasileiro. Estejam aqui como exemplo
para os atletas que virão e que se formarão com a mesma expectativa de sucesso,
que embalou os sonhos de vocês que partem, mas que deixarão saudades eternas.
Aprendam
os brasileiros com os colombianos o ensinamento da solidariedade, para que
façamos igual, para os nossos e para todos, daqui, dali e de todo lugar. Porque
somos bons. Porque também somos solidários. Mas, porque somos brasileiros e não
desistimos nunca. Vamos chorar e depois recomeçar. Vamos lá! Gracias, Colômbia!
Força, Chapecoense!
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental/Presidente
da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da
OAB/MG).
Comentários
Postar um comentário