MP INVESTIGA PREFEITO DE BH POR IMPROBIDADE.


Há vários dias e em específicas ocasiões eu tenho dito que o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, tem exagerado na emissão de decretos, como se não existissem 41 vereadores na cidade, eleitos pela população e que precisariam ser escutados a respeito da medida. Ora, mesmo em tempos de pandemia há que prevalecer a independência e a autonomia entre o Executivo e o Legislativo, evitando-se o uso tirânico do poder.

Nesse sentido, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) abriu inquérito para investigar um novo decreto do prefeito Kalil, de decisão de multar em R$80 (oitenta reais) os moradores que não usassem máscaras de proteção nos espaços públicos.

Além de iniciar a investigação, o MP enviou à prefeitura, no dia 6 deste mês, um pedido para suspender a cobrança das taxas, que seriam aplicadas a partir do próximo dia 15. A punição pensada pelo prefeito seria uma “estratégia” para tentar conter o coronavírus na cidade. Entretanto, esqueceu-se o prefeito da sua limitação diante do texto constitucional.

O promotor de Justiça Leonardo Barbabela, em sua recomendação, alegou que as decisões do prefeito violam “princípios do regime democrático e republicano”. Para o promotor, o decreto divulgado pelo Executivo só poderia ter sido aplicado caso fosse para regulamentar uma lei estabelecida pela Câmara Municipal.

Na instauração do inquérito, a promotoria também levou em conta a determinação da prefeitura de multar em R$ 20 mil (vinte mil reais) os moradores que realizassem eventos e encontros em carros pelas ruas da capital mineira.

Segundo o promotor, os decretos podem caracterizar “ato de improbidade administrativa” por parte de Kalil. Contudo, na prática, a recomendação do MP não obriga a prefeitura a suspender a cobrança das multas. A promotoria, no entanto, destacou que se o município não adotar as orientações e não apresentar justificativas, “medidas judiciais e extrajudiciais” poderiam ser adotadas.

Vale notar que o uso de máscaras na capital mineira é obrigatório desde o dia 22 de abril. Kalil, no entanto, havia informado que só iria aplicar multas quando a prefeitura pudesse auxiliar as famílias mais pobres. E ao anunciar o novo decreto e propalar a cobrança, o prefeito confirmou que está distribuindo 2 milhões de máscaras para moradores da cidade. Aliás, número insuficiente, uma vez que a máscara tem “tempo de vida útil”, devendo ser lavada ou trocada a cada quatro horas. Ademais, essa distribuição de máscaras, gratuitamente, deveria ter sido iniciada antes da edição do decreto. Mas o prefeito não pensou nisso.

Porém, com a recomendação e o inquérito do MP, a Prefeitura de Belo Horizonte suspendeu, nessa sexta-feira (8), a aplicação de multas no valor de R$80 (oitenta reais) para moradores que fossem pegos pelas ruas da capital sem máscaras ou cobertura no nariz e boca. E como mencionado antes, esse valor seria cobrado a partir do dia 15 de maio.

O novo decreto divulgado no Diário Oficial do Município, nessa sexta-feira (8), também cancela a multa de R$20 mil (vinte mil reais) para quem porventura fizesse eventos dentro de carros (drive-in) na cidade, em áreas públicas ou particulares, bem como revoga a cobrança de 20 (vinte) vezes o valor do condomínio, que seria feita a condomínios residenciais e comerciais que não organizassem o uso de áreas comuns e permitissem festas.

Ou seja, o prefeito está em casa, sem muito que fazer, e fica tendo ideias ditatoriais, típicas de quem não sabe governar no Estado democrático de direito. Tudo bem que existam normas ainda vigentes a serem seguidas e obedecidas, mas com certa moderação nas exigências do poder público, posto que as penalidades até então cogitadas pelo prefeito extrapolam sua autoridade.

Desde a publicação dos decretos das máscaras e dos condomínios, havia um questionamento da classe jurídica quanto à legalidade do ato do Executivo municipal, inclusive da minha parte, enquanto operador do direito, uma vez que sempre entendi coercitivos e antidemocráticos os decretos de penalidades e a forma de expressar do prefeito.

