TURBILHÕES DE INSENSATEZ, IMPROPRIEDADE E AMADORISMO.

 

A semana inteira, de segunda a domingo, foi marcada por acontecimentos inusitados, estranhos e difíceis de entender ou aceitar. A população brasileira foi tomada por turbilhões de insensatez, impropriedade e amadorismo. Talvez a explicação para tudo isso esteja na exaustão causada pela pandemia na vida das pessoas, com efeitos colaterais gravíssimos.  

 

A disputa na fila da vacina, privilegiando alguns de pequeno risco em detrimento de idosos prioritários para a imunização, tornou-se assunto de primeira ordem no seio da sociedade, tamanhos os absurdos cometidos por algumas prefeituras que decidem de forma descoordenada os grupos a serem atendidos. A reclamação é generalizada, seja quanto ao desrespeito à prioridade de casos de maior urgência, ao despreparo dos governantes estaduais e municipais para a distribuição justa das doses da vacina ou com relação ao armazenamento seguro que evite perdas e desperdícios. O amadorismo estatal é sintomático e algo de difícil compreensão.

 

As contundentes críticas do presidente da República, Jair Bolsonaro, seguidas da troca em breve do presidente e diretores da Petrobras abalaram o mercado de ações, fizeram os preços dos combustíveis disparar, causaram ameaças de greves e levaram milhares de motoristas para filas intermináveis à procura de gasolina, etanol e diesel, pelo medo de desabastecimento. O caos se instalou em razão da insensatez de pessoas que se põem em pânico ao menor sinal de quaisquer dificuldades. A greve durou poucas horas, muitos postos de combustíveis aumentaram os preços de forma desonesta e os motoristas ficaram no prejuízo por terem pagado caro pelo produto que, no dia seguinte, voltou à condição de antes. Uma empresa de suma importância para o país, a Petrobras vive um sobe e desce inexplicável. Já passou da hora da moralização definitiva da companhia e do expurgo imediato das sanguessugas. A impropriedade administrativa não pode prosperar. Chega!

 

A reabertura das escolas e a volta às aulas agitaram as redes sociais, fervilharam as mentes de pais, mães e alunos, e confrontaram as medidas municipais, que encontram resistência dos sindicatos de professores, contrários à exposição dos profissionais da educação com a pandemia ainda presente e a vacina surgindo vagarosamente, quase a conta gotas. O contrassenso fica por conta de fatos como ônibus abarrotados pode; metrôs lotados também; supermercados cheios sim; obrigação de sair para votar nas eleições, com certeza; filas enormes nas portas dos bancos, dia a dia uma cena comum; mas retornar ao convívio escolar não pode e é perigoso. Ora, o perigo se combate com cuidados e cumprimento de protocolos sanitários – distanciamento entre as carteiras dos alunos, uso de álcool em gel na entrada e nas salas de aula, medição de temperatura, uso adequado de máscara e postura proativa até a chegada da vacina. A insensatez de uns poucos não pode obstar o direito de muitos.

 

A Câmara dos Deputados, mais uma vez, inova no seu próprio interesse e dá exemplo de extremo corporativismo. Os nobres deputados reagem contra o ministro Alexandre de Moraes e o STF no caso da prisão do deputado Daniel Silveira e criam a PEC da blindagem, propondo privilégios e dificultando a prisão de parlamentares. Segundo os deputados, a PEC 3/21 resguarda as prerrogativas dos membros do Congresso e fortalece o Estado democrático de direito. Ou seja, quando o interesse é deles a reação é imediata, mas quando o interesse é do povo os projetos não andam e por vezes são engavetados por anos e anos. Contudo, o inacreditável na PEC da blindagem, se aprovada em definitivo, fica por conta do fato de que, em caso de prisão, os “excelentíssimos” deputados e senadores ficariam sob os cuidados da polícia legislativa e na custódia da Câmara e do Senado. A impropriedade política nesse ato emergencial da PEC vem comprovar que, quando ameaçados, os senhores parlamentares atropelam os limites institucionais.  

