O DRAMA DOS MORADORES DE RUA NA PANDEMIA E NO FRIO.

Há 6 (seis) anos, o número de pessoas em situação de rua girava em torno de 2 mil. Hoje já são 9 mil e 58% vivem na Região Centro-Sul, a mais nobre da capital mineira.

A Região Noroeste aparece em segundo lugar. Lá está o bairro da Lagoinha e os viadutos da Avenida Antônio Carlos, uma das mais movimentadas da cidade. Estes locais são pontos tradicionais de concentração de moradores de rua.

Em terceiro aparece a Região Norte, com 10%, e em seguida a Região Leste, com 8%. É nesta última que está o maior abrigo masculino de Belo Horizonte, o Albergue Tia Branca. Localizado na Rua Conselheiro Rocha, no bairro Floresta, ele recebe mais de 300 homens todas as noites.

Os locais onde mais se concentram as pessoas em situação de rua, com destaques percentuais, são os seguintes: Regional Centro Sul - 58%; Regional Noroeste - 11%; Regional Norte - 10%; Regional Leste - 8%; Regional Barreiro - 3,5%; Regional Venda Nova - 3%; Regional Nordeste - 2,5%; Regional Oeste - 2%; Regional Pampulha - 2%.

Todavia, acredita-se que nos dias atuais a Região Centro-Sul de Belo Horizonte concentra um número ainda maior de pessoas em situação de rua - algo em torno de 65%.

Especula-se muito em torno do assunto, mas soluções adequadas não são tomadas, efetivamente. Os dados oficiais do poder público somados aos cálculos de entidades sociais revelam um número cada vez maior da população em situação de rua na cidade. Estima-se em torno de 9.000 pessoas vivendo ao relento e em condições sub-humanas na capital.

São pessoas com históricos distintos. Longe de querer definir como se forma exatamente essa população em situação de rua, que é bastante heterogênea, o que se sabe é que se compõe de pessoas com diferentes personalidades e realidades, mas que carregam consigo a dura condição de sobreviver em pobreza absoluta, sem emprego, sem casa, sem vínculos familiares normais, sem dignidade e sem cidadania.

O caso é grave e requer medidas eficazes. A pandemia contribuiu para a aceleração de casos que já vinham causando preocupação às autoridades e à sociedade, que sabem muito bem a dificuldade de solução adequada para a população em situação de rua, uma vez que nem todos aceitam serem alojados em bairros distantes do centro da cidade e preferem ficar nas ruas e avenidas mais frequentadas e movimentadas.

As reclamações surgem de todos os lados. Entretanto, a prefeitura e seus respectivos órgãos sociais não podem aceitar a inteira vontade da população em situação de rua, principalmente quando a maioria dela se nega a sair das ruas do centro da cidade e ser encaminhada para alojamentos municipais, causando com isso um problema grave de convivência com comerciantes, lojistas, moradores, pedestres e motoristas, que constantemente reclamam do mau cheiro nas vias públicas e do comportamento agressivo de muitas dessas pessoas que ficam dia e noite ali, lá e acolá.

A cada dia o problema aumenta, e a pandemia e o frio ameaçam ainda mais essas vidas humanas. A situação só se agrava, com destaque para o fato de que os moradores de rua utilizam o espaço público, as calçadas e as marquises para dormir em plena luz do dia, com sol quente, dificultando o direito de ir e vir de outras pessoas que transitam, trabalham ou moram na região. Além desses problemas, as reclamações são de que o local também é usado para cozinhar alimentos, com restos de comida atirados na rua e, pior, muitos usam o local como banheiro e fazem suas necessidades fisiológicas sem nenhum constrangimento nas portas de residências e estabelecimentos.

Enquanto os belo-horizontinos reclamam da caótica situação, a prefeitura bate cabeça. Entendo, particularmente, que uma solução humana, civilizada e digna deve ser buscada para a população em situação de rua, notadamente com a discussão da gravíssima condição atual, com números crescentes, de maneira que ações e medidas efetivas sejam debatidas e adotadas pela prefeitura, depois de reuniões urgentes com entidades sociais, igrejas, representantes de moradores e de comerciantes, e outros setores que se ofereçam para contribuir com ideias ou recursos para tamanha demanda social.

