OS VILÕES DOS PREÇOS NA QUARENTENA.

 

Não resta dúvida que existe um grande abuso no aumento de preços praticados no mercado brasileiro, com a alta desnecessária de muitos itens do setor alimentício, que, acredita-se, seja unicamente sob o pretexto e o ponto de vista do lucro. Falta saber a quem isso interessa em momentos tão difíceis de combate ao coronavírus. Seriam aqueles que não prezam o país ou aqueles que não se interessam pelo fim da crise econômica deixada pelos governos anteriores?

 

Os grandes vilões nas prateleiras dos supermercados, em plena pandemia e no regime da quarentena, são: óleo de soja, leite, arroz, feijão e carne. Muitos outros produtos acompanharam a elevação de preços, mas não foram com tanta pressa ao pote.

 

Por uma questão de justiça, faz-se necessário citar aumentos que também têm causado aflição às famílias e temor aos bolsos da população: contas de água, luz , telefone e internet; preços de combustíveis, frutas, verduras, legumes e produtos de limpeza. Tudo isso também pode ser entendido como itens de primeira necessidade, uma vez que fazem parte do cotidiano das pessoas.

 

O assunto é tão sério que, para tentar diminuir preços e evitar choque de oferta e cobrança de explicações, o Ministério da Justiça deu 5 (cinco) dias para que grandes redes de supermercados e produtores expliquem os elevados reajustes de itens da cesta básica. Enquanto isso, o governo decidiu zerar o imposto de importação de 400 mil toneladas de arroz até dezembro, como afirmou a ministra da agricultura. “Com isso a gente vai ter tranquilidade para que não tenhamos nenhuma surpresa (...) as estimativas de safra do arroz são muito boas para os próximos anos, e a colheita começa daqui a pouco, já em janeiro do ano que vem, então acho que com isso o mercado deve dar uma estabilizada nesse momento”, concluiu ela.

 

Mas, creiam, não é só o arroz que preocupa o governo. Feijão, óleo de soja, leite e carne também são acompanhados de perto. Um comitê de diversos ministérios foi formado para monitorar o valor dos produtos da cesta básica e adotar medidas para evitar uma disparada nos preços.

 

Para tentar entender a dimensão do problema e adotar medidas que possam arrefecer os preços mais exaltados, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro quatro vezes na quarta-feira (9). Em uma delas, estava com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que sugeriu uma substituição temporária para o consumo de arroz na mesa do brasileiro. “Nós demos como sugestão promover o macarrão, as massas, como substituição para essa fase aí, até entrar esse arroz e regular o mercado”, afirmou João Sanzovo Neto.

 

Uma boa notícia, uma contradição e um ponto fora da curva intrigam a todos: safra recorde no Estado; redução geral na média dos preços dos alimentos in natura em Belo Horizonte; e aumentos nas gôndolas dos supermercados. Pesquisas recentes dão mostras claras de que, na contramão da tendência do mercado, três itens fundamentais na mesa do consumidor tiveram alta expressiva nos últimos quatro meses: arroz, óleo de soja e leite. Nos três casos isso ocorreu em razão de fatores ligados à produção e ao cenário econômico.

 

O consumidor está assustado e muito pelo fato das incongruências advindas da pandemia, que coloca a população dentro de casa, estressada, ansiosa, sem ganhos suficientes e sem perspectivas diante de um cenário sem vacinas contra o novo coronavírus.

 

Os vilões da quarentena pegaram de surpresa a população brasileira. Vejamos que, com o arroz, a comparação dos preços médios entre abril e o começo de agosto revelou elevação de até 28%. O que se explica por uma situação similar à da carne: a maior procura externa diminuiu a oferta doméstica do produto. Além disso, os preços da saca de 50kg estão bastante acima do valor de referência determinado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A demanda internacional também ajuda a justificar o aumento médio de 14% no óleo de soja (900ml). O grão foi um dos destaques das exportações mineiras (e brasileiras) no primeiro semestre, impulsionado pela alta do dólar.

 

Vejamos ainda que, no caso do leite há uma combinação de fatores para explicar o aumento médio. Os efeitos da seca no sul do país reduziram a oferta do produto - o período atual é de entressafra. E a elevação cambial inibiu a importação que, embora pequena (em média de 4% do volume total), poderia aumentar a quantidade disponível. Some-se a isso um efeito direto da pandemia. "A procura tem sido maior do que a oferta impulsionada pelo auxílio emergencial, que reduz a pobreza extrema e leva as pessoas a procurar o leite, que é alimento de primeira necessidade", explica Celso Costa, diretor do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg).

