MATA DO PLANALTO.
A
destruição indiscriminada do verde é desumana e desnecessária.
No
entanto, por incrível que pareça, a especulação imobiliária avança sobre o
pouco que ainda resta de áreas verdes na cidade. E, com a conivência das
autoridades públicas municipais, alguns empreendedores, sem nenhum pudor,
trocam o verde das matas pelo cinza do concreto.
Nesse
prisma, lamentavelmente, no bairro Planalto, uma construtora paulista pretende
contribuir para a devastação ainda maior do meio ambiente, uma vez que as suas
obras planejadas para essa região, no local onde hoje vive a Mata do Planalto,
se concretizadas, vão acarretar inúmeros problemas para a comunidade, dentre
eles: no mínimo, quatro anos de transtorno, enquanto durarem as obras; aumento
da população em cerca de 4.500 pessoas no bairro; devastação ambiental, com
consequentes mortes de animais, destruição da flora e suprimento de cerca de 20
nascentes; mudança radical do microclima da região e piora na qualidade de vida
dos moradores.
Além
desses fatores graves, os antigos e novos moradores enfrentarão a insuficiência
de transporte público, que já é precário; a inexistência de hospital e a inadequação
de unidades de saúde para atendimento da demanda das comunidades; a falta de
escolas públicas para os recém-chegados; o aumento de circulação de caminhões
na região; o congestionamento de veículos e o risco de atropelamentos; as poluições
sonora, do ar, do solo e das águas; e a degradação do meio ambiente, com
enormes prejuízos para o funcionamento dos ecossistemas.
As ameaças contra a Mata do Planalto e contra as comunidades são
absurdas, como se em Belo Horizonte e na região
metropolitana não existissem mais áreas disponíveis para empreendimentos
imobiliários.
Querem
a qualquer custo a destruição da Mata do Planalto, para ali construírem 16 prédios de 15 andares, num total de 770 apartamentos e mais de mil vagas de garagens. Isso, se ficar na proposta inicial do
empreendedor, visto que, pelas informações abalizadas das Associações de
Moradores da região, existe ainda uma segunda fase do projeto para ser levada a
efeito, oportunamente, atendendo a interesses particulares do mesmo grupo
empresarial.
Há
mais de trinta anos os moradores do entorno da Mata do Planalto a protegem e
cuidam, como se deles fosse a propriedade, numa atitude extremamente
civilizada. Portanto, as comunidades prometem continuar mobilizadas na defesa
do meio ambiente, não permitindo que a especulação imobiliária atropele a
vontade popular e criminosamente elimine a Mata do Planalto, cujos valores são
imensos e dentre tantos a purificação do ar, a drenagem natural de águas
pluviais, a rica biodiversidade, o tranquilo refúgio dos pássaros, a
convivência harmoniosa da fauna e a exuberante e forte presença da flora.
A
expansão urbana sem planejamento e sem obediência às garantias cidadãs tem sido
admitida pela Prefeitura, que, simplesmente, faz vistas grossas aos
empreendimentos imobiliários que insistem em investir contra os últimos
remanescentes de Mata Atlântica e cinturões verdes da capital.
O
Poder Público Municipal precisa corrigir a sua forma de administração no que
respeita às áreas verdes, intervindo a favor da sociedade, seja através de
permuta ou desapropriação, a título de utilidade pública, a bem das comunidades
e por dever moral perante os contribuintes, que se submetem a uma das maiores
cargas tributárias do mundo e não têm o retorno de um serviço público
adequado.
A
participação nesse mesmo sentido, da Câmara dos Vereadores, de proteção à Mata
do Planalto, representaria, no mínimo, respeito aos cidadãos belo-horizontinos.
A responsabilidade de proteção da Mata do Planalto é, também, do Legislativo e
dos seus respectivos membros, eleitos para defenderem os interesses da
população.
As
comunidades da região estão inconformadas e prometem vigilância diuturna, com a
promoção de passeatas, carreatas, seminários, reuniões e audiências públicas,
quantas necessárias, na defesa incontinenti da Mata do Planalto.
Violar
o Princípio de Vedação ao Retrocesso Ecológico é ilegal, imoral e coloca em
risco os direitos constitucionais assegurados ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, numa ameaça à preservação pretendida para as presentes e futuras
gerações, assim como disposto no artigo 225 da Constituição Federal.
As
ameaças à Mata do Planalto precisam cessar, mesmo porque a sociedade não vai
abrir mão dos seus direitos e garantias constitucionais. O Poder Público Municipal não pode ceder a interesses particulares, em detrimento dos
interesses difusos e coletivos da sociedade.
Wilson
Campos (Advogado/Assessor Jurídico do Movimento das Associações de Moradores de
Belo Horizonte / Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 04/09/2013, quarta-feira, pág. 31).
(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 04/09/2013, quarta-feira, pág. 31).
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