O momento é de pensar uma resposta rápida ao grave problema social que incomoda a todos os cidadãos. Também penso como contribuir, além do que já faço como parte da sociedade, e não apenas penso, pois, se convidado, posso atuar diretamente como colaborador na defesa da cidadania dessas pessoas em situação de rua, conciliando direitos e obrigações. Ora, várias cabeças pensantes em prol de uma causa justa são melhores do que apenas algumas sobrecarregadas com a mesma missão. Hoje mais que nunca, a generosidade e a solidariedade peculiares dos brasileiros são necessárias e indispensáveis.

As ideias precisam ser colocadas em ação, antes que mais vidas sejam perdidas em razão do frio e da pandemia. A estratégia para a solução do grave problema precisa mudar o foco. Em vez de alojamentos temporários e com imposição de condições de diversos tipos, a municipalidade destinaria moradias permanentes, sem impor condições, em procedimento parecido ao assegurado pela Finlândia, ou, no mínimo, no mesmo sentido de tentativa de erradicação dessa triste realidade urbana. 

A Finlândia testou, tentou e conseguiu alcançar êxito, ainda que parcial. Mas o certo é que o país europeu saiu na frente no emprego de métodos diferenciados e o resultado foi positivo. As metas alcançadas foram as relativas à gradual normalidade da vida da população em situação de rua, lugar certo para morar, enfrentamento severo dos vícios em drogas e bebidas alcoólicas, capacitação para emprego fixo, acompanhamento médico e psicológico, e mediante trabalho intenso dos serviços de assistência social.  

Junto com os problemas de saúde, o morador de rua enfrenta certa discriminação, embora conte com a solidariedade de muitas pessoas que ajudam no que é possível. E tem o recorrente problema do desemprego, que é um quesito delicado no país e no mundo inteiro, ainda mais agora, haja vista a pandemia e suas implicações. Mas o morador de rua merece ser considerado nesse contexto, e a inclusão social requer emprego para homens e mulheres desse grupo tão desvalido e alijado do processo natural produtivo. Ademais, o emprego fixo e a moradia permanente deverão ser, de fato, consequências do tratamento de saúde e da erradicação dos vícios.

A solução não é fácil, mas não impossível. Há que existirem forte participação da sociedade e real vontade política. De sorte que, nesse sentido, os vitais serviços organizados e prestados pelo município, incluindo a ampla assistência social e as condições de emprego e moradia, com certeza haverão de requerer contratos de direitos e deveres assumidos pelas partes, objetivamente voltados para a redução gradativa da vulnerabilidade da população em situação de rua e alinhados para a paz, a tranquilidade e a qualidade de vida dos moradores da cidade.

Cabe à prefeitura enfrentar de frente e muito rapidamente esse terrível problema que tanto sensibiliza a todos. Não há que se deixar o grave problema para o ano que vem ou para o próximo prefeito ou governante, mesmo porque o caos está instalado, direitos e deveres precisam ser estabelecidos, e a sociedade está cobrando há muito algumas medidas eficazes, que se mostrem justas, humanas, dignas e cidadãs, mas ao mesmo tempo firmes, comprometidas e cumpridas por todos os envolvidos e interessados.

Assim, vale repetir: as metas a serem alcançadas referem-se à gradual normalidade da vida da população em situação de rua, a um lugar certo e permanente para morar, ao enfrentamento severo dos vícios em drogas e bebidas alcoólicas, à capacitação para emprego fixo, e ao trabalho intenso dos serviços médicos, psicológicos e de assistência social.  

Emprego, moradia, dignidade e cidadania para todos! Esse é o lema, mas depende muito da contribuição da sociedade organizada e do poder público à frente e no comando de uma solução humana e adequada. E na pandemia e no frio a solidariedade ainda se faz muito mais necessária e indispensável, e os investimentos públicos se tornam obrigatórios para uma resposta positiva às múltiplas dificuldades dos moradores de rua. A cidadania assim exige.  

