CRIME DE VENDA DE DADOS CONFIDENCIAIS.
A
violação de sigilo fiscal que vem ocorrendo já há algum tempo neste país,
impunemente, causa enorme indignação aos cidadãos. Ademais, a violação de
sigilo fiscal é tão absurda e inaceitável quanto a violação de dados pessoais.
Estão vendendo informações confidenciais dos cidadãos brasileiros, como se
vendessem banana na feira.
Segundo
notícias veiculadas nos jornais "O Globo" e "Folha de São
Paulo", encontram-se à venda no grande centro velho de São Paulo, nas
imediações da Rua Santa Efigênia, os mais variados tipos de CDs contendo dados
pessoais de milhares de pessoas, oferecidos à luz do dia e sob a garantia da
impunidade.
Embora
proibida a violação de dados confidenciais (Art. 5º, incisos X e XII, da Constituição),
esse ato de banditismo está se tornando corriqueiro nas mãos de delinquentes comuns
e de outros nem tanto.
Depois da
farra de quebra de sigilo fiscal sem autorização judicial que a justifique,
cometida dentro da Receita Federal por servidores seus, agora a coisa descamba
para outras fontes e atinge em cheio não apenas contribuintes do imposto de
renda, mas, também, aposentados, proprietários de veículos, correntistas de
bancos e sabem-se lá quantos milhões de pessoas mais estão na rede dos
traficantes de sigilos.
De se
observar que os CDs à venda trazem descaradamente dados completos e/ou informações
privilegiadas de aposentados da Previdência Social, de proprietários de
veículos com registro no Denatran, de correntistas dos maiores bancos do país
e, por óbvio, dos contribuintes da Receita Federal.
De norte
a sul deste país, ninguém escapa da sanha criminosa do tráfico de sigilos.
O caso
deixou de ser apenas no varejo, no campo político-partidário, com a já conhecida
violação de sigilo fiscal, passando agora para o atacado, atingindo milhões de
pessoas que estarão nas mãos de bandidos que negociam seus nomes e seus dados
cadastrais confidenciais como se direitos legais sobre eles tivessem.
Nada
justifica o ilícito de um ou de outro. Aos criminosos, a cadeia.
O
Ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, assim se
pronunciou a respeito da violação do sigilo fiscal cometida alhures:
"fruto de banditismo político,...paradigmas selvagens da política sindical,...uma
anomalia que se normalizou,...o aparelhamento de instituições é algo grave e
nocivo ao serviço público do país".
A
violação de dados pessoais representa um retrocesso na busca da plenitude
democrática, quando desrespeitam a Constituição da República e retiram dos
indivíduos as suas garantias fundamentais.
Um
exemplo próximo seria o de que a inviolabilidade do advogado, de seu escritório
e de suas informações sigilosas, se desrespeitadas, colocam em risco o Estado
Democrático de Direito e tornam vulneráveis a justiça e suas respectivas instituições.
A quebra
de sigilo seja desta ou daquela forma, com ou sem conotação política é uma
agressão às liberdades individuais e está sujeita aos rigores da lei.
A
sociedade que a tudo assiste e nada faz, nada fala, poderia ao menos se
indignar e cobrar das autoridades constituídas uma atitude enérgica que ponha
fim a esses crimes de invasão de privacidade, de violação de dados pessoais, de
quebra de sigilo e de descaso com a Carta Magna, colocando atrás das grades
aqueles que se locupletam à custa da desgraça alheia.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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