AS CHUVAS VÊM DO CÉU, MAS A INCOMPETÊNCIA ESTÁ NA TERRA.

 

No princípio do ano passado, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, a respeito das chuvas que causaram inundações na cidade e provocaram duas mortes, disse: “Essa água vem do céu, não de incompetência administrativa”.


Data venia, prefeito, o senhor está redondamente enganado, posto que a responsabilidade é sua e de várias administrações passadas, que permitiram ao caos chegar ao ponto que chegou. Aliás, no polo passivo da responsabilização está também a Câmara Municipal, que há anos fica na sombra da prefeitura, ausente e inoperante. As chuvas vêm do céu, mas a incompetência está na terra.  


No domingo, dia 7, as avenidas Vilarinho, Cristiano Machado e Tereza Cristina tiveram alagamentos descomunais. O ribeirão Arrudas transbordou. A população atingida protestou contra o descaso do poder público municipal e reclamou a presença do prefeito. Os moradores perguntam: "Por que o prefeito e os vereadores não comparecem aos locais das enchentes para constatação in loco do sofrimento das famílias, da destruição das casas, dos prejuízos materiais e da péssima qualidade do serviço público prestado?".


As chuvas, as inundações, os alagamentos e as enchentes não são os únicos problemas da cidade, que convive há 11 meses com a pandemia da Covid-19 e, embora quase totalmente fechada por especialistas e decretos da prefeitura, encontra-se suja, feia, abandonada e tomada por placas de “vende-se” e “passa-se o ponto”, diante da falência de empresas e negócios.


Os tributos são pagos, mas o contribuinte continua sem vacina, sem segurança, sem sossego e sem garantias. As ruas estão esburacadas e sem manutenção. Placas de asfalto estão soltas nas vias, denotando serviço malfeito. Obras lentas e inacabadas travam o trânsito dos ônibus nos corredores do Move. As obras para tentar solucionar os problemas das enchentes estão extremamente atrasadas. A prefeitura diz ter dinheiro, mas a gestão é pífia.  

 

Salvo melhor juízo, apesar de estar no quinto ano de governo, o prefeito não conhece a cidade nas suas peculiaridades regionais. Sem sair dos gabinetes, ele e os vereadores jamais saberão das reais dificuldades da população. O caos atravessa a cidade de norte a sul e de leste a oeste. A opinião pública é severa na afirmação de que a cidade está decadente e sem inspiração. Faltam gestão percuciente do Executivo e fiscalização transparente do Legislativo. Os representantes eleitos estão, cada vez mais, distantes da realidade do povo e das demandas urbanas indispensáveis.

 

A cidade precisa de um prefeito atuante, que esteja presente no seu dia a dia, que saia do gabinete e arregace as mangas para a reconstrução de uma cidade mais humana, limpa, segura e inclusiva. A cidade também precisa de uma Câmara Municipal mais produtiva e menos subserviente. E a cidadania, por sua vez, saberá buscar seus direitos civis, políticos e humanos, porquanto tem cumprido com seus deveres e obrigações.

 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG/ Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental). 

 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 18/02/2021, pág. 15).

 

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Comentários

  1. Todo ano dr.Wilson é a mesma coisa e o prefeito fala que vai resolver e não resolve nada. Com essa Câmara municipal aí que não faz nada e não vê nada o prefeito pode fazer ou não fazer nada que eles não estão nem aí. Eta povinho político da pior espécie. E os coitados dos moradores perdendo tudo na água suja e na lama fedorenta. Que vergonha para BH. Que vergonha para prefeito e vereadores . Que vergonha minha gente. Parabéns advogado Dr.Wilson Campos da OAB por este texto super importante para nós das regiões atingidas e sofredoras de BH. Obrigado mesmo de coração e obrigado ao meu filho que me ajudou a escrever este comentário aqui. Levi Pontes e filho.

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  2. Todo vez que entro no blog vejo um artigo de dar inveja e de agradecer a Deus pelo que escreve Dr.Wilson. Eu e minha gente concordamos com tudo que o senhor disse e rezamos para esses problemas pararem de uma vez por todas porque não aguentamos mais na capital nossa tudo isso todo ano com barro, enxuurrada, água suja, doenças, animais mortos, lixo e uma fedentina insuportável. Não dá mais para aguentar tudo isso todo ano só com promessas e nada de realizações. Que papelão prefeitoe vereadores. Que papelão. Meu abraço e meu muito obrigada Dr. Wilson Campos. Parabémns; Celina Prado/BH.

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  3. Dr. Wilson, pior do que o prefeito são esses 41 vereadores que ficam em casa a metade do dia e de tarde vãopara os seus gabinetes com 25 assessores e não fazem nada para justificar os salários. É muita gente para pagar sem o retorno para a sociedade que somos nós que pagamos com nossos impostos caros e o IPTU esse ano veio ainda mais caro e sem desconto por causa da pandemia que parou BH por 11meses. São 41 vereadores e cada um com 25 funcionários. Que coisa mais absurda e desleal com o povo. Isso precisa acabar. Isso é demais para nossos bolsos. Obrigado doutor Wilson e sou seu admirador por tudo que faz, escreve e dá exemplo de brasileiro honrado. João Pedro Vaz.

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  4. "Todo poder emana do povo." Ditado conhecido, mas, em mtos locais, pouco praticado. Se todos os anos a situação se repete, principalmente agora e novamente na administração Kalil, vai resolver nada e o ano que vem vai acontecer novamente. Quem o colocou lá? Na gde maioria, os que sofrem c/ os problemas, são os que o colocaram lá. Vai endenter...

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