POLITICAGEM NÃO É POLÍTICA.



(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 1º de dezembro de 2016, pág. 19).


 
Uma nação se constrói com cidadãos cumpridores de direitos e deveres, que sabem exigir a prestação de serviço público eficiente e adequada, em todos os níveis da República.

Uma nação se faz com políticos de verdade, íntegros, éticos e honrados, e não com arremedos de homens públicos, manipuladores da política.

Politicagem é uma deformação da política e implica nepotismo, chicana, suspeição, má fé, corrupção, suborno, tráfico de influência e improbidade. Esses valores negativos traduzem muito bem a grande maioria de políticos que está na gestão pública ou em cargos eletivos. Poder-se-ia dizer o contrário, mas não seria real ou verdadeiro. Ademais, a politicagem é visceral, contamina os gananciosos e os fracos de espírito, que se somam à camarilha insidiosa.

É público e notório que a politicagem anda solta como um vírus em todo o corpo do Estado brasileiro. As instituições estão cheias de gente politiqueira.  Essas pessoas estão preocupadas em levar vantagem. O politiqueiro está interessado em favorecer a si, sua família e seus apadrinhados. Ele não está preocupado com a meritocracia, mas com seus interesses meramente pessoais. O politiqueiro custa muito caro aos contribuintes, que pagam pesados impostos. Ganha muito para nada fazer. No exercício dos cargos, geralmente se vende e se locupleta à custa do erário.

Política, por sua vez, significa o governo da cidade. Tem relação direta com ética, transparência, probidade e comprometimento. É o compromisso com a governabilidade e com a gestão eficiente do ente federativo. O político autêntico, por vocação, e não por oportunismo, é uma pessoa comprometida com a excelência em governar ou legislar com justiça. O político é alguém que está engajado na construção de um projeto de Estado democrático. Ele está interessado no bem da nação e em como contribuir de forma decisiva para o fortalecimento das instituições.

O político é um servidor público. Seu poder nasce da vontade do povo, mas para servir com dignidade, equidade e respeito. Não tem interesses pessoais, mas vontade de trabalhar para os interesses da coletividade. O político correto não procura cargos, mas cargas de trabalho. Ele não vota na calada da madrugada, de forma sub-reptícia. É uma pessoa comprometida com seu povo, e não com seu bolso. 

Como visto, nunca foi tão necessária a distinção dessas duas palavras ("política" e "politicagem"), no âmago da língua brasileira. Em tempo algum se precisou tanto e desesperadamente diferenciar esses dois termos do dialeto tupiniquim.

Mirem-se, portanto, os políticos naqueles que enriqueceram a história brasileira, sem, contudo, enriquecerem-se à custa do suor e do sofrimento do povo.

O que o Brasil não precisa é de pessoas com talento para a politicagem, embora tenhamos tantas, mesmo porque corrupção não é política, e sim politicagem.

Mas chega um tempo em que o povo se cansa da vergonha alheia.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG.

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 1º de dezembro de 2016, pág. 19).

 

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