A LAMA, A DESTRUIÇÃO E A FALTA DE TECNOLOGIA.
Em pleno século 21,
quando a tecnologia propicia o monitoramento de tudo a todo momento, até mesmo da
qualidade do ar, do trânsito, da ocorrência de enchentes na época das chuvas, dos
pais na proteção dos filhos, das plantações no setor do agronegócio, das
filmagens dos drones espiões e da prevenção de acidentes, é absurdo pensar que
isso não pode ser feito com represas de rejeitos de minério de ferro.
O rompimento da
Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, que em 5 de novembro de
2015 destruiu o distrito de Bento Rodrigues, envenenou o Rio Doce e causou a
morte de 17 pessoas, restando ainda duas desaparecidas, bem poderia ter sido
evitado se a empresa tivesse utilizado a tecnologia tão farta no mercado atual, para monitoramento de suas atividades de risco.
As causas do
rompimento, quer sejam por colapso da estrutura, rachaduras ou falta de fiscalização,
jamais serão aceitas como justificativas, posto que a tecnologia deve ser
colocada a serviço do homem, na sua proteção, monitorando os possíveis erros ou
vícios de empreendimentos que levem perigo às pessoas. A tecnologia não foi
empregada pela exploradora bilionária, que economizou alguns trocados na
vigilância eletrônica online realizada por equipamentos de primeira geração.
O rompimento da
barragem de rejeitos da Samarco, que fez desaparecer o distrito mineiro de
Bento Rodrigues e espalhou lama e destruição por todos os cantos é o maior
desastre do gênero na história mundial nos últimos 100 anos. Os 60 milhões de metros
cúbicos (m³) de rejeitos da mineradora percorreram 600 quilômetros, saindo
negativamente na frente de quaisquer outras tragédias ocorridas no planeta.
A catástrofe proporcionada
pela mineradora Samarco não superou em produtividade, mas em desespero, sofrimento
e dor. O desastre ambiental somado às perdas humanas irreparáveis se deu por
erros de pessoas desatentas com a melhor técnica, com o melhor conhecimento e
com a melhor ciência. A tecnologia inovadora é pujante no mercado e falhas
grotescas como as acontecidas são imperdoáveis.
Não há de se falar
agora, apenas em plano de emergência no caso de rompimento das barragens de
Germano e Santarém, em Mariana, onde lamentavelmente ocorreu o desastre de
grandes proporções com a barragem de Fundão, mas principalmente colocar em
prática o uso sistemático de tecnologia que monitore dia e noite as represas de
rejeitos, desde as mínimas oscilações até a fuga de estabilidade, o aumento da
produção, o tremor de terra ou o contato das estruturas.
A tecnologia pode
monitorar até a incompetência do poder público que deveria fiscalizar
severamente as represas e a exploração de minério, mas não o faz. A tecnologia,
da mesma forma, pode monitorar os responsáveis pela exploração mineral que
movimenta cadeia bilionária e milhares de empregos no estado de Minas Gerais. A
tecnologia só não traz de volta as vidas ceifadas precocemente e não retorna ao
status quo ante o meio ambiente
destroçado pelo desequilíbrio das ações desumanas.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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