 

Você poderia se perguntar: e o que tem o auxílio emergencial a ver com tudo isso? O auxílio de R$600 pago pelo governo desde abril colocou uma parcela de dinheiro em circulação. Ele não foi suficiente para aumentar a inflação, porque houve ao mesmo tempo uma queda na renda das famílias. Mas o auxílio é recebido por famílias de baixa renda e usado sobretudo para alimentação, o que pressiona o preço desse setor. No começo da pandemia, houve ainda uma demanda concentrada com a “corrida aos mercados” para estocar comida, mas, agora, a tendência é de normalização, pois já se vão mais de 180 dias de isolamento e cuidados no combate à pandemia. Tudo somado, a tendência é que a inflação siga baixa por algum tempo. Mas da pandemia ao dólar, essa série de fatores deve seguir impactando o preço dos alimentos nos próximos meses.

 

Enfim, os vilões dos preços em tempos de pandemia criam situações perigosas para a piora de um cenário que já apresentava sinais animadores de recuperação. A sociedade precisa escolher o caminho a seguir – pagar um preço mais caro, permitindo aumentar o peso no bolso do consumidor ou  optar por não comprar, freando o desatinado aumento de preços de determinados segmentos. Felizmente o país vive nos últimos anos a realidade da atuação de organismos governamentais que ajudam a conter abusos. Não pode haver exceção, posto que o controle seja necessário. Se estão vigentes a livre concorrência e a iniciativa, cumpre ao governo, ajudado pela população, coibir abusos e agir de maneira enérgica para evitar desequilíbrios nocivos. Portanto, não se trata apenas de pedir boa vontade e colaboração dos setores produtivos e de segmentos outros, mas de cobrar responsabilidades daqueles que atuam na contramão dos interesses do povo e do país. A rigor, responsabilidade não é alimento e não é encontrada nas prateleiras dos supermercados, mas deve estar presente no comércio, na indústria, no agronegócio, nos setores público e privado, nas residências das famílias e no seio da sociedade como um todo.

 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

 

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Comentários

  1. Maria doCarmo Sampaio P de O.10 de setembro de 2020 às 16:08

    Explêndido texto dr. Wilson Campos. Todos precisam entender o momento de recuperação da crise, da pandemia, e ajudar o país. O povo agradece. Abraços e obrigada de minha parte também. Do Carmo.

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  2. Dr. Wilson os atravessadores elevamos preços dos produtos em todos os setores do comércio e da industria. O atravessador é aquele que está no meio da cadeia produtiva - o produtor rural ganha pouco, o atravessador ganha bastante e o revendedor ganha mais ainda - ou seja, nesse caminho os preços sobem, além daquilo que o senhor disse sobre as incongruências do merccado. As coisas vão melhorar porque o presidente Bolsonaro é trabalhador e os ministros do governo dele são os melhorres de todos os governos até hoje. Parabéns Dr. Wilson por levantar essa lebre. E como o senhor também disse a responsalidade deve estar em todos os lugares e com responsabilidade os brasileiros vão longe se Deus quiser e ELE quer. Vamos produzir e trabalhar juntos. abraço forte. JB (TriânguloMineiro).

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  3. Tudo está caro no Brasil -gasolina, etanol, diesel, gás de cozinha, contas de água, luz, telefone e internet, alimentos, escolas, serviços, planos de saúde, impostos, salários de políticos e juízes. Tudo cai nas costas do povo que paga impostos e sempre está na lona e sem dinheiro para uma viagem, ou umas férias. Falta dinheiro para o povo mas sobra dinheiros para os políticos e juízes gastarem a vontade com suas mordomias dos tribunais e nos palácios municipais, estaduais e federais. Diferença social enorme. Os supermercados também estão metendo a mão e aproveitando a pandemia e lucrando até 150% de margem em cima dos consumidores. Isso é uma vergonha das maiores. O sacrifício do povo deveria ser acompanhado por todos os setores inclusive o setor público cortando as mamatas e as mordomias dos politicos (vereadores, deputados estaduais, prefeito e vice, governador e vice, deputados federais e senadores; e juízes de todas as instâncias. Se a crise exige sacrifícios que seja de todo mundo e sem essa de exceção. Nada de exceção por favor. Dr. Wilson Campos o senhor continua porreta nas suas considerações jurídicas e sociais. Parabéns e continue sempre assim. Grande abraço e meu respeito. Assino e sou - Dr. Válter Machado.

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