INÉPCIA ESTADUAL

Passados cento e vinte dias da posse do novo governo do Estado de Minas Gerais, as aparições do novo gestor estadual são apenas no sentido de que a casa precisa ser arrumada, que a verba está curta, que as contas estão altas e que o governo anterior deixou muito estrago para ser consertado. Ou seja, as desculpas são as mesmas dos antecessores e serão, por certo, também dos sucessores. 

Essa cantilena de que o outro não presta e que os atuais farão melhor, não convence a mais ninguém. O povo sabe que o governante sério, probo, eficiente arregaça as mangas e trabalha por uma administração produtiva, voltada para os interesses emergenciais da sociedade, independentemente de que uns e outros tenham cometido erros e falsetes na gestão do território mineiro, mesmo porque essa função de fiscalizar e apurar ilegalidades no estado é do Tribunal de Contas, do Poder Legislativo e do Ministério Público, aos quais cabe traduzir para os cidadãos a verdade dos fatos, das contas, dos números e das responsabilidades da gestão perante o Poder Judiciário.

Os dias e meses avançam no ano e os projetos do novo governo não são implantados ou iniciados. As estradas continuam esburacadas, as rodovias abandonadas, os hospitais públicos sucateados e lotados, a polícia desaparelhada, os professores mal remunerados, as contas de energia e de água majoradas, além das ameaças de racionamento desta e daquela, as desigualdades gritantes das cidades do interior, a violência impune, a corrupção incontrolada e o caos econômico e social levando ao desespero as famílias mineiras. A inépcia administrativa alegada não há que se impor como crítica, mas como continuada mea culpa, proporcional a cada um.

 Da mesma forma, a anunciada frase de campanha de que "no nosso governo o povo vai ser ouvido", não passou de mais uma promessa. A população da capital e do interior continua sem direito a voz. Os cidadãos são convidados apenas a contribuir com mais pagamentos de impostos para bancar o luxo do Executivo, os gastos das dezenas de secretarias, as diárias dos deputados, as verbas de gabinetes, as viagens das comitivas e os voos fretados de agentes públicos e políticos. A gastança não mudou em nada. As mordomias governamentais continuam livres e soltas nas terras de Minas Gerais. 

Enquanto o bom exemplo não vem, a minoria palaciana se deslumbra e se deleita com o requinte da cidade administrativa e a maioria representada pelo povo se submete aos trancos do transporte coletivo precário, à insegurança das ruas, ao desespero do anel rodoviário e às mazelas da vida inflacionada pelo alto preço dos serviços, dos produtos e das tarifas públicas. Isso, para ficar no óbvio, porque as necessidades imediatas da população remetem a centenas de outras garantias sociais indispensáveis.

Mudar o governante e não mudar o jeito de governar não resolve. Mudar apenas nomes e continuar com a mesma falácia partidária não prospera. Mudar simplesmente por mudar não representa esperança para o povo. É preciso coragem, determinação, ética, honra, desprendimento, equilíbrio, seriedade e acima de tudo, trabalho honesto e transparente. 

A cidadania é uma conquista adquirida ao longo dos anos. Não pode ser retirada por inépcia governamental ou por interesses dos grandes em detrimento dos pequenos. A cidadania é uma garantia fundamental e um direito constitucional, que não podem ser arrancados do indivíduo. A cidadania é o direito de votar e também de exigir dos eleitos que trabalhem com a democracia, governando com o povo, pelo povo e para o povo. 

A inépcia estadual não pode vingar no Estado Democrático de Direito e não deve ser transferida como um encargo imprestável a custa do sofrimento do povo. A inépcia administrativa precisa ser combatida, superada, derrotada e extinta da vida pública. A inépcia não admite retórica de campanha de qualquer governador, mas requer capacidade e gestão excelentes na defesa das melhorias reivindicadas pelos seus coestaduanos, como o metrô, a duplicação da BR 381, as obras do anel rodoviário, a construção de hospitais públicos, a inclusão social, o tratamento igual dispensado aos municípios, os investimentos na segurança, na moradia, na educação, no combate às drogas, na proteção do meio ambiente e no bem estar dos mineiros.  

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).     

Comentários

Postagens mais visitadas