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG). 

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Comentários

  1. Evaristo Peçanha S.L.13 de julho de 2021 às 10:33

    Bem que os vereadores podiam levantar da cadeira e tomar a frente nos bairros e no centro dessa questão humanitária urgente. Dr. Wilson parabens pelo seu temperamento vibrante de brasileiro antenado com os problemas da sociedade. Parabéns e vamos juntos. Evaristo Peçanha. BHte.

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  2. Li e concordo com tudo que foi escrito e estou disposta também a ajudar nas igrejas e movimentos populares porque o caso é grave e está aumentando sem solução pela prefeitura de imediato. Vamos juntar mais gente e com os vereadores também encontrar uma solução urgente para o problema de humanidade ainda mais nessa pandemia e nesse frio incomum. Parabéns doutor WilsonCampos por mais este trabalho de cidadania seu na OAB. Maria Tereza R.

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  3. OdilonMenezes S.Filho13 de julho de 2021 às 10:40

    Este é um problema grave que precisa mesmo de muita gente para resolver e precisa de verba para moradia, tratamento de saúde,emprego e nov a vida para os que quiserem sair das ruas. Os que não
    quiserem deverão ser retirados porque não pode acontecer como acontece no centro de BH joje com moradores de rua nas portas das lojas e das casas fazendo tudo de banheiro, dormitório , etc. Muito triste e precisa ser resolvido porque está ficando cada dia mais dífícil para comerciantes, moradoires de residencias doc entro e para quem passa pelo local, etc. Precisa de solução daprefeiturra e dos vereadores e do povo ajudando. É isso. Att Odilon Menezes.

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  4. Na rua da bahia está umcheiro horroroso e perto da augusto de lima e nas praças do centro é a mesma coisas porque estão fazendo necessidades fisiológicas nas ruas e nas calçadas. Eu trabalho perto de mais de cinquenta famílias que estãopor ali todos os dias. E a gente não pode fazer nada porque é um problemão que cresce todo dia e só piora. Os moradores da região já não aguentammais de tanta confusaão e lixo e sujeira e mau cheiro. Essa situação tem de ter um fim e eles precisam ter um lugar decente para viver e trabalhar e tratar dos vícisos. Dr. Wilson o senhor está certo e todos precisamajudar nesse problma muito sério mesmo. Carol T.

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  5. Clayton S. Damasceno13 de julho de 2021 às 11:03

    Eu moro e trabalho na região central e a reclamação dos vizinhos do comércio, daslojas e das residencias é o mesmo sempre de que não suportam mais os moradores de rua nas porta e não respeitam o local nem as pessoas que pedem para limpar ou lavar os passeios. Sai briga e xingamento geral. A coisa tá feia. A prefeitura e a Câmara dos vereadores precisa tomar uma atitude urgente e super urgente porque dá pena ver as pessoas como estãomas quempassa por ali o dia inteiro tem que ficar pulando pessoas deitadas na calçadam em pleno dia de sol e eles não saemdo lugar. A solução apresentada pelo dr. Wilson Campos adv é excelente - lugar certo para morar e ajuda médica etc etc. Isso é pra ontem - urgente mesmo. Clayton S.D.

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  6. A situação é complexa e requer, de fato, o desejo de minimizar o grave problema social.

    O vereador Braulio Lara, com quem trabalho, tem uma proposta para essa questão, porém está em formatação, aprimoramento. Não dá para fazer um movimento sem uma boa fundamentação e estratégias, para que o projeto seja exitoso e permanente, isto é, uma ação de estado e não de governos.

    Estou otimista e muito em breve começarão os debates sobre a grave questão, sempre jogada para debaixo do tapete.