 

O PT coloca sua campanha presidencial na rua e seu candidato é Fernando Haddad, que fará peregrinação pelo país com o lema de reconstrução nacional, como se ele e todos os petistas não fossem os responsáveis pela tragédia que ocorreu nos 14 anos de governo de Lula e Dilma – 14 milhões de desempregados; aparelhamento do Estado; empresas estatais corrompidas e aos frangalhos; estupefação nacional em razão das revelações da Operação Lava Jato, de corrupção, formação de quadrilha, desvio de dinheiro público, ilícitos funcionais, improbidade administrativa, dentre dezenas de outros crimes contra a Administração. E o candidato prematuro Haddad vem a Belo Horizonte conversar com o prefeito Kalil (reeleito, mas de gestão pífia) sobre os rumos da política brasileira, e faz ácidas críticas a Bolsonaro, esquecendo-se das atrocidades e escândalos proporcionados pelo seu partido e por todos da esquerda que fizeram parte dos governos petistas. Aqui se somam o amadorismo de um candidato fraco, a insensatez quanto ao momento crítico de pandemia e a impropriedade histórica de um partido tido pela sociedade como o mais corrupto de todos os tempos.

 

Inexplicavelmente, o coronavírus, que ia sendo eliminado aos poucos, já com a vacinação de pequena parcela da população, mas com promessas de crescente imunização, sem mais nem menos volta a assustar a todos e muitas cidades e capitais passam a alegar que os leitos de UTI retornam ao alerta vermelho, uma vez que a saturação chega a 70%. Um ano depois que a Covid-19 chegou ao Brasil a aceleração de casos provoca novo pânico, pressiona sistemas hospitalares e obriga autoridades a adotar medidas restritivas para conter o avanço da doença invisível. O desassossego é grande e ninguém está imune, embora os esforços estejam sendo implementados, mas ainda insuficientes, mormente para um país de extensão continental e com 220 milhões de habitantes. O cenário é de incertezas, no Brasil e no mundo. A pandemia colocou as maiores potências mundiais de cócoras e sem saber o que fazer. Registrem-se nesse contexto trágico a insensatez e o amadorismo dos governos no enfrentamento da doença e na criação de vacina eficaz.

 

Para fechar a semana surgem denúncias graves de roubo de respiradores. Não bastasse o sofrimento do povo, que morre por falta de estrutura nos hospitais, por número escasso de leitos e por ineficácia ou insuficiência de doses das vacinas, os doentes têm agora de conviver com os crimes que colocam as vidas em risco. São denúncias de equipamentos, aparelhos e até insumos roubados dos hospitais. São relatos de negligência, covardia e ilícito de profissionais que fingem aplicar a vacina e retornam com a dose para vender ou doar para amigos e familiares. São vídeos de idosos sendo enganados por profissionais que injetam apenas a metade da dose, guardando o restante para fins inexplicados. São grupos prioritários sendo relegados a segundo plano e a preferência dada a parentes de políticos e autoridades locais. Tudo isso implica em amadorismo do serviço público de saúde na luta contra a pandemia, bem como explicita claramente a insensatez de certas autoridades, que não sabem nada de gestão e muito menos de solidariedade humana, além de denotarem impropriedade no trato da coisa pública, sejam verbas, aparelhos, medicamentos ou gestão grosseira de pessoal despreparado para atender a coletividade.   

 

Mas, ainda assim, desde que os absurdos sejam contidos, as mentiras reveladas, os crimes apurados, os criminosos punidos, os demagogos e oportunistas banidos, os péssimos gestores afastados, os maus profissionais demitidos, as vacinas eficazes distribuídas e aplicadas e a pandemia erradicada, a sociedade cidadã se dará por contemplada e sua espera por dias melhores acontecerá, restando apenas as cicatrizes e as tristes lições dos casos supracitados, que não podem se repetir, a bem do povo e do país.

 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG/ Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e ambiental). 

 

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Comentários

  1. Dr. Wilson realmente a semaninha foi de doer com tantas novidades ruins e com mais a greve dos caminhoneiros ameaçada que apareceu justa porque os motoristas não aguentam esse diesel tão caro. Nós todos estamos pagando combustível muito caro. Isso não conta os bacanas do judiciário, da câmara e do senado que tem carros oficiais,motorista e gasolina de graça. Isso é que é um país justo. Meu Deus quanta hipocrisia desse 3 poderes - ou podres poderes??????????
    Perdão dr. Wilson mas estou canasada de tanta coisa ruim que fazem com o povo brasileiro. Mas dizem que a pólvora está chegando no paiol da corrupção e da roubalheira e tudo vai explodir no ar. A petezada tem de ir pra cadeia por tudo que roubou do nosso Brasil, e lula, dilma e zé dirceu serão os primeiros se Deus quiser. Parabéns doutor por tudo maravilhoso que escreve e sempre leio com prazer. Selma Jucá -

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