LIXO, ESCURIDÃO E CAOS
A
minha personalíssima confissão de amor por Belo Horizonte é conhecida. Nunca
permitirei que me tomem os elevados apreço e respeito que tenho por esta
cidade. Jamais deixarei que arranquem de mim a paixão que nutro por este maravilhoso
pedaço do Brasil.
No
entanto, vez ou outra me insurjo contra os males causados à nossa metrópole. Alguns
dias atrás, indignei-me severamente com a quantidade de lixo nas ruas, com a
escuridão das calçadas, com as pichações de muros, prédios, portas de lojas e
equipamentos públicos, e com o caos absoluto reinante nas vias urbanas. Saindo
da Pampulha, no início da noite, depois de um compromisso formal, contornei
parte da orla e me dirigi à Região Centro-Sul da cidade, para uma reunião de
trabalho.
No
trajeto, tristemente convivi com o abandono e com a desumanidade, que têm
tomado conta dessa cidade. Deparei-me inúmeras vezes com moradores de rua sob
os viadutos e mendigos nos sinais. Todos eles absortos, perdidos e entregues ao
desespero de mal conseguirem se locomover ou falarem uma palavra que seja, mas
apenas com forças para esticar as mãos e olhar como que pedindo por socorro,
pelo amor de Deus, que alguém lhes tirasse daquela situação indigna e nada
cidadã.
Durante
o percurso, rumo ao meu destino e com o pensamento voltado para as cenas
deprimentes presenciadas, enfrentei novos desafios sociais. As praças e os lotes
vagos se confundem, com mato, entulho e sujeira por todo lado. Mas não se trata
este comentário, de crítica apenas à administração municipal, que tem grande
parte da culpa, mas de crítica também ao governo estadual, que virou as costas
para a capital e somente se preocupa com questões menos importantes, porquanto
nada esteja sendo feito ou realizado, que denote progresso e desenvolvimento.
Nada.
Quase
ao final do meu itinerário, depois de muitas decepções humanas, sociais e
urbanas pelo caminho, por volta das 20 horas, deparei-me, por final, ao
estacionar, com pessoas transitando nas calçadas com as lanternas dos celulares
acesas, tamanha a escuridão e a absoluta falta de iluminação nos locais
utilizados para deslocamento de crianças, idosos, pessoas com deficiência e outros
cidadãos obstados no seu livre direito de ir e vir com segurança. A constatação
é única: descaso total da administração pública.
A
cidade outrora chamada de Cidade Jardim está descuidada e decadente, principalmente
se comparada com outras capitais que conseguem mobilizar recursos federais por
meio de políticas públicas assertivas e alcançadas pelo esforço de governantes
mais dedicados. Fato que não acontece aqui. Ao contrário, BH paga caro por
administrações municipais e estaduais erráticas, sofríveis, trôpegas e sem o
menor zelo com os cidadãos.
Se
faltam recursos financeiros para colocar a cidade humanamente habitável, a
solução pode estar mais perto do que parece, bastando começar pelos cortes de
despesas da Câmara Municipal que pouco produz; das secretarias e órgãos que
servem de cabides de emprego; da PBH Ativos, que já deveria ter sido extinta; e
de empresas públicas e autarquias que poucos serviços prestam, e que nem sequer
a população sabe que existem.
Se
o descaso da administração pública é por falta de ânimo para o trabalho ou por
falta de vontade política, que a lição sirva e os eleitores aprendam a votar e a
escolher melhor nas próximas eleições. Uma cidade do porte de Belo Horizonte,
tão querida por todos nós, não pode sucumbir ao lixo, à escuridão, às
enchentes, às pichações, à desumanidade e ao caos, simplesmente porque está
submetida, lamentavelmente, a gestões de pouca ou nenhuma envergadura.
Se
o problema é falta de colaboração da sociedade, ofereço a minha contribuição,
gratuitamente, para somarmos forças (sociedade civil organizada, iniciativa
privada e poder público) e encontrarmos soluções urgentes para esses graves
acontecimentos, e empreendermos trabalho e ação, para trazermos de volta aos
belo-horizontinos o prazer de olharem a cidade e repetirem a fala do Papa João
Paulo II, em 1980: “Que Belo Horizonte!”.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Realmente a cidade está deixada de lado, com muito lixo, entulho, falta de lâmpadas nos postes, pichações e tudo mais, conforme foi dito pelo caro Dr. Wilson. Eu também gosto muito de BH, minha cidade preferida, mas o pouco caso com ele tem mostrado um lado triste do lugar que temos aqui. O prefeito precisa levantar mais cedo, correr a cidade, visitar os barros, conversar com os moradores e saber do que cada região precisa. Urgente, pra já e não para daqui a dois anos.. Parabéns Dr. Wilson pelo artigo irrepreensível. Wladimir Nogueira.
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