PREFEITURA ACÉFALA
Há
alguns meses a população reclama da ausência do chefe do governo municipal e,
principalmente, depois das eleições para prefeito e vereadores realizadas em
primeiro turno (2 de outubro) e em segundo turno (30 de outubro).
A
prefeitura está acéfala, embora os acontecimentos estejam se acumulando e sem a
contrapartida das soluções da administração municipal. Ou seja, a cidade está
se apresentando como um município sem comando e sem rumo certo, porquanto os
problemas se avolumam e os munícipes ficam sem a prestação do serviço público
adequado e tempestivo.
A
insatisfação da sociedade é quase unânime, numa demonstração de perda de
valores por culpa exclusiva da administração municipal, que não toma as rédeas
da cidade, não cuida da população e não dá exemplos de trabalho e governo, uma
vez que não visita os bairros e muito menos se mostra presente nas áreas de
maiores insegurança e abandono, sem falar nas regiões da periferia.
A
outrora e sempre repetida campanha publicitária municipal que usava
costumeiramente a frase "Prefeitura de Belo Horizonte, não para de
trabalhar por você", além de ter sumido da mídia, levou consigo os executivos
da administração municipal (prefeito, secretários e diretores de autarquias), que,
regra geral, nunca dão respostas às perguntas da população, que sofre com o
péssimo serviço público nas áreas da educação, saúde, segurança, transporte, coleta
de lixo, iluminação pública, saneamento básico, buracos nas ruas e outros males
que atormentam o dia a dia do cidadão belo-horizontino.
A
cidade está suja e abandonada. A antiga "cidade jardim" está sendo
verticalizada a todo vapor, com privilégios para uma urbanização apressada e
voltada para a construção de grandes prédios, que não revelam a mínima preocupação
com a sustentabilidade e muito menos com a qualidade de vida da população.
O
Plano Diretor está há mais de um ano na Câmara dos Vereadores, sem análise e
sem a necessária deliberação legislativa. O alcaide não se esforça, os
vereadores fazem pirraça, a cidade se perde na falta de organização urbana e o
povo paga a conta e sofre com os males do desserviço público orquestrado.
O
sistema de transporte rápido por ônibus, mais conhecido como BRT, nos três
corredores principais das avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado
está piorando a olhos vistos, colocando em xeque a competência do poder
público, testando diariamente a paciência dos usuários e deixando a mobilidade
na contramão do progresso, posto que nega ao trabalhador o transporte coletivo célere,
seguro e eficiente.
As
enchentes voltaram a atormentar a vida das pessoas, sendo que, na realidade, o
volume de chuva ainda nem chegou ao máximo esperado, donde se conclui que a
cidade não está preparada para as chuvas de outubro a março, quando as águas
rolam pra valer. As chuvas anuais sempre causam inundações, provocam
desabamentos e deixam famílias ilhadas, sem que o poder público municipal tome
atitude ou promova soluções. As enxurradas levam carros, móveis e até pessoas,
numa prática criminosa de falta de cuidados da administração.
Não
bastassem todos esses apelos guturais emitidos pelos munícipes menos
acomodados, repetem-se as tristes notícias de corte de verbas nas áreas da saúde
e da educação. Aliás, nesse sentido da diminuição de investimentos públicos, a Prefeitura
de Belo Horizonte é notícia, haja vista que o executivo municipal propôs Ação
Cautelar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), há algum tempo, no sentido de
retirar verba da educação para injetar nas megalomaníacas agendas de realização
da copa do mundo de 2014. A ideia da prefeitura era tirar da educação para
aplicar em um evento que nada ou pouco traria de benefícios para a população
local.
O
meio ambiente está relegado a segundo plano na cidade, mais por indiferença do
prefeito e de sua equipe, que pouco se importam com os riscos iminentes de
destruição das áreas verdes. As praças e parques, da mesma forma, estão abandonados,
deixados de lado, e entregues aos cuidados apenas dos moradores. A
biodiversidade, tão prestigiada em outros tempos, hoje é vista pela
administração como um empecilho aos seus interesses de proliferação de espigões
e obras sem muita utilidade para a população. Ademais, algumas obras nem sequer
merecem consulta popular, sendo decididas nos gabinetes e a portas fechadas. O
caos atravessa a cidade de norte a sul e de leste a oeste. A opinião pública é
severa na afirmação de que a cidade está decadente e sem inspiração.
A
Serra do Curral está ameaçada de degradação, além de estar sendo judicializada
para que não seja destruída pelos empreendimentos imobiliários. A Pampulha
mereceu a designação para receber o título de Patrimônio Mundial da Humanidade,
mas sofre com o mau cheiro, o assoreamento e o jogo de empurra da prefeitura,
que não cumpre as metas de despoluição e nem de embelezamento.
As
matas do Planalto, Jardim América, Luxemburgo e outras poucas existentes na
cidade enfrentam a ameaça constante da construção civil, que quer trocar o
verde das áreas ecologicamente equilibradas pelo cinza do concreto armado, numa
verdadeira guerra fria da especulação imobiliária, que conta, vergonhosamente,
com o assentimento da administração pública.
O
trânsito, os postos de saúde, as escolas públicas, o Hospital do Barreiro, as
unidades de educação infantil, a qualidade de vida e o bem estar de todos
ficaram apenas no papel e nas promessas de campanha, porque as novidades não
vieram, e não foram implementadas as melhorias necessárias. A insatisfação dos
cidadãos é crescente no que diz respeito a todas essas áreas que alcançam os
direitos fundamentais assegurados na Constituição Federal.
Na
mesma linha inexorável e obtusa da cidade abandonada ou acéfala, se posta a
Câmara Municipal, autoritária, inerte e subserviente.
No
entanto, a participação cidadã está crescendo, e os governos municipal, estadual
e federal estarão na berlinda e deverão dizer a que vieram as suas
administrações, porquanto toda paciência tem limite.
Cabe,
portanto, ao cidadão belo-horizontino, escolher melhor os seus representantes
para os cargos de prefeito e de vereadores, para que não se tenha, jamais, uma Prefeitura
acéfala e uma Câmara Municipal inoperante.
O
silêncio e a posição de cócoras com o queixo nos joelhos já não mais serão as
posturas do cidadão ou da cidadã, mas a voz firme da participação e a posição
reta e de cabeça erguida serão as maneiras de sua expressão. O tempo dirá da
importância do engajamento da sociedade para a melhoria da qualidade de vida de
todos, somada ao respeito e à dignidade da pessoa humana, necessários e
imprescindíveis na formação da cidadania.
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).
Comentários
Postar um comentário