PÁTRIA DESEDUCADORA



As medidas adotadas pelo governo federal desde janeiro deste ano jogaram por terra as promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff. A maior frustração da sociedade ficou por conta dos cortes de verbas na área da educação. Justamente no orçamento da "prioridade das prioridades", segundo a presidente, cortaram mais fundo e enterraram sonhos de uma juventude carente de aprender.

A pátria educadora já não mais se reconhece. Aliás, mal apresentada, sucumbiu aos erros da administração sofrível, quase sempre acompanhada por devaneios de gestão inovadora, mas não passando de brisa, que se deixou abater pelo furacão da incompetência administrativa do governo reconduzido.

Os sofredores não estão no Congresso. Os perdedores não têm cargo político. Eles estão no seio da sociedade, trabalham durante o dia e estudam à noite. No entanto, esses sonhadores não verão a universidade chegar mais cedo, porque retiraram-lhes essa possibilidade cidadã, necessária, imprescindível para o crescimento intelectual. O acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis, da creche à pós-graduação, ficou no passado, na persuasão da retórica de campanha.

A educação não recebeu mais volumes expressivos de investimentos públicos, quiçá os recursos cogitados no lema da política eleitoral da candidata, que se esqueceu de que promessa é dívida. Ora, sabe-se bem o que significa e quanto vale um bordão na expectativa de um voto. O que importa, aos caçadores do sufrágio, é o cargo, o posto, a função, o poder do eleito. Os outros, os eleitores, que esperem por novas eleições e novas promessas, porque isto aqui é Brasil.

Vão-se as esperanças juvenis. Ficam os olhares perdidos, os sonhos irrealizados, os estudos descontinuados. O governo simplesmente cortou as verbas, fez desaparecerem os recursos do Fies que tornariam possíveis as metas de um futuro melhor. O fundo de financiamento estudantil se exauriu, e junto com ele as esperanças daqueles que se mataram para chegar a uma universidade particular, uma vez que a pública não abriga todos e também padece de verbas e de investimentos.

O curso superior ficou mais distante. Os projetos e os planos são prorrogados a contragosto dos bravos peregrinos da lição, da leitura, do aprender. A mágoa, a tristeza, a decepção e o choro contido se percebem nos olhos lacrimejados da mãe que dá uma entrevista na televisão e, quase sem palavras, murmura que é muita dor ver um filho triste por não poder estudar. A verba do Fies já não mais garante o ingresso dos filhos na faculdade, a continuação dos estudos ou o término do curso universitário. Não neste semestre, ou neste ano. Ainda assim, o establishment não se comove.

O governo está a reboque. Já não se sabe mais quem é governo. A presidente está enfraquecida, se afasta do  seu povo e se deixa aproximar de políticos de barganha. Resta aos cidadãos uma pátria insipiente, deseducadora.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quarta-feira, 13/05/2015, pág. 21).

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