GOVERNANÇA ACÉFALA.



 
A profunda insatisfação dos mineiros com o governo estadual é crescente, declarada e arrazoada. Da mesma forma, encontram-se os belo-horizontinos em relação ao governo municipal. Ambos os governos são pouco produtivos, sem prestígio nacional e de ações sonolentas, que remetem à vergonha alheia e ranger de dentes - do povo, naturalmente.

Minas Gerais, um dos estados mais pujantes do Brasil, encontra-se no pior momento de sua história. Administrações desastrosas transformaram mandatos eletivos em palco de cenas e atos de pura política partidária. Gestões frágeis não atingiram os objetivos recomendados à importância do território mineiro. A incúria e a ausência total de zelo com as finanças deixaram em frangalhos as contas públicas, e o Estado passou a ser o segundo mais endividado do país.

Diante da ruína financeira, o atual governo estadual adotou medidas antijurídicas e desumanas; parcelou os salários dos servidores públicos civis e militares; atrasou o pagamento dos fornecedores; cogitou de usar indevidamente os depósitos judiciais; tergiversou sobre vender a Cidade Administrativa; ameaçou fazer cisão de empresas sem consenso e sem oitiva da sociedade organizada; improvisou sobre criar fundos imobiliários a partir da venda de ativos; adiou, sem explicações, os repasses aos municípios; virou as costas para as cidades do interior e para a capital; e praticou soluções paliativas, pífias, que estão levando Minas Gerais ao descrédito, à desconfiança e ao fundo do poço.

Belo Horizonte, por sua vez, também de governança acéfala, mais parece uma carroça sem condutor, transportando nada para lugar nenhum. A capital dos mineiros está suja, feia e abandonada. Os tributos são pagos, mas o contribuinte continua tropeçando em lixo espalhado pelas ruas. Trânsito parado, obras inacabadas, árvores suprimidas e não substituídas, áreas verdes ameaçadas, praças descuidadas e a cidade alagada ao menor volume de chuva são cenas rotineiras e que já fazem parte da triste realidade dos cidadãos.

O slogan “governando para quem precisa”, além de restritivo, é seletivo, porquanto não represente os reais interesses da coletividade, mostrando-se mais como uma ferramenta que propõe trabalhar apenas para uns e não para todos. Ao contrário da expressão, os belo-horizontinos precisam de alguém que governe para os cidadãos, sem distinção de time, de poder aquisitivo ou do bairro onde more, ou seja, sem distinção de qualquer natureza. A cidade precisa de um governante que esteja presente no seu dia a dia e que não permita que a transformem em banheiro público, com odores horríveis nas calçadas, como se vê atualmente. Governar para todos é repensar uma cidade mais humana, limpa, iluminada e segura. Governar para todos é repensar, na mesma linha inexorável da cidade abandonada ou acéfala, uma Câmara Municipal menos improdutiva e menos subserviente. 


Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).  

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 22 de maio de 2018, pág. 21).

 

Comentários

  1. Sou de uma classe muito numerosa de trabalhadores e pensamos como o doutor, porque o governo federal, estadual e municipal são preguiçosos na hora de trabalhar e muito dedicados na hora de roubar os cofres públicos. Isso tem de acabar, nem que seja necessário o povo e os militares nas ruas. Não aguentamos mais tantas falta de honestidade no comando da administração pública. Em MG, no estado, e em BH, na capital, as coisas estão cada dia pior, e estão como dito pelo dr. Wilson acima no seu texto. Cadê o povo mineiro?Cadê o povo de BH? Tiradentes e os Inconfidentes devem estar com vergonha de ver no que isto tudo se transformou. Vamos reagir mineirada. Vamos reagir belohorizontinos. Vamos reagir minha gente boa de MG. Wagner José L. A. e Maria Carolina S. L. A.

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  2. Acéfala, sem vergonha e merecedora de cadeia. A governança por aqui anda abaixo do ridículo. Ninguém pensa no povo, e cada um pensa em si e no seu bolso. Política de dar vergonha e de dar medo. Sem mais comentários. O que resta é ver um artigo com essa qualidade, e espero que o Dr. Wilson Campos continue assim por muitos e muitos anos, defendendo os mais necessitados e o povo em geral, na esperança de dias melhores. Deus ajude nós mineiros. Francisco A. S. Leal.

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