BELO HORIZONTE CHORA DE VERGONHA DE SI MESMA.

 

Há alguns dias a imprensa vem fazendo coro aos reclamos da sociedade belo-horizontina, no sentido de que a cidade está terrivelmente descuidada.

Dizer que Belo Horizonte está feia, suja e mal iluminada é “chover no molhado”. Na verdade, a cidade está sem cuidado algum, abandonada, deixada de lado e à mercê da desculpa da prefeitura de que as atenções estão voltadas para o combate à pandemia. Ora, tudo bem que a pandemia requer esforço especial, mas relegar os demais problemas e fazer vista grossa a tudo mais que está acontecendo na cidade é um erro muito grave.

A Praça do Papa, a Savassi e as principais ruas e avenidas da cidade são exemplos do quanto está caótica a conservação dos espaços na cidade - tem lixo acumulado e espalhado; pichação por todo canto; jardins malcuidados ou abandonados; péssima iluminação pública; vandalismo e impunidade; desatenção e indiferença da administração municipal.

As avenidas outrora bonitas e bem frequentadas pela população hoje não passam de extensas vias sem vida ou glamour. As avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas que tanto frequentei e tinham ares de sofisticação, hoje têm canteiros centrais sem vida, sem flores, sem verde; sem contar o comércio quase todo fechado e a ausência das pessoas, que não querem frequentar. A tristeza tomou conta do lugar e a prefeitura parece acéfala, sem administrador, sem rumo e sem métodos modernos de administração.

Na Região Centro-Sul da capital o que mais se vê são imóveis com placas de “aluga-se e vende-se”, sujeira por todo lado, pichação e vandalismo. E nos bairros a situação é a mesma. Parece que a pandemia tornou-se a única tarefa da prefeitura, que não se move nem se mostra em razão de mais nada. A cidade está acéfala, entregue ao desleixo.

Quem mora, trabalha ou frequenta a Savassi é testemunha de que a região mudou para pior. A revitalização passada se perdeu por falta de fiscalização da prefeitura e de controle da Guarda Municipal. Simples assim. Culpa dos vândalos, dos mal-educados, mas culpa direta também da administração municipal.

Ninguém mais quer passear na Savassi, como acontecia nas décadas de 1970, 1980 e 1990, quando tudo era belo por ali, desde as garotas, a noite, a Lua, as estrelas, as ruas, as avenidas, os restaurantes, os bares e as baladas nas boates da moda. As pessoas se afastaram, simplesmente porque falta limpeza, cuidado, higiene, fiscalização, controle e policiamento. O vandalismo corre solto e impune e o poder público não protege o patrimônio - nem público nem privado.

Alertar é um dever de cidadania. Portanto, que assim seja. A cidade precisa da Savassi e a Savassi precisa voltar ao que era – acolhedora, sofisticada, florida, viva, verde, limpa e convidativa.

Abandono total também é o que se constata na Praça do Papa, que convive noite e dia com o mau cheiro repugnante de fezes e urina, além de garrafas vazias, lixo e sujeira, que tornam o ambiente impróprio para lazer ou turismo. O local, que poderia ser de contemplação da cidade e da Serra do Curral, tão somente serve agora para uso e abuso de bêbados e drogados. 

E por falar na Serra do Curral, trata-se de um conjunto de vegetação nativa, flora, fauna, nascentes, parques, trilhas e mirante, numa composição harmoniosa da natureza que, nos últimos anos, vem sendo disputada por empreendimentos imobiliários e mineradoras. Mas a população não está indiferente ao problema e cobra o tombamento da área em nível estadual, e que seja rápido, haja vista o grande interesse comercial que parece contar com a complacência e a inércia da prefeitura de BH e do governo de Minas.   

Se na Serra do Curral os riscos de degradação são iminentes, nas áreas centrais da cidade não é diferente. As ruas e avenidas são recorrentes em casos de vias públicas transformadas em banheiro público, muito em razão da presença de moradores de rua, que ocupam literalmente as calçadas, e fazem o lugar de moradia definitiva. Nem as fontes luminosas escapam, posto que são transformadas em locais de ducha e banho. Assim como a cidade, os moradores de rua estão desvalidos e desamparados, sem a prestação do necessário serviço público adequado. 

A insegurança toma conta da cidade. O medo de assaltos é gradativo. Os serviços sociais da prefeitura não logram êxito e o número de pessoas em situação de rua cresce a cada dia. Falta política pública de qualidade. Mas, o que mais se encontra na capital é omissão, seja da prefeitura ou da Câmara Municipal.

A rigor, são sempre as mesmas respostas evasivas e a mesma conversa mole, permeadas de retórica filosofal. No entanto, a cidade precisa viver e deixar viver, a qualidade de vida é indispensável, o comércio precisa voltar a funcionar regularmente, o consumidor precisa comprar, o povo precisa transitar, a Guarda Municipal precisa atuar e o prefeito e os vereadores precisam trabalhar e justificar seus salários, para que tudo isso se efetive.

A falta de iniciativa do poder público é uma verdade nua, crua e dolorosa. Nada é feito de positivo há quase dois anos. Obras de grande porte, nem pensar. Tudo parado e a cidade minguando. Parece que a população está anestesiada, porquanto as coisas não funcionam e ninguém reclama. A capital está mais feia do que nunca, pois, negligenciaram-lhe a beleza, a limpeza, a iluminação, os cuidados, o vigor do comércio e do empreendedorismo, o serviço público obrigatório e o dever do bem-estar social. E tudo isso somado a uma total insegurança, na contramão da qualidade de vida do cidadão.

À noite, a pouca iluminação, os buracos, o mato e o lixo tornam ainda mais perigosas as ruas de Belo Horizonte. O descaso da prefeitura se junta à incúria da Câmara Municipal, porquanto todos seus erros perfazem a totalidade da gestão negativa municipal. Os equívocos e os descasos contínuos sangram a cidadania. O lamento da população soa forte. A decepção da sociedade é muito grande.

A capital mineira sofre com o descuido das autoridades. Os cidadãos belo-horizontinos padecem de serviços públicos minimamente assertivos e estratégicos. As promessas de campanha do alcaide restam esquecidas no baú do segundo mandato, e perfazem o descumprimento longitudinal das anteriormente assumidas e não realizadas no primeiro. Os mecanismos da burocracia exacerbada e a ausência de transparência fecham o ciclo da arrogante forma de governar um dos maiores municípios do país. Triste escorço histórico.

O prefeito de Belo Horizonte, na sua campanha eleitoral para o primeiro mandato, prometeu em alto e bom som: “A Mata do Planalto é intocável”. Segundo entendimento dele, a administração municipal deve buscar outro local para a construção de empreendimento imobiliário. Disse o prefeito: “A Mata é intocável, por outro lado a prefeitura tem de mediar uma transferência para que essa obra que vai comer quase 35% dessa mata seja feita em outro lugar. É uma mata importante para a cidade, que já está classificada como Mata Atlântica. No século 21, invadir um trecho de Mata Atlântica para construir é inadmissível”. 

O tempo passou, o primeiro mandato do prefeito se foi e o segundo está indo, lento, e ele não cumpriu o prometido. As comunidades estão indignadas. O prefeito fez a promessa, mas até agora não apresentou nenhuma medida oficial para a preservação integral da área verde, rica em flora, fauna e nascentes. A rigor, faço estes comentários porque presenciei sua fala naquela ocasião, de frente para a Mata do Planalto, quando ali estive a convite das entidades e dos moradores, uma vez que é minha a defesa jurídica desse exponencial patrimônio ambiental, há vários anos, por meio de advocacia pro bono, gratuita e solidária, numa justa colaboração com a cidadania e com os interesses da coletividade. 

