PÁTRIA AMADA, BRASIL.



O Civismo, embora há algum tempo desalentador para uns, diante de tantas tragédias morais, para outros é um sentimento imperdível, uma vez que a pátria amada é o Brasil, apesar de todas as mazelas e de todos os sofrimentos do povo.

Cantar o Hino Nacional de forma arrebatadora, como o fazem os brasileiros, quando querem e quando podem, torna-se um espetáculo de arrepiar, com vozes uníssonas e fortes, embaladas apenas pela verve que jorra dos pulmões e corações de cidadãos e cidadãs sempre dispostos a lutar, quer seja contra a opressão ou a favor da pátria livre.

A magia a que me refiro foi vista por bilhões de pessoas mundo afora, na vibrante entonação do Hino Nacional, que, apesar da parada abrupta da organização do campeonato mundial de futebol no seguimento do poema, foi cantado com fervor, à capela, sem acompanhamento instrumental, justamente por ser esse o entendimento popular de que prevalece o sentimento nacional, nos termos do inciso IV do Art. 24 da Lei nº 5.700/71. A Fifa bem que tentou encurtar o hino, mas o povo não permitiu mais uma imposição do padrão Fifa. O povo cantou e encantou uma nação inteira.

Em campo, a torcida e o time fazem esquecer por alguns momentos as agruras, a violência, a corrupção e tudo o mais que pesa nos ombros da população. O hino é cantado por homens e mulheres impávidos, que avançam na capela, fazendo descer a luz do florão e subir o brado retumbante. O brasileiro, quando quer, sabe fazer acontecer.

Com ou sem corte dos comandantes do evento, o povo arrebata corações e leva os versos na garganta, na raça e no desejo de que este país seja, de fato, um território verde-amarelo, mas longe do populismo e das patriotadas. Projeta-se, cada vez mais, fora das quatro linhas, um país mais consciente e capaz de distinguir a hora da festa da hora das reivindicações sociais básicas e fundamentais.

Aos presentes nos estádios e aos demais que se curvam ao rolar da bola no tapete verde, a certeza de uma interpretação magnífica do Hino Nacional, digna de exemplos futuros. A lamentar, no entanto, a falta de cortesia com a presidente da República, Dilma Rousseff, atingida diretamente por palavras de baixo calão e impróprias para o dia, a hora e o local. Uma vaia sonora faz parte da democracia. Agora, xingamentos e gestos obscenos não cabem e denotam absoluta falta de educação.

A nova pátria que se redesenha no horizonte não suporta a repetição de atitudes irracionais. O novo tempo requer objetividade para um futuro sem barganhas, sem medo, sem subserviência e sem promessas. A sociedade está despertando para as exigências indispensáveis à vida humana. O tempo de espera acabou. As cobranças virão da sociedade civil organizada, arredia à violência e aos vândalos da destruição indiscriminada do patrimônio público ou privado. Os clichês desaparecerão.

O Hino Nacional é, por conseguinte, outra forma democrática de manifestação. Sem contestação.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 22/06/2014, pág. 21).

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