1º de ABRIL DE 2018.


 
A simples comparação não serve para definir uma situação de fato, porquanto sejam necessárias as nuanças e os prós e contras das partes envolvidas, com o exercício da livre opinião e da incontestabilidade dos acontecimentos.
               
Neste 1º de abril de 2018, o Exército Brasileiro é visto nas ruas do Rio de Janeiro, autorizado por decreto votado e aprovado pela Câmara e pelo Senado, com expressa autorização do presidente da República e por meio de aval dado pela sociedade. De sorte que, a intervenção federal na Segurança Pública do Estado do Rio, embora planejada a toque de caixa, restou razoavelmente compreendida como democrática, uma vez que não se vislumbravam, na Constituição Federal, outros meios mais rápidos e suficientes para conterem a crescente e incontrolável violência no território fluminense.

No dia 1º de abril de 1964, o Brasil amanheceu com ares de totalitarismo - ruas e praças das cidades mais importantes tomadas por tropas militares; profusão de soldados e tanques a modificarem a paisagem natural dos grandes centros; compreensão de muitos e incompreensão de tantos outros. A rigor, a partir daí, a história brasileira não seria mais a mesma. A divisão de opiniões da sociedade, do antes e do depois do golpe de Estado, até hoje, 54 anos passados, continua a instigar discussões do povo e diversas versões de historiadores, que não se conciliam se houve golpe, ditadura ou revolução, e nem admitem a data como sendo 31 de março, mas 1º de abril a deposição de João Goulart.

São dois fatos. São duas datas. São 54 anos de diferença histórica, de 1964 a 2018. Até 1985, os tempos foram duros. Superados os 21 anos de governo militar, em nenhum momento, nesse longo lapso temporal de 1985 a 2018, os militares interferiram diretamente na política ou desobedeceram a Constituição. São vistos nos quartéis, nas fronteiras, na Amazônia e agora no Rio (extraordinariamente, em face da exacerbada violência urbana local). Mas, ainda assim, em que pese a diversidade de conceitos e opiniões, as Forças Armadas são tidas como uma instituição séria e confiável pela maioria da população, presente em vários cantos do país e sempre mostrando serviço em prol do povo brasileiro.

Tornam-se incomparáveis os militares e os políticos atuais, os serviços prestados, a ética e o comportamento social. Ora, os militares estão sempre presentes na vida nacional. As Forças Armadas respeitam a ordem social e cumprem os rigores impostos pela Constituição vigente. Lado outro, os políticos envergonham pelos atos, omissões, desprestígio, incompetência, má fama e ausência absoluta de ética. Quem a sociedade brasileira prefere, neste momento, as Forças Armadas ou os poderes Executivo e Legislativo, ambos afastados dos reais interesses sociais, de valores invertidos e manipulados pela radical política partidária?

As respostas, por certo, serão díspares. Algumas tomadas por emoção, outras por concepção tradicionalmente política e tantas mais por revelação do real senso de compromisso com o país, independentemente de populismos e demagogias. Entretanto, uma coisa é certa: as Forças Armadas não são e não podem ser transformadas em partido político; e os políticos não são aptos e não podem chamar para si a competência para tratar das questões severas da ordem, da normalidade ou da estabilidade do Estado.

As Forças Armadas de hoje não são as mesmas de 1964. As cabeças pensantes são outras. Os militares, assim como a sociedade, estão engajados na ânsia de eliminar a todo custo a corrupção, a improbidade, os desvios morais e os crimes contra a Administração. O Executivo e o Legislativo, por sua vez, diante da volúpia de seus altos escalões, estão profundamente envolvidos em enormes esquemas de corrupção ativa e passiva, restam desacreditados pela opinião pública e perderam a credibilidade para governar e legislar sem que sejam contestados pelos organismos sociais.

O 1º de abril de antes não é o mesmo de agora. A globalização, as pessoas, as ideologias, as informações, as redes sociais e a rapidez da comunicação tornaram o mundo mais integrado, ligando em poucos segundos os pontos extremos e os sentimentos mais distintos. Daí as reações de setores da sociedade, que não mais admitem a mentira no dia 1º de abril nem nunca, haja vista a intensa vontade de moralização do país. A sobrevivência do Brasil é inegociável, mormente com o fortalecimento definitivo da democracia e o restabelecimento do Estado de direito, livrando o país das deletérias lideranças que insistem na divisão da sociedade.

Assim, o 1º de abril, hoje, espera-se, deva ser apenas mais um dia de retomada de construção de uma sociedade mais humana, livre, justa e igualitária. No mínimo, com estes valores, e nada menos que isto, posto que a história será conhecida por todos os brasileiros, mais dia, menos dia, mas jamais abandonada na sua reinvenção democraticamente necessária.


Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).



Comentários

Postagens mais visitadas