AÇÃO CIVIL PÚBLICA DEFENDE A MATA DO PLANALTO.
A Mata do Planalto passa a contar com mais um
ato jurídico perfeito na sua defesa, um instrumento processual, de ordem
constitucional, de tutela de interesses difusos e coletivos. O Ministério
Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), através da Promotoria de Justiça e da
Coordenadoria Estadual das Promotorias de Habitação e Urbanismo, propôs Ação
Civil Pública (ACP), com pedido Liminar, Inaudita
Altera Pars, em face do Município de Belo Horizonte e outros, requerendo a
preservação integral da Mata do Planalto, localizada no Bairro Planalto, região
Norte da cidade de Belo Horizonte/MG, tendo em vista a sua importância
ambiental e por se tratar de remanescente de floresta secundária semidecidual,
representativa de Mata Atlântica.
A proposição da ACP se deve ao fato de que a
Prefeitura de Belo Horizonte foi solicitada a dar licença prévia para um vultoso
empreendimento imobiliário de 900 unidades, a ser construído no terreno da Mata
do Planalto. A grande construção que envolve aproximadamente 16 prédios de 15
andares e 1.200 vagas de estacionamento pertence às empresas Rossi Residencial
S/A (antecessora) e Petiolare Empreendimentos S/A (processo administrativo nº
01.172.651/07- 56).
Os moradores do bairro Planalto e entorno reagiram
contra a extinção da importante área verde e encaminharam ao MPMG vários
documentos contrários ao empreendimento, bem como iniciaram na região, por meio
da Associação de Moradores, passeatas e carreatas em defesa da manutenção e
preservação integral da Mata do Planalto.
Cumpre observar que a preocupação com o
meio ambiente vem se tornando imperiosa, impondo alterações de comportamento da
humanidade em relação à preservação dos recursos ambientais existentes no
globo. Tidos como inesgotáveis, diuturnamente, os recursos naturais foram sendo
destruídos, constituindo-se apenas em fonte de aproveitamento econômico, com
exploração máxima, sem qualquer preocupação ambiental. Porém, a situação foi se
agravando e setores organizados da sociedade civil passaram a exigir mudanças,
trazendo às claras os enormes prejuízos que a população presente e as gerações
futuras poderiam sofrer a se continuar com a mesma política de desenvolvimento
econômico. Este movimento mundial, baseado no desenvolvimento sustentável,
impulsionou mudanças no ordenamento jurídico brasileiro, disciplinando a
matéria de forma a proporcionar a efetiva proteção ao meio ambiente. Nesta
linha de mudanças, a atual Constituição da República do Brasil dedicou o
Capítulo VI, exclusivamente, para tratar da proteção ambiental, dispondo no Artigo
225 que: “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
De sorte que a proteção constitucional dada ao
meio ambiente natural e urbano, que objetiva a tutela de interesses
pertencentes ao gênero humano, trata-se de direito transindividual difuso, uma
vez que pertence a todos, ao mesmo tempo em que não pertence, de forma
individualizada, a qualquer pessoa, não sendo juridicamente admissível qualquer
lesão a tal bem jurídico.
A ACP trata pontualmente de várias fases
administrativas do processo do empreendimento pretendido, e de forma robusta e
farta faz juntada de pareceres técnicos a respeito da Mata do Planalto. O MPMG
traduz na peça jurídica a preocupação da sociedade quanto ao respeito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado e destaca através de citações, as normas,
as legislações e as diretrizes de proteção ambiental, nas esferas municipal,
estadual e federal.
Resumidamente, a conclusão do MPMG se dá nos seguintes termos: "Como já mencionado no parecer técnico SGDP 1556151, a análise dos aspectos
ambientais e jurídicos que envolvem a situação ambiental da “Mata do Planalto”
inviabilizam a implantação do empreendimento. Acresce a estes documentos o
laudo técnico SGDP 1704405, corroborando esta conclusão”. O MPMG continua
ainda nas suas alegações de que “a
implantação de empreendimento residencial no local contribuirá para acentuar a
violação ao que determina o Plano Diretor de Belo Horizonte, Lei 7.165/96,
posto que conforme demonstrado já existe um déficit de área verde na região
superior a 9
metros quadrados por munícipe, o que, sem dúvida alguma,
compromete a qualidade de vida dos moradores da região e da cidade de Belo
Horizonte como um todo e representa a não observância do que dispõe a
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, no sentido de que todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado".