Foi-se o tempo em que a palavra valia mais do que uma chuva de moedas. Agora, ignoram o apalavrado e só discutem os valores do vil metal. E enquanto isso, o metrô de verdade não chega; os ônibus urbanos continuam lotados e os usuários se espremem; as luzes da cidade queimam e não são trocadas; os postos de saúde atendem precariamente; a vacina, quando tem, é a conta-gotas; as árvores são arrancadas e outras não são plantadas, na mesma proporção; o dinheiro público é mal empregado; o meio ambiente é abandonado e entregue à própria sorte; as medidas de combate à dengue, zika e chikungunya foram esquecidas, porque a pandemia tomou todo o cenário; as ações e omissões públicas se misturam; os administradores públicos se escondem, se calam, e o diálogo com o povo, que já era mínimo, desaparece de vez.

Por tudo isso e por muito mais que aqui não foi possível declarar e postular é que Belo Horizonte, outrora “Cidade Jardim”, chora de vergonha de si mesma.       

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

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Comentários

  1. Fantástico doutor Wilson Campos. Nós de BH agradecemos de coração. Eu moro na região Norte e nossas obras aqui prometidas vão de mal a pior devagar quase parando e as chuvas vão chegar e mais prejuízos vamos ter. Meu Deus!!! Parabéns doutor Wilson mais uma vez por defender nossa querida BH. Abr. Marinês Alves.

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  2. A região centro sul está mais parecendo um alojamento de moradores de rua e falta serviço social como disse o nosso caro Dr. Wilson. E falta a presença do prefeito e dos vereadores nas ruas da cidade para ver o caos e tomar providências, mas de dentro dos gabinetes ou de casa homeoffice não vai ter jeito não. Dr. Wilson o senhor está mais uma vez prestando um grande serviço a BH e a nós todos sendo nossa voz. Valeu muito mestre. Abração do Sodré M.B.

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  3. A mata do planalto é importante para nós e um pulmão da cidade. O Dr. Wilson tantos anos defendo nossa mata para todos e a prefeitura precisa arranjar uma alternativa para ajudar na solução do problema. Nós precisamos da mata e dos seus ricos valores ecológicos. A mata não é apenas do planalto e da região mas de toda BH. OBRIGADA Dr. Wilson Campos pelo seu trabalho maravilhoso e tão dedicado a nossa querida BH. Parabéns!!! At. Nair Souza (professora, moradora e cidadã).

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  4. Felisberto Albuquerque1 de junho de 2021 às 11:33

    A Savassi está deserta. A praça do Papa está suja e fedendo. O centro virou reduto de orador de rua que não tem umasolução de ajuda da prefeitura já a muitos anos. BH está decadente comparada com 30anos atrás. Muito triste e vergonhoso mesmo. Gostei do artigo e da forma firme de defender a nossa cidade que antes era mesmo CIDADE JARDIM mas hoje não é mais. A cidade piorou muito e nem turismo tem porque parece uma cidade abandonada mesmo. Dr. Wilson eu te agradeço por mais esse artigo de cidadania pura e correto e verdadeiro acima de tudo. Abração. Felisberto Albuquerque (comerciante BH).

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  5. Serra do Curral,Mata do Planalto, Pampulha, centro, bairro, tudo jogado as traças como se não tivesse poder público para cuidar conforme manda a lei. Todo mundo em casa recebendo salário e dia e fazendo nada com a sempre desculpa de que não pode porque a pandemia. Tudo é pandemia e a cidade vai transformando em lata de lixo. Morador de rua pra todo lado e causando briga com morador e isso é todo dia e quem mora perto fica com medo. Olha quer saber a coisa tá estranha demais. Dr. Wilson parabéns pelo seu artigo mas com esse povinho na prefeitura a coisa não melhora não. Juntaram o PT e cia na gestão do prefeito e a coisa está parada e nãotem nenhuma obra sendo feita tudo parado,do jeito que a petezada gosta. Salvemos BH. Péricles Silva.

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  6. Parabéns Dr. Wilson Campos , realmente precisamos de pessoas atentas e focadas , que lutem e que façam o melhor por Belo Horizonte . Que não tenham somente títulos de governantes, mas que coloquem em prática seu exercício e façam o melhor pelo seu povo e sua cidade.

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  7. Dr. Wilson o senhor disse a mais pura das verdades porque nossa querida BH esta como um jardim sem poda sem flores sem verde sem vida, e cheio de mato lixo sujeira, e onde não atrai atenção de ninguém. Nossa cidade não tem turistas porque aqui não promovem nada. A Prefeitura e a Câmara dos Vereadores só serve para gastar dinheiro público com coisas que não acrescentam nada a cidade. Tem morador de ruas pra todo lado e estão cada dia mais sem educação e fazendo xixi e cocô até nas portas das casas `a noite. Isso mesmo a noite a cidade está muito escura porque a iluminação pública é péssima e o prefeito acha porque mora na zona sul nãotem de se ligar nos problemas das zona leste, nordeste, etc.
    Enfim a cidade está mesmo suja e desorganizada e cada dia que passa fica pior. E tem a segurança que também está horrível, o trânsito piorou muito, as portas das lojas pichadas por vandalos delinquentes, e a bhtrans não cuiida do trânsito nada e a guarda municipal nada faz para fiscalizar as ruas as ´praças os bairros. |Eta gente ruim de serviço meu DEUS. Quando será que vamos eleger alguém que sabe governar e organizar a nossa BH??Dr. Wilson podia ser o senhor essa pessoa - obrigada por defender tanto a nossa amada BH. Parabéns. Att: Moema Silvestrini.

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  8. Meu prezado e dileto dr. Wilson Campos se me permite eu endosso tudo que o senhor escreveu e digo que temos que aprender a votar mesmo como disse o Pelé. Mas eu concordo com tudo dito e com os comentários dos leitores. Tudo de acordo e ccorreto. Parabéns e abraço. Fernando Botelho.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Assino junto.

    O despreparo, politicagem e o populismo, outrora alinhado ao futebol, agora na política, são patentes.

    Raros colaboradores diretos, são oasis na árida "administração". Não citarei nomes.

    Por ventura alguém tem visto, notado a presença da guarda municipal pela cidade?! A sua função primeira não seria promover a segurança, a integridade do patrimônio público e de seus frequentadores/usuários?! Sei que estão concorrentes com a Polícia Militar.

    A praça do Papa há muito está largada, mesmo sendo um dos melhores endereços de BH, onde os turistas frequentam. Próxima do Parque das Mangabeiras, Palácio do Governo Estadual, a Serra do curral. Uma vista única da cidade.

    A praça da Savassi, o quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, a praça da Rodoviária, estão como banheiro a céu aberto, porém temos que sermos justos, isto não é de hoje, porém não retira a obrigação da PBH em intervir qualitativamente. Estes espaços requerem apenas atenção e cuidado e estas matérias primas estão em falta nesta "administração".

    Onde temos lugares cuidados e maravilhosos?!

    Tenho dois exemplos:

    Praça Floriano Peixoto, está cuidada pela Unimed.

    Praça da Liberdade, cuidada, se não me engano, pela MRV.

    A gestão privada é milhões de vezes mais eficiente e barata ou menos cara.

    Enfim, gosto do jeito Zema de governar e gosto das pautas do governo federal. Outros tiveram a oportunidade para mostrarem do que eram capazes e nós testemunhamos.

    Parabéns Dr. Wilson.

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  11. Governantes preguiçosos e gastadores consigo do dinheiro público. Bando de sanguessugas e sem competência.
    Dr. Wilson Campos esses prefeito e secretários são a esculhamba do pior que existe. Fora!! Muito bom Dr Wilson e seja assim defensor do nosso povo. Abrs. N. D.

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