HÁ CONTROVÉRSIAS.

Passadas as eleições o candidato reeleito surpreende quando fala de sensibilidade e gestão voltada para o social. As palavras que traduzem esse grande momento de preocupação com o eleitor foram pronunciadas e levadas a público através de entrevista a um jornal da capital, quando disse: "Mas, como foi uma eleição muito disputada, em que o adversário buscou marcar um projeto de governo diferente, queremos provar, na prática, que não somos nem seremos insensíveis, tecnocratas, etc...".

A sociedade quer crer que esse sentimento proclamado e publicado na imprensa seja, de fato, motivo de esperança em dias melhores nesta cidade cercada por intermináveis obras que transformam a vida das pessoas em um caricato filme de terror. As pessoas amanhecem irritadas, passam o dia pressionadas e anoitecem aos farrapos. Tudo em nome de um suposto desenvolvimento repentino - não sustentável, não planejado e nada sensível - que incomoda muita gente, tamanha a desorganização provocada nos principais corredores viários, mais transitados e congestionados.

Nem bem a crença na sensibilidade prometida se fez sentir e já vem o candidato reeleito mudar o semblante do cidadão que lê, incrédulo, nos jornais, que as obras em execução serão suspensas e os novos empreendimentos previstos para início estão também suspensos até segunda ordem ou até que se reabasteçam os cofres com recursos federais. 

Parece marketing político pós-urnas, mas a coisa é séria quando mexe com milhares de empregos e centenas de empresas que precisam improrrogavelmente deste dinheiro do contrato para cumprirem com suas obrigações normais e legais de praxe. No mínimo é de mau gosto a atitude da administração municipal e coloca em xeque a "sensibilidade" do executivo à frente da cidade e, por conseguinte, trágica a decisão intempestiva que colhe todos de supetão. Obra parada é gasto dobrado. O caos continua.

Foi-se no vento a vontade do povo de se ver livre o mais rápido possível das obras que atravancam o trânsito e tornam a vida dos trabalhadores um inferno. Permanece no ar a poeira das obras fustigadas pela verticalização irracional que avançou o quanto quis até pouco antes das eleições. Agora a paralisação adia sine die as obras tocadas até então pelo rufo dos tambores. Quanta incoerência!

Há controvérsias, portanto, quando se analisa a frase dita pelo candidato reeleito: "Nós não somos insensíveis". Ora, senhor Prefeito, data maxima venia, uma administração para se provar capaz de sensibilidade para com o povo precisa muito mais que simples palavras. Precisa de ação e mais que isto, precisa escutar as comunidades a todo o tempo e não somente nas caminhadas pré-eleitorais. O povo quer participar, ser atendido nas suas demandas diárias e nas suas reivindicações de interesse público.

Assim, senhor Prefeito, onde haja controvérsias, reveja seus pontos de vista e com muito maior sensibilidade trabalhe com o povo, pelo povo e para o povo, com a simples compreensão cívica de que esteja efetivamente cumprindo com o seu dever de cidadão reeleito e consagrado nas urnas pelo povo desta cidade, e cumpra sua missão conforme disposto nos artigos 37, caput, e 14, parágrafo 5º, da Constituição da República.

Mais que cidadãos pagantes de tributos, o que se precisa verdadeiramente  na sociedade contemporânea são pessoas que defendam seus direitos e cumpram seus deveres. Também assim, na mesma proporção o administrador público, que trate das questões de interesse público como coisas públicas. Daí o significado da palavra República. Aqui não há controvérsias.  

Wilson Campos (Advogado). 

         

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