Ao final, o MPMG requer seja concedida - com
fundamento nos art. 84, §§ 3º e 4º da Lei 8.078/90 c/c art. 12 da Lei 7.347/85,
MEDIDA LIMINAR, INAUDITA ALTERA PARS a fim de se impor aos réus Petiolare Empreendimentos S/A e Espólio de Marcial do Lago as seguintes obrigações:
a) paralisar
imediatamente e abster-se de praticar qualquer ato ou desenvolver qualquer
atividade tendentes à implantação de empreendimento imobiliário ou efetuar
construção de edificação de qualquer natureza na Mata do Planalto, sob pena de
multa cominatória diária no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a ser
destinada ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos criado pela Lei
14.086/2001, CNPJ no 11.206.085/0001-85, Banco do Brasil, no 001, Agência
1615-2, Conta-corrente no 7175-7;
b) cessar e retirar todo tipo de publicidade e
divulgação sobre o empreendimento “Residencial Planalto” sob pena de multa
cominatória diária no importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a ser destinada
ao FUNDIF;
c) seja determinada a averbação da presente
Ação Civil Pública à margem da matrícula da gleba para fins de publicidade, nos
termos do que autoriza o art. 167 da LRP, devendo os 2o e 3o réus fornecerem cópia
da matricula da gleba para possibilitar o cumprimento da decisão judicial.
Requer, ainda, em relação a todos os réus, a concessão de liminar para
determinar a suspensão do procedimento de licenciamento ambiental e urbanístico
do empreendimento até decisão final da presente ação.
Nos pedidos, o MPMG requer:
a) sejam concedidas as liminares pleiteadas,
confirmando-se as mesmas ao final.
b) sejam os réus citados nos endereços acima
indicados para, querendo, contestarem o presente feito no prazo legal, sob pena
de confissão e revelia.
c) seja o pedido julgado procedente para:
c1) declarar o valor natural ambiental da Mata
do Planalto para a qualidade de vida da população do seu entorno e a
necessidade de preservá-la integralmente para as presentes e futuras gerações
em atenção ao comando do art. 225, caput e parágrafos da CF/88 e o direito à
cidade sustentável, nos termos do art. 2o. da Lei Federal 10.257/2001;
c2) seja o Município de Belo Horizonte
condenado em obrigação de fazer consistente em adotar todas as providências
necessárias à preservação da Mata do Planalto e dos atributos naturais que justificam
sua proteção com sua incorporação ao vizinho Parque Municipal do Planalto, de
forma a formar-se um corredor ecológico, indispensável à conservação das
espécies da fauna e da flora ali existentes, bem ainda condenado em obrigação
de não fazer consistente em abster-se de conceder qualquer alvará ou licença
para construção na área denominada Mata do Planalto;
c3) sejam os réus em obrigação de não fazer no
sentido de absterem-se de implantar o empreendimento imobiliário pretendido na
Mata do Planalto e praticar qualquer intervenção no local, que possa
comprometer os atributos ambientais que caracterizam a importância ambiental da
área referida inerente ao direito difuso ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado;
c.4) a cominação de multa no importe de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) em caso de descumprimento das obrigações
impostas, acrescida de multa diária de dez salários mínimos por dia de mora,
sem prejuízo da responsabilização em âmbito administrativo e criminal.
Como visto, o Ministério Público representa a
vontade expressa das comunidades que pedem pela preservação total da Mata do
Planalto e consequente cancelamento de qualquer tipo de licença para empreendimentos
no local.
Esse escriba, na condição de belo-horizontino,
de cidadão e de advogado preocupado com os direitos difusos e coletivos,
mormente no que toca à defesa intransigente da Mata do Planalto, juntamente com
as entidades de moradores, preza pelo cumprimento da lei e pela aplicação da
justiça, quando não se pouparão esforços para que a sociedade seja efetivamente
respeitada na garantia dos seus direitos, devendo prevalecer o interesse social
sob a orientação do “in dubio pro natura”,
em detrimento dos interesses econômicos ou particulares. Nesse sentido são os
trabalhos voluntários desse autor, para que as gerações presentes e futuras
possam contar com um mínimo de qualidade de vida, de ar puro, de contato com a
natureza, de biodiversidade, de clima favorável, de meio ambiente equilibrado,
de harmonização da paisagem, de fluxo gênico da flora e da fauna, de manutenção
dos cursos d’água e das nascentes de águas cristalinas e de permanência
harmoniosa da natureza.
Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão
de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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