A PEC DO TETO DOS GASTOS
No
caso concreto, o bom exemplo não parte do governo federal, que deveria começar
cortando nos salários e acessórios dos membros efetivos dos três poderes da
República - o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
No
entanto, além de não cortar na própria carne, as "magnânimas autoridades"
criam a Proposta de Emenda à Constituição do Teto dos Gastos, que aflige e
ameaça diretamente o povo brasileiro.
A chamada "PEC
do teto" inventa um teto para o gasto público, com objetivo de evitar que
a despesa cresça mais que a inflação a partir de 2017. Esse novo
regime fiscal terá duração de 20 anos. A partir do décimo ano, o presidente da
República poderá rever os critérios uma vez a cada mandato presidencial.
Cada um dos três poderes e seus
órgãos terá limites específicos para despesas. O Executivo poderá compensar
excessos de gastos dos demais poderes em até 0,25% do seu limite, nos três
primeiros anos de vigência das novas regras. Em 2017, os limites serão
estabelecidos com base na despesa paga em 2016 (incluídos os restos a pagar),
corrigidos em 6,52%, que é a inflação prevista para o ano. Nos anos seguintes,
os limites serão corrigidos pela inflação (IPCA) acumulada em 12 meses até
junho do ano anterior.
Segundo estimativas da
consultoria de orçamento, o teto do Executivo para 2017 ficaria em R$ 1,232
trilhão; do Judiciário, em R$ 39,7 bilhões; do Legislativo, em R$ 11,5 bilhões,
sendo R$ 5,6 bilhões para a Câmara e R$ 4 bilhões para o Senado; do Tribunal de
Contas da União (TCU), R$ 1,9 bilhão; e do Ministério Público, R$ 5 bilhões.
Haverá tratamento diferenciado
para saúde e educação em 2017. A saúde terá 15% da receita corrente líquida e a
educação ficará com 18% da arrecadação de impostos. A partir de 2018, as duas
áreas passarão a ter as despesas corrigidas pela inflação, como os demais
setores.
Quem romper o teto ficará
automaticamente proibido de elevar despesas obrigatórias, como reajustes e
mudanças de carreira para servidores; ganho real para o salário mínimo;
abertura de concurso público, criação/expansão de programas; concessão
incentivos fiscais.
A votação dessa PEC, depois de
aprovada na Câmara dos Deputados, ocorreu em sessão tumultuada do Senado, que aprovou nessa terça-feira (13), em segundo
turno, a PEC que estabelece um teto para
os gastos públicos pelos próximos 20 anos.
A votação no Senado foi apertada.
O texto foi aprovado por 53 votos a favor e 16 contra. Para a aprovação, eram
necessários três quintos (49) dos votos dos 81 senadores. A sessão do Congresso
Nacional destinada à promulgação está marcada para as 9h desta quinta-feira
(15).
No último dia 30, a PEC já havia
sido aprovada em primeiro turno pelo Senado, por 61 votos a 14. Mas, por se
tratar de uma mudança na Constituição, o texto ainda precisava passar por uma
segunda votação.
Após o término da sessão, o líder
do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), justificou a redução do número de
votos favoráveis à PEC (61 no primeiro turno e 53 no segundo). De acordo com
Jucá, seis senadores que certamente votariam pela aprovação da matéria não
compareceram à sessão, entre os quais Rose de Freitas (PMDB-ES) e Fernando
Collor (PTC-AL). "Preferimos aprovar o texto. Se tivéssemos adiado,
poderíamos ter dado sinal de fraqueza", disse. "Ganhamos. O importante
é isso: no meio de um vendaval, entregar o produto", completou.
Na realidade, a votação apertada
mostrou que nem mesmo os senadores estão unidos em torno da PEC, o que joga por
terra as alegações dos partidários do governo.
A
proposta foi enviada pelo Palácio do Planalto ao Congresso em junho e, ao lado da reforma da Previdência
(outra medida absurda e injusta com o povo) é considerada por governistas como
essencial para o reequilíbrio das contas públicas.
Senadores
da oposição chamam a proposta de "PEC da maldade” porque, na visão deles,
a medida vai congelar investimentos nas áreas de saúde e educação, o que os
governistas negam.
Os
oposicionistas citaram pesquisa Datafolha, divulgada pelo jornal "Folha de
S. Paulo", segundo a qual 60% dos entrevistados se posicionaram contra a
PEC do teto.
Protestos
contra a medida foram registrados em vários estados. Em Brasília, a Polícia
Militar fechou os acessos ao Congresso Nacional. Em várias capitais, os
protestos ecoaram pelas ruas e praças. Percebe-se, portanto, que a PEC não
agrada à população, e que o governo somente leva adiante os seus projetos de
malvadezas graças ao uso de força e ao abuso de poder, porquanto a opinião pública
não esteja sendo observada.
As regras e os principais pontos da PEC do teto dos gastos:
As
despesas da União (Executivo, Legislativo e Judiciário e seus órgãos) só
poderão crescer conforme a inflação do ano anterior;
A
inflação para 2017, que servirá de base para os gastos, será de 7,2%;
Nos
demais anos de vigência da medida, o teto corresponderá ao limite do ano
anterior corrigido pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA);
Se
um poder desrespeitar o limite, sofrerá sanções no ano seguinte, como a
proibição de realizar concursos ou conceder reajustes;
Se
um poder extrapolar o teto, outro poder deverá compensar;
Os
gastos com saúde e educação só serão enquadrados no teto de gastos a partir de
2018.
Com
relação aos gastos mínimos em saúde, o texto prevê que passem em 2017 dos
atuais 13,7% para 15% da receita corrente líquida (somatório dos impostos
descontadas as transferências previstas na Constituição). E que, a partir de
2018, esses investimentos se enquadrem no teto de gastos, sendo corrigidos pela
inflação.
Ficam
de fora das novas regras as transferências constitucionais a estados e
municípios, além do Distrito Federal, os créditos extraordinários, as
complementações do Fundeb, gastos da Justiça Eleitoral com eleições, e as
despesas de capitalização de estatais não dependentes;
A
partir do décimo ano de vigência do limite de gastos, o presidente da República
poderá um projeto de lei ao Congresso para mudar a base de cálculo.
Embora
já aprovada, a principal aposta do governo Temer para acertar as contas no
País, a PEC divide opiniões – especialmente devido ao congelamento dos recursos
para as áreas da saúde e da educação e pelo período de vigência, fixado em 20
anos.
Ou
seja, se já não havia verba suficiente para a saúde e educação, agora piorou
muito, pois o governo federal usará da mão de ferro no controle desses
investimentos tão urgentes e necessários para a população brasileira. Por outro
lado, o governo federal, "bonzinho" com seus políticos manipuláveis,
revela-se mau e intransigente com o cidadão comum.
Resta saber se os Três Poderes vão cumprir os limites de gastos impostos às suas respectivas áreas. Essa é mais uma árdua tarefa para a população - fiscalizar se as "autoridades" estão cumprindo a sua parte na PEC do teto dos gastos.
Enquanto isso, os investimentos para as áreas populares da saúde e da educação estão sob rigoroso controle da máquina estatal, apesar da insuficiência desses serviços públicos no momento atual. O povo protestou, mas o governo fez ouvidos moucos aos reclamos da sociedade organizada.
A democracia vai se desfazendo
diante do autoritarismo daqueles que não sabem escutar a cidadania.
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Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário,
Trabalhista e Ambiental).
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