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  7. Parabéns Dr. Wilson Campos pelo prodigioso trabalho na presidência da Comissão de Cidadania da OAB-MG e pelo que tenho visto sua participaçãona defesa dos cidadãos, domeio ambiente,da mata doplanalto, do parque da serra do rola-moça e de outros trabalhos, esse dos moradores de rua é muito importantne também porque envolve pessoas de diversas áreas - os moradores de rua, os comerciantes, os lojistas, as residências, os trabalhadores que passam, os motoristas, os turistas que reclamam muito da sujeira e do cheiro forte de xixi etc, e tudo mais que esteja pelo centro da cidade de BH. Vou cobrar do meu vereador e sugerir a leitura do seu artigo muito bom e objetivo dando direitos e deveres para todos. É isso mesmo. Parabéns doutor. Abração do César Vasconcellos.

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  8. Este problema vem de muito tempo e nada resolve. Antes em 2019 prometeram resolver e nada e era menos pessoas morando nas ruas.
    Vereadores e prefeito foram eleitos pra isso e cadê a solução???
    Vou compartilhar seu artigo Dr Wilson Campos e expandir essa campanha de lugar certo e permanente para eles morarem e tratamento de saúde e emprego, pela ordem. Abraço doutor e obrigado por informar. Até! Milton Júlio.

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  9. Realmente está um caso sério nas ruas do centro de BH.A praça da rodoviária é outro local de concentração de moradores de rua.O poder público tem a obrigação e o governante um dever moral de resolver esta situação. Será que o orçamento municipal ficaria comprometido por solução de uma situação desta ? Não creio.Mais uma vez vemos que quem recebe seu salário( alguns verdadeira aberração)em dia não tem esta preocupação.Agora quando chegar época de campanha eleitoral tudo muda .ABSURDO

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  10. Outro dia eu vi um morador de rua jogar meio marmitex de comida fora na calçada e os funcionários de uma loja do lado me disse que eles recebem muita coisa e jogam fora quando não querem mais, ou seja eles não podem reclamar de fome ou coisa assim e nem de frio porque tem, cobertores de todo tipo e um monte deles empilhado em cima de papeloes e dentro de barracas de lona. É triste tudo isso mas esse pessoal não pode abusar e fazer bagunça e sujar a calçada onde as pessoas passam e onde temclojas e comércio e prédios de residência. Sujeira demais e eles deveriamcser obrigado a limpar para aprender a ser civilizado ora essa. Pobrezinhos mas bem sujinhos. Merecem uma casa permanente com contrato de obrigação emlei e trabalhar para saber o preço da comida do dia a dia nosso na cidade grande. O dr. adv. Wilson Campos disse muito bem porque é preciso dar direitos mas também cobrar deles os deveres e obrigaçoes de gente civilizada. Pronto falei e............ até mais doutor e obrigado pelo artigo e pelas informações muito boas do seu blog. Abr. Estevão J. B. Mesquita.

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  11. BH está feia e muito suja. Nunca esteve tão feia nossa BH
    Os moradores de rua precisam de casa, tratamento de saúde e emprego para cuidarem das suas vidas daí em diante. Eu CONCORDO com Dr. Wilson porque é preciso dar ajuda, direitos e cobrar as obrigações de cada um. O caso é sério e exige de todos nós um pouco. Sou Benício Veras.

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  12. Realmente o caso é complexo e de difícil solução, uma vez que (como informou) "a maioria dos viventes nesta situação se nega a sair das ruas do centro da cidade e ser encaminhada para alojamentos municipais."
    - Isto pode indicar a existência de uma patologia psicológica em comum nesta maioria, que precisa ser analisada com o objetivo de trata-la assertivamente e desenvolver um caminho eficaz para a solução do problema. É necessário, em tese, a criação de uma força tarefa específica dentro dos órgãos públicos para se dedicar ao problema do nosso meio, pois a cultura de cada sociedade (país) é diferente.
    - Uma observação que se faz é que os hospitais de campanha, construídos para o tratamento COVID, se não fossem simplesmente desmontados, poderiam ser usados para o tratamento da saúde destas pessoas, com medicação adequada para o controle das drogas inclusive, já que que tinham uma estrutura pronta e suporte médico que poderiam se ajustados para os tratamentos necessários.
    - Mas o tratamento do problema passa pela necessária visão e vontade política, que parece ainda não existir nos órgão públicos....

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