TEMPO PARA FALAR E TEMPO PARA ESCUTAR.

Se até na Suprema Corte, mediante as exigências da era moderna é dado à sociedade tempo para falar e tempo para escutar, de modo diferente não pode se portar a classe política do país, que via de regra insiste em tempo maior para falar, sem, no entanto, se dispor a escutar. Ora, muitos políticos se esmeram em longas oratórias, às vezes cansativas, pensando talvez que a comunicação seja a arte da fala, quando em verdade é a arte do escutar.

A campanha de rua que impressiona o povo não é a da carreata, do show, da poluição de panfletos e santinhos atirados pelas ruas, mas aquela que se presta a escutar o cidadão-contribuinte. O povo quer ser escutado.


Aquele que sabe escutar, por certo sabe usar a palavra certa na hora certa. Escutar é o grande segredo da comunicação e mais que isso é a chave da sabedoria. O grande líder procura entender o que acontece ao seu redor, se interessa pelos problemas e sabe acima de tudo escutar.

Os aprimoramentos da comunicação, da habilidade de argumentação e do poder de convencimento estão relacionados com a arte do falar menos e escutar mais, pois este dom permite aflorar o domínio e a inteligência. Note-se que a referência é sobre escutar e não apenas ouvir, posto que exista uma diferença muito grande entre estes dois termos tão presentes na vida de todos.

Ouvir é superficial e está relacionado aos sentidos da audição. Não representa aprendizado. Não faz diferença alguma, uma vez que logo a seguir pode cair no esquecimento. Ou seja, entrou por um ouvido e saiu por outro.

Escutar, porém, é estar atento, ligado, interessado. Exige esforço intelectual, concentração e atitude interpretativa. Dá trabalho porque não admite comodismo e remete à análise e resposta do que lhe falam. Enfim, escutar é a arte de aprender para poder ensinar.

Um grande político necessariamente precisa saber escutar. E a pedra de toque nas relações com o povo é muito mais que falar ou simplesmente ouvir, é escutar. 

As coligações partidárias à procura de alguns minutos a mais na televisão, no horário político eleitoral, seriam desnecessárias se o político se mostrasse à frente de seu tempo, conversando frente a frente, olhando direto nos olhos e dizendo a que veio, sem medo de errar e sempre disposto a escutar. Difícil para alguns políticos, mas não para o político que queira ser o diferencial, longe das mesmices catastróficas que enredam e desacreditam.

Sem conhecer o real sentimento do povo, as alianças políticas, pulverizadas e alinhadas apenas pelo interesse próprio, acabam afastando o eleitor que avalia de longe o peso da máquina que transporta candidato e apoiadores de última hora, pouco afeitos a escutar os reclamos das comunidades, mas sempre dispostos a passar com o trator da prepotência sobre as ideias e reivindicações da sociedade democraticamente organizada.

Enquanto a política é definida como a arte da administração, direção e organização da cidade-Estado, a politicagem é a face ordinária, mesquinha e interesseira da chamada súcia de maus políticos. Acima destes, a coletividade paga os impostos e pede pelo rigor da lei, na expectativa de que a arte da gestão política seja tomada pelo senso de responsabilidade no trato da coisa pública, começando por escutar o povo em todas as suas demandas localizadas. Portanto, a arte de escutar é um privilégio não apenas do povo, mas também do político que queira administrar com seriedade e de ouvidos atentos à sabedoria popular.

Wilson Campos (Advogado / Pós-Graduado em Direito Tributário e Trabalhista / Membro da Comissão de Dir. Trib. da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal HOJE EM DIA, edição de 12/08/2012, domingo, pág. 27).

   

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