Também sempre entendi que a Câmara Municipal estava e está à sombra da prefeitura, silente e cabisbaixa, como se não tivesse que prestar satisfação à sociedade belo-horizontina quanto aos decretos e atos unilaterais do prefeito da cidade. Tem-se a impressão que os vereadores estão de férias infindas e não precisam fiscalizar a gestão do município, deixando ao talante do prefeito fazer o que ele quer.

A improbidade administrativa alegada pelo MP contra o prefeito Kalil é muito séria e requer a manifestação colegiada dos parlamentares municipais, que precisam trabalhar e não somente ficar em casa sem justificar o salário mensal que recebem. Esse comodismo dos vereadores da capital chega a causar estranheza, mesmo porque os problemas da cidade são muitos e os representantes do povo devem exercer os seus mandatos nos termos da Constituição, sem fugir das suas obrigações legais. O home-office existe pra isso, temporariamente.     

Se a Câmara Municipal recebeu documento assinado pelo promotor Leonardo Barbabela, “sobre a apuração de suposto ato de improbidade administrativa cometido pelo prefeito Alexandre Kalil por conta do decreto sobre multa para quem não usar máscaras”, que se pronunciasse de imediato sobre a questão, sem procrastinação e sem tergiversação.

Se o MP solicitou ao Legislativo as devidas informações sobre possível autorização para que o Executivo aplicasse as tais punições por decretos, que se manifestassem, então, os senhores vereadores, sem mais delongas. Mas, como o prefeito recuou e revogou os decretos das penalidades, os vereadores passaram em branco, sem exercer o papel que lhes cabe e deixando um vácuo entre o que pode e o que não pode ser editado por decreto. Restou omisso o Legislativo municipal.

Graças ao MP e às muitas manifestações de advogados, incluindo a minha modesta sinalização jurídica a respeito, os decretos de multas foram anulados por determinação do próprio prefeito, que deve ter sido orientado quanto aos riscos de improbidade administrativa e alertado quanto à sua açodada decisão nada democrática de aplicar multas aos cidadãos, que já sofrem horrores com o isolamento social, fechamento dos negócios e uso obrigatório de máscaras em razão da pandemia de coronavírus (Covid-19).

Andou bem o MP por meio da iniciativa do promotor de Justiça Barbabela, que levou o prefeito Kalil a revogar o decreto das multas, sem que fosse necessário provocar o Poder Judiciário para lembrar que há lei, democracia e Estado de direito no Brasil.

Ao fim e ao cabo, cumpre destacar que as precauções sanitárias de combate ao coronavírus permanecem vigentes, devendo as pessoas fazerem o uso adequado dos equipamentos de proteção, para o bem de todos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).  

Comentários

  1. O prefeito Kalil deve achar que ainda está dirigindo o time do galo dele onde ele mandava e desmandava e não dava satisfação a ninguém. O MP fez muito bem em colocar o sujeito no seu devido lugar. Onde já se viu querer multar as pessoas na rua que estiverem sem máscara? Onde isso? Só nas ditaduras da China, de Cuba e da Venezuela. Aqui não Kalilzão doidão. Desculpas Dr. Wilson, mas esse cara já passou das medidas. Parabéns ao senhor Dr. Wilson por esse excelente artigo que muito honra nós mineiros. Forte abraço. Paulo José C.O. (microempresário)

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  2. A minha sugestão é que o dr. Wilson Campos seja nosso próximo prefeito pois ele conhece muito da nossa cidade e tem feito um trabalho bonito junto com as Associações de moradores e de bairros e movimentos sociais em defesa do meio ambiente, da cidade, do transporte, do plano diretor, da lei do silencio, da qualidade de vida, da inclusão social, etc etc etc. Vamos lá Dr. Wilson coragem e ganhar essa eleição e administrar com seriedade essa nossa querida Belô. Parabéns ao senhor por mais um artigo de grande qualidade e sempre com muito equilíbrio como dizem os advogados dentro da razão sempre. Não é isso? Obrigada. Maristela Salgado- da região centro sul e colaboradora de oficinas nas periferias.

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