GOLPE NO PLANO DIRETOR.

            "Para quê as audiências públicas?"


Quando os belo-horizontinos pensam que a novela do Plano Diretor está no fim, que as considerações foram sopesadas e que as propostas discutidas, votadas e aprovadas na 4ª Conferência Municipal de Política Urbana serão acatadas, eis que surge um novo substitutivo, surreal e antidemocrático, apresentado a toque de caixa e aprovado no apagar das luzes da reunião extraordinária da última segunda-feira, pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário da Câmara Municipal.

O inesperado substitutivo provoca controversos ajustes no Plano Diretor: retira do texto a composição paritária entre sociedade civil e poder público no Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), assegurando maioria de representantes estatais no órgão deliberativo; privilegia instituições religiosas, isentando-as do pagamento de outorga onerosa; descaracteriza a Área de Diretrizes Especiais (ADE) do Santa Tereza, permitindo estacionamento em área predominantemente residencial; e rejeita as subemendas que protegem as áreas verdes, que foram objeto de intensa defesa por parte da sociedade; entre outros.

O que causa estranheza e perplexidade é a forma como a administração municipal engana e tergiversa, notadamente quando realiza reuniões com os moradores e afirma que as propostas da conferência serão respeitadas na revisão do Plano Diretor e, de repente, por meio de práticas condenáveis do ponto de vista legal, adentra a contramão da segurança jurídica e renega o combinado, dando de ombro para a gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas da comunidade.

Da mesma forma, provoca desconfiança a maneira como alguns vereadores tomam o partido da prefeitura e do setor empresarial, em detrimento dos interesses coletivos, em que pese o direito inalienável de cada um defender o que melhor lhe convenha. No entanto, cabe aos agentes públicos e políticos a observância do texto da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), porquanto ela estabeleça normas de ordem pública e interesse social e seja reguladora do uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Os dias têm sido tormentosos para os defensores da cidade. As conversas giram em torno do golpe que foi encetado por esse novo substitutivo, que inibiu a esperança de se honrar o que foi discutido nas audiências públicas, de se cumprir o que foi acordado em favor dos bairros e de se preservar a integralidade das últimas áreas verdes da cidade. Mas mudanças poderão surgir.

Transcorridos quatro anos, o Plano Diretor se revela tardio, o que exige que seja votado e colocado em vigor, de preferência respeitando a íntegra das propostas efetivadas na 4ª Conferência, com a advertência de que não serão tolerados golpes nem apanágios, seja por autoritarismo, concessão ou imposição de substitutivos.

Wilson Campos (Advogado/Delegado Titular do Setor Técnico na 4ª Conferência de Política Urbana/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 16 de maio de 2019, pág. 23).




Comentários

  1. Parabéns pelas suas colocações , brilhantes . Parece que sai legislatura , entra legislatura estamos sempre com pessoas de mau caráter nos representando . Novamente , parabéns !

    ResponderExcluir
  2. Muito bom o texto do doutor Wilson, como sempre cheio de razão. Eu acho que esses vereadores são uma vergonha para nós e eles ainda obedecem ordens uma hora da prefeitura e outra de empresários. Que bando de incompetentes e paus mandados. Vergonha. O Plano Diretor é bom para a cidade e precisa funcionar. Parado na Câmara dos Vereadores ou na Prefeitura não adiante e ainda serve de troca de favores para ser votado. Cambada de oportunistas esses vereadores e também essa turminha da prefeitura. Todos são manipulados pelos empresários. Sobra interesse nesse "poder" municipal. Enfim, meus parabéns Dr. Wilson Campos por mais essa pérola de texto. Meus respeitos. Marcos Noronha F.

    ResponderExcluir
  3. Grande Wilson, bom dia.
    Parabéns pelo brilhante artigo. Os vereadores de BH, como sempre ...
    Abraço,
    Roger Amaral

    ResponderExcluir
  4. Dr Adv Wilson Ferreira Campos
    Receba meus reiterados cumprimentos pela sua hercúlea, permanente, persistente LUTA, desde os preparativos para a IV COMPUR (de 2014) por um novo PLANO DIRETOR DE BELO HORIZONTE que efetivamente traduza o melhor para os belohorizontinos. Ernani Ferreira Leandro.

    ResponderExcluir
  5. APOIADO. O SINARQ/MG ASSINA TAMBÉM EMBAIXO. Eduardo F. Soares.

    ResponderExcluir
  6. Marco Túlio Camargos.17 de maio de 2019 às 17:27

    prezado doutor wilson
    boa tarde
    essa area do bairro santa tereza também conhecida como chapeu de napoleão,com o plano diretor vai fazer com que as pessoas se mudem daquele local e até retirando a vila dias de seu local provavelmente para a mobilidade urbana e a construçao comercial com estacionamentos fará daquela região densamente populosa sem saber os moradores para aonde ir alguns construtores de poder economico devem estar por tras dessas desapropriações influenciando os nossos pobres vereadores para passar tal plano diretoro vereador jair de gregorio disse que a cidade precisa de crescer em outras regiões de belo horizonte,que realmente precisam de mais desenvolvimento.
    poderia ser em micro regiões o plano diretor olhar com mais carinho,como por exemplo aqui perto a vila calafate,rua platina,na avenida tereza cristina precisa de melhoramentos urbanos, regioes de divisa de bh com contagem,o proprio rio arrudas precisa ser fechado nas regioes que ainda corre aberto, e assim fica mais barato e atende maior numero de micro regioes da cidade que realmente precisam integrar-se a b.h. Atenciosamente. Narco Túlio